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O papel de “passarão”


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 12/06/2025
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Certa vez eu trouxe ao IFPR um estadunidense doutor em teologia, autor de vários livros sobre o criacionismo, para expor as suas ideias. O meu princípio era um só: curiosidade para ouvir algo tão diferente do universo universitário (ao menos o do brasileiro). Ninguém foi intimado a participar, as passagens do palestrante não foram pagas nem pelo Instituto e nem por nenhum órgão estatal, e o teólogo, com um breve espaço na agenda, se dispôs a falar sobre criacionismo. Além do referido tema, a palestra seria em inglês com tradução simultânea, o que serviria aos meus alunos e a quem quisesse praticar o idioma. Não é das coisas mais comuns algo assim em Paranavaí. Muitas pessoas participaram, cerca de duzentas.

Logo quando terminou o evento, comecei a ouvir críticas de que levei religião para uma instituição pública de ensino, de que eu, historiador, coloquei alguém para falar sobre um assunto próprio de biólogos. Chegaram a dizer: “e se levássemos alguém que negasse o holocausto para você ouvir?”. Eu certamente ouviria e contestaria, talvez até mostrando fotos da minha viagem à Auschwitz. Enfim, as acusações ficaram cada vez mais graves a ponto de que a internet se tornou um palco de ódio contra mim. Paciência. O meu princípio é o de ouvir todos os posicionamentos, desde que não sejam criminosos, e se há um lugar para tal princípio se efetivar é na universidade. Se alguém discorda do criacionismo, sem problemas, ouça a argumentação e depois a conteste.

Outra vez, fiz uma série de lives com pessoas reconhecidas pela comunidade acadêmica enquanto cientistas, até cientistas consagrados. Dentre estes havia inclusive um ou outro com posturas dogmáticas, que chegavam a dizer categoricamente o que era e o que não era ciência. Dentre o que não era ciência estaria o criacionismo. As minhas lives começaram com boa participação, com cerca de cem ouvintes, e terminaram com média de quarenta.

O interessante é que os que me criticaram por ter trazido um teólogo, depois não foram coerentes, me elogiando, por ter trazido cientistas ao debate. Na verdade, a maior parte dos que me criticaram da primeira vez – sem sequer terem assistido à palestra -, não assistiram nem uma única live. O papel de tais pessoas é simplesmente falar mal do que elas não fazem. Quanto a isso, sempre é válido lembrar os versos de Mário Quintana:

 

Todos esses que aí estão

Atravacando meu caminho,

Eles passarão...

Eu passarinho.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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