Parte 1 – Roberto Gómez Bolaños (“Chaves”), vida e obra
Um dos artistas que mais admiro é Roberto Mario Gómez y Bolaños, o mexicano criador de personagens como Chaves e Chapolin, os mais conhecidos entre os brasileiros. Ele teve uma extensa carreira, que foi desde trabalhos publicitários a criações de filmes, como “El Chanfle”, e que se estendeu por décadas.
Admito que escrever sobre Bolaños é emocionante, pois estarei diante do criador de um dos personagens que mais me fez e faz rir e que mais nostalgia me traz. Para ser o mais claro e didático possível, iniciarei a sequência de textos, três ao todo, da seguinte maneira:
1ª Parte: uma nota biográfica feita pelo Fórum Chaves, presente no livro “O diário do Chaves”, pois assim o leitor poderá ter um panorama da vida e da obra daquele que é também chamado de Chespirito;
2ª Parte: comentários sobre o livro de memórias “Sem querer querendo”;
3ª Parte: comentários sobre “O diário do Chaves”. Assim, consigo fazer o movimento do geral para o específico.
A partir do segundo texto colocarei imagens tiradas por mim a partir de “Chaves A Exposição”, que ocorreu no Museu de Imagem e Som (MIS), em São Paulo, no ano de 2024, o que permitirá ao leitor, além de encontrar várias informações, ter uma experiência ampliada com um universo tão especial.
Biografia de Roberto Gómez Bolaños – Fórum Chaves
Roberto Mario Gómez y Bolaños nasceu em um 21 de fevereiro de 1929, na Cidade do México. Filho da secretária bilingue Elsa Bolaños Cacho e do pintor Francisco Gómez Linares, teve dois irmãos: Francisco (também chamado de Paco), o mais velho, e Horacio, o caçula, que posteriormente faria presença também nas telas ao lado do futuro escritor e comediante.
Em sua infância e adolescência na Colônia del Valle, no Distrito Federal mexicano, aventurou-se no futebol, na equipe Marte, e tentou até o boxe. Enquanto isso, sua mãe Elsa fazia o possível para prover o sustento da família, após a morte prematura de seu marido, vítima de uma vida de excessos, quando Roberto tinha apenas seis anos. O filho do meio decidiu estudar Engenharia, mas entre cálculos e regras, seu pendor era mesmo a escrita, algo que já havia praticado brevemente em informativos de seu grupo de amigos, Los Aracuanes.
Atendendo a um anúncio que pedia produtores de TV para a agência de publicidade D’Arcy, ele desistiu ao ver a longa fila de competidores pela vaga, mas entrou em outra para o cargo de redator publicitário. Essa decisão se mostraria fortuita e, em 1952, sua vida mudaria para sempre. De anúncios para rádio, logo escreveria os roteiros da famosa dupla Viruta e Capulina para as ondas sonoras. Em poucos anos, passaria a escrever também para a televisão e cinema, avançando graças à sua genialidade na escrita.
Atuar nunca esteve em seus planos; a oportunidade surgiu ao acaso, quando um ator faltou às gravações do programa “Cómicos y canciones”. Por ter escrito o roteiro e conhecer a história, acabou escalado. E de pequenos papéis, chegaria à sua primeira produção na qual era a estrela: “El Ciudadano Gómez”, no final dos anos 1960, no então Canal 8. Em 1970, cria o quadro “Los Supergenios da Mesa Cuadrada”, dentro do programa “Sábados de la Fortuna”. Ali, surgiriam personagens que permaneceriam para sempre nas telas, como o Dr. Chapatin (interpretado por ele) e o Professor Girafales.
A mesa ganha mais espaço e passa a exigir também outros esquetes de Chespirito. Ali surgem o Chapolin Colorado, em 1970 e, em 1972, o Chaves – que nasce também ao acaso, após reaproveitar um quadro feito poucas semanas antes para suprir a ausência de “Los Chifladitos”, no qual dividia cena com Rubén Aguirre, que havia ido para outro canal. O herói e o garoto ganhariam suas próprias séries em 1973, partes fundamentais da programação do recém-criado canal Televisa.
Durante 25 anos, Roberto permaneceu nas telas do México e disseminou sua obra ao redor da América Latina, Estados Unidos e muitos outros países, que conheceriam Quico, Seu Madruga, Chiquinha e toda a turma. Suas turnês pelo continente arrastaram multidões apaixonadas pelos personagens. Na vida particular, então casado com Graciela Fernández, teve seis filhos: Graciela, Teresa, Marcela, Cecília, Roberto e Paulina. No final dos anos 1970, se separa e começa um relacionamento com Florinda Meza, colega de cena como Dona Florinda.
Em sua prolífica carreira, fez sucesso no teatro, com obras como “Títere” e “11 y 12”, foi compositor, diretor de cinemas e novelas, além de escritor, com três obras publicadas. Entre os anos 1980 e 1990, comandaria o programa “Chespirito”, do qual se despediu em 25 de setembro de 1995, encerrando mis de duas décadas de sucesso na televisão.
Reconhecido como um dos maiores nomes da cultura da América Latina, seguiu trabalhando por mais muitos anos, dirigindo a unidade de cinema da Televisa e, nos anos 2000, supervisionando a versão animada de “Chaves”, lançada em 2006. No ano de 2004, formalizou seu casamento com Florinda Meza, com quem viveu até o último dia de sua vida.
Debilitado após os efeitos de cirurgias na próstata, em 2009 e 2010, mudou-se com a esposa para Cancún, ao nível do mar. Em 2012, receberia uma grande homenagem da Televisa, no evento “América Celebra a Chespirito”, que uniu boa parte dos países do continente. Falecido em 28 de novembro de 2014, vítima de um ataque cardíaco, ele foi sepultado no Panteón Francés, na Cidade do México.
Referências
Roberto Gómez Bolaños. O diário do Chaves. Trad. de Fabiana Camargo. São Paulo: Pipoca & Nanquim, 2021.
Fórum Chaves (de onde foram tiradas, também, as fotos 1, 2 e 5): https://www.forumchaves.com.br/
Canal Vila do Chaves: https://www.youtube.com/@CanalViladoChaves
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.