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Preparação de aulas


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 03/11/2022
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Quando comecei a lecionar enquanto professor efetivo, aos 22 anos, fui surpreendido com uma carga horária de 32 aulas semanais. Eu trabalhava do sétimo ano até a terceira série do ensino médio. Para um recém-formado tratava-se de um trabalho exaustivo, tanto pela inexperiência física, quanto pela exigência de muitos conteúdos. Para contornar essa difícil situação, eu tinha como ajuda alguns livros lidos na graduação, mas me apeguei especialmente a livros didáticos e videoaulas. Eu anotava tudo o que poderia me servir de suporte para lecionar, e tudo era guardado em pastas, aquele monte de folhas de sulfite sobre Egito, Brasil Colônia, II Guerra, Aristóteles, Platão, Descartes, Weber, que até hoje eu tenho.

         Para a minha sorte, aos poucos as aulas foram reduzindo de quantidade, o que me gerou um tempo maior para preparar as disciplinas, ou seja, houve mais qualidade no trabalho. Então, minhas aulas não se davam mais essencialmente por meio de livros didáticos e videoaulas, mas também sob o auxílio de filmes e documentários. Tudo eu anotava, para que tivesse, além do suporte do livro didático, o meu próprio material para lecionar, que seria o mais próximo possível do meu estilo.

         Eu gosto de escrever em primeira pessoa porque os meus textos são essencialmente mensageiros dos meus sentimentos. Mesmo quando escrevo em terceira pessoa não deixa de ter certa subjetividade na objetividade. Não se trata, porém, de uma apologia ao relativismo, pois isso flerta com o vazio, com a ausência de conteúdo, com o “tudo pode”.

         É costume dizer que a docência é um trabalho essencialmente intelectual, o que em parte é correto, no entanto, há muito de físico, de manual nessa profissão. Ficar horas e horas de pé, ficar encurvado em uma escrivaninha, escrever muito e incessantemente, são situações que podem levar a uma série de desgastes físicos. A dicotomia trabalho intelectual versus trabalho manual é muito problemática e se torna nevrálgica sob várias perspectivas de análise, como no caso sobre o magistério.

         Enfim, as “folhinhas” iniciais das minhas aulas, com uma ou duas páginas, aos poucos se converteram em três, quatro, cinco laudas. Os exemplos iam aumentando, e até hoje continuam a aumentar, seja por meio de leituras e filmes, seja através de viagens. Eu tinha (e tenho) noção de que o professor não era capaz de “inventar a roda” toda vez que fosse lecionar, lendo e relendo toda vez, então, o que eu fazia certamente seria aproveitado no ano seguinte, com mais e mais complementos. No início da docência eu tinha um medo terrível de gaguejar e ficar sem conteúdo, mas hoje, esse medo, ainda que volta e meia reapareça, diminuiu, e isso se deve em parte porque as “folhinhas” (ou “folhas”) estão sempre comigo.

         Costumo dizer aos meus alunos da licenciatura em Química do IFPR que eles devem sempre que possível ter as aulas de antemão preparadas, porque diante da comum falta de tempo e de eventualidades, eles não serão de todo pegos de surpresa. Não há problema nenhum consultar materiais de outras aulas e até de outros anos, mas o que não pode, isso sim não pode, é um professor parar no tempo.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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