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Nietzsche e o gênio


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 14/03/2024
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Em “Schopenhauer como educador”, obra de Friedrich Nietzsche de 1874, há um estudo visceral sobre a personalidade de Arthur Schopenhauer, mais até do que da sua filosofia. Se Nietzsche vê Schopenhauer como um educador genuíno é por causa da sua força enquanto homem, alguém capaz de ensinar mais pelo exemplo do que pela fala e pela palavra.

Apesar de Nietzsche ter conhecido Schopenhauer apenas após a morte deste, há uma convergência entre os dois, a ponto de que o primeiro se entrega ao segundo para ser educado. Tal entrega, porém, não é passiva, pelo contrário, a ponto de que Nietzsche dirá em uma obra de 1888, “Ecce homo”: “‘Schopenhauer como educador’ está inscrita minha história mais íntima, meu vir a ser. Sobretudo meu compromisso!...” (NIETZSCHE, 2009, p. 68).

Feita a apresentação do que trata a obra de 1874, cabe trazer agora um interessante aspecto: a forma com que o gênio e o escritor Schopenhauer é tratado por Nietzsche. Soa quase um clichê, mas Schopenhauer não recebeu reconhecimento em vida e seus escritos se tornaram marginais diante dos de Georg Friedrich Hegel, outro gigante da filosofia e contemporâneo do “educador” de Nietzsche. Tal fato fez com que Schopenhauer, não raro, exalasse ressentimentos contra o Estado e contra a filosofia universitária, como se observa no livro de Schopenhauer chamado “Sobre a filosofia universitária”, de 1851.

Pelo parágrafo anterior se percebe que um gênio do quilate de Schopenhauer, hoje aclamado, não teve das vidas mais célebres. Leitores? Poucos, pouquíssimos. Atento a isso, Nietzsche alertará para os riscos que é colocar um gênio de lado na sociedade – às vezes, e isso eu que acrescento, não precisa ser um gênio. Ao ser margeada, a pessoa poderá cada vez mais se isolar, se interiorizar, até o ponto, quem sabe, de explodir (fúria) ou implodir (suicídio). Para exemplificar sua argumentação, Nietzsche dá o exemplo de Heinrich von Kleist, escritor que nasceu em 1777 e se suicidou em 1811, absolutamente marginalizado. Nesse mesmo horizonte, Friedrich Höderlin foi outro escritor alemão que terminou os dias isolado.

Engana-se, portanto, quem defende que os gênios são figuras que vivem bem contra tudo e apesar de tudo. Tal ideia é equivocada, basta serem observados os exemplos trazidos por Nietzsche. O desamor é fruto de grandes perecimentos.

Friedrich Wilhelm Nietzsche. Ecce Homo. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

_____________________. Schopenhauer como educador: considerações extemporâneas, 3ª parte. São Paulo: Mundaréu, 2018.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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