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O Ser Humano, a Finitude e a Inexorabilidade da Morte


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 09/11/2021
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Um ponto inevitável da existência humana é nossa condição de seres que morrem e cientes desta situação, passamos a tomar consciência de que somos seres de finitude, o que nos leva comumente a refletir em como será após a morte ou se existirá vida após esta existência. Essa é uma situação comum a todos nós seres humanos e a nossa finitude nos assusta, tornando o temor à morte ou pelo menos a ideia de morrer, algo que nos faz buscar a negação de sua inexorabilidade. Desta forma, construímos uma concepção da morte, de acordo com as nossas experiências, a partir de influências culturais, filosóficas e religiosas.

Historicamente as concepções e experiências com a morte variaram e variam. No século XII, no Ocidente a morte era considerada totalmente comum à espécie humana e as pessoas eram avisadas por meio de signos naturais. Segundo o historiador Philliphe Ariès: “Não se tinha medo de morrer; ao contrário disso, as pessoas tinham temor de não serem advertidas a tempo. Nesse período, não existiam tantas expressões de tristeza e lamentações; a morte era naturalmente aceita como uma fase do desenvolvimento e os sentimentos eram evocados de forma discreta. Havia aqueles que aproveitavam o momento para pedir perdão, assinar testamentos, dentre outros comportamentos” (ARIÈS, 2012).  Havia o temor de não se preparar a tempo para o após a morte, visando sair desta existência de modo espiritualmente mais purificado e aprontando-se para o julgamento divino. Com isso, a morte vai dando espaço para uma preocupação individual em que o indivíduo faz uma avaliação das suas ações na crença de que haverá um julgamento de toda sua biografia que determinará sua sorte na eternidade. Sua finitude passa a ser avaliada segundo suas ações, seus pecados e a busca pela redenção, antes e diante do fato consumado de que morrerá. Sua existência possui um prazo de validade, pelo menos neste plano mais físico. Interessante como atesta o Ariès: “O homem visualiza a morte como algo peculiar, como a “morte de si mesmo”. Essa consciência trouxe consigo dramaticidade e a emoção, levando o ser humano a ter um apego maior às coisas da vida” (ARIÈS, 2012). Mesmo conhecendo a existência de um ciclo natural próprio de nossa existência, pensar ou falar sobre a morte ainda é algo que gera angústia, tristeza e medos. Nossa finitude e a inexorabilidade da morte nos assustam de tal modo, que contemporaneamente, buscamos “prolongar a vida” e “enganar a morte”, seja por meio de excessivo consumismo, a busca de posses ou por meio de um intenso esforço técnico-científico de promover uma extensa longevidade. 

Assim sendo, dialogar sobre a inexorabilidade da morte e nossa condição de finitude, sempre se demonstrou um afrontamento na sociedade ocidental. porém, no cenário atual o estigma ou vergonha de morrer só tem aumentado. Isso ocorre por meio das crenças que visam ao seu silenciamento, ou seja, não se permitindo falar ou experenciar a morte. Nesta tentativa de interditá-la, busca-se por uma infinitude da vida e a felicidade constante. Infelizmente, deveríamos aproveitar esta condição para refletir e objetivar sempre olhar para nós mesmos e lidarmos com o fato de que devemos nos esforçar para experenciar uma vida plena de valores e ações positivas, cientes de que morrer é um fato inevitável e que podemos morrer a qualquer momento. Em qualquer estágio da nossa existência. Além disso, penso que deveríamos utilizar desta experiência para verificar que estar morto em vida é o que deveria realmente nos causar mais medo.

ARIÈS, P. História da morte no ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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