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Os 07 de Chicago


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 05/11/2020
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No momento do fechamento dessa Coluna a eleição americana de 2020 ainda não terminou a contagem dos votos e os olhos do mundo se voltam num momento de tensão para saber quem será o homem mais poderoso do mundo nos próximos quatro anos. Isso me inspira a comentar essa semana sobre um filme recentemente lançado na Netflix, baseado em fatos e que aborda um clima de tensão envolvendo o pleito eleitoral americano que pode se encaixar muito bem nessa atmosfera pesada pela qual o mundo está passando por esses dias. Os 7 de Chicago é um drama impactante que, com certeza, vale a pena ser visto. Sobre ele, você fica muito bem informado essa semana.

É impossível comentar sobre esse filme e não começar falando sobre seu roteiro e direção, pois ambos estiveram a cargo de Aaron Sorkin, que tem em seu currículo de roteirista filmes que foram verdadeiros sucessos de público e crítica, como, por exemplo, A Rede Social, dirigido por David Fincher, mas roteirizado por ele. Os 7 de Chicago é apenas seu segundo filme como diretor (o primeiro foi A Grande Jogada, de 2017), mas nem por isso ele entrega um trabalho menor, pelo contrário, apresenta uma obra excepcional e mostra que tem competência para ser muito mais do que apenas um roteirista premiado.

Sorkin entrega uma obra de arte em vários aspectos, mas sem dúvida o trabalho de montagem realizado no filme chama a atenção. A maneira como mesclou cenas reais com outras gravadas exclusivamente para o longa, ou mesmo a apresentação dos protagonistas da trama, de forma muito didática, chamam a atenção nesse quesito. Ao trabalhar com uma história real, ele se apropria do que é mais valioso para seus protagonistas, a motivação. Sorkin apresenta isso ao público junto com os personagens e faz com que o expectador tome partido, assumindo para si grande parte da motivação que é particular de cada personagem.

O roteiro é um primor, traz emoção, violência e revolta na medida certa. Mesmo tendo tomado certas liberdades artísticas, o que se apresenta ainda é algo muito real, palpável e atual (mesmo que a história tenha ocorrido no final dos anos 1960). A meu ver, este é claramente um dos grandes concorrentes ao Oscar de Melhor Roteiro no ano que vem, tomara que a pandemia e o esquecimento não se tornem empecilho para que Os 7 de Chicago receba pelo menos uma indicação.

Se a direção, o trabalho técnico e o roteiro são excepcionais, ninguém poderia esperar menos do elenco, que é formado por uma constelação de estrelas de Hollywood. Dentre elas é possível destacar nomes como Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, Yahya Abdul-Mateen II e Mark Rylance. Isso sem falar nas participações de Michael Keaton e Joseph Gordon-Levitt que abrilhantam ainda mais a trama. Cada um desses atores entregam personagens extremamente humanas, contraditórias e compostas por personalidades distintas que, muitas vezes, se chocam entre si, entregando muita verdade em suas atuações. As cenas de tribunal (pelo menos a metade do filme acontece dentro de um) são muito realistas e impressionam principalmente porque os atores constroem um forte clima de tensão que, somado ao esmero técnico de Sorkin, possibilitam ao público uma obra prima. Vamos à trama!

Baseado em uma história real, Os 7 de Chicago acompanha uma manifestação pacífica contra a guerra do Vietnã que interrompeu o congresso do partido Democrata em 1968 e acabou saindo do controle. Durante ela ocorreram diversos confrontos entre a polícia e os participantes. No total, dezesseis pessoas foram indiciadas pelo ato.

O filme fala sobre coragem, sobre militância, sobre tomar partido, mas traz também as suas consequências e a forma como o mundo pode ser cruel e injusto. O contexto da Guerra do Vietnã emoldura muito bem a urgência dos temas trabalhados ao longo da história, tais como política, opressão ou até mesmo o racismo. Com um didatismo bem controlado e flashbacks que ajudam a compreender a trama complexa o filme não perde nada em ritmo e tensão ao longo de mais de duas horas de trama.

Por que ver esse filme? Porque Os 7 de Chicago tem um leve tom político que explora as mazelas da sociedade de forma bruta, mas muito eficaz. Além disso, mesmo sendo um drama de época, o filme se constrói de forma atemporal, permitindo ao expectador um balanço sobre o quanto do que está contido ali ainda pode ser encontrado na sociedade de hoje. Por fim, porque é um drama de primeira, repleto de boas atuações e um trabalho técnico bastante competente. Aproveite que ele está disponível na Netflix e assista no conforto do seu lar. Boa sessão.

 Por Odailson Volpe de Abreu

Odailson Volpe de Abreu


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