Altamiro Carrilho
Tenho um gosto especial por jazz, samba raiz e a dita música clássica. Dentre os grandes músicos brasileiros, Altamiro Carrilho tem um lugar de honra. Lembro-me de uma entrevista que ele concedeu ao Jô Soares e que, em tom de lamento, disse que em certo momento da vida precisou vender as flautas para poder se sustentar. O instrumento físico lhe renderia mais do que todo o seu talento colossal. Trágico.
Mas, felizmente, Altamiro continuou a tocar e tocou até os seus últimos dias. Fico maravilhado ao ouvi-lo imitar uma máquina de escrever ou transformar a Badinerie, de Bach, em uma brincadeira com samba. A qualidade do sopro de Altamiro me espanta, até porque eu, flautista dos mais amadores, sei do trabalho que é dominar a respiração neste instrumento (na verdade, em todos instrumentos de sopro a respiração é exigente).
Agora, uma tristeza: apesar do meu apreço por Altamiro Carrilho, nunca coloquei uma só música de sua autoria em minhas aulas. Por quê? Não sei dizer. Talvez porque eu me prendi ao currículo formal. Uma pena. Meus alunos perderam um grande aprendizado: teriam desenvolvido melhor os sentidos do que com o monte de palavras que eu já disse sem muita necessidade. Enfim, eis algo que vou reconsiderar: Altamiro fará parte do meu dia a dia docente daqui para sempre.