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O propósito do Evangelho


Por: Fernando Razente
Data: 26/12/2022
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Romanos 1.16c (ARA): “[...] para a salvação”

No último texto desta exposição de Romanos abordei a segunda parte do versículo 16 do capítulo 1, onde Paulo declarou a natureza do evangelho[1] como sendo o “poder” de Deus. Hoje, veremos o propósito do evangelho a partir da terceira parte do versículo 16.

Paulo começa este trecho com a preposição “[...] para a”. Ou seja, o que ele disse anteriormente sobre o fato de que o evangelho é o poder (dynamis) de Deus está conectado com o seu “para”: seu objetivo, sua orientação ou sentido. E qual é o objetivo, orientação e sentido do poder de Deus? A resposta é: “[...] salvação”. É “para a salvação” do homem e a glória de Deus que o evangelho existe.

Isto posto, agora vem a nossa pergunta principal: o que é a salvação? O termo grego que Paulo usa aqui para salvação é σωτηρ?αν (sot?rian), um termo amplo, um conceito guarda-chuva, que sinaliza atos graciosos e salvíficos de Deus para com o homem pecador como libertação, preservação e segurança da alma perdida.

É importante notar essa amplitude e abrangência do termo grego, pois é comum que nós, ao falarmos de salvação, expressemos uma compreensão reducionista. Por exemplo: a salvação significa que Deus nos livra do inferno. Claro, não há nada de errado em dizer isso, mas a salvação é mais do que isso e reduzi-la a essa definição é um equívoco.

Tendo em mente que o termo “salvação” faz referência a uma amplidão de atos divinos de libertação, preservação e segurança da alma, como podemos sistematizá-los para uma melhor compreensão? Se essa salvação da qual Paulo fala é abrangente, o que ela exatamente abrange? Comentando Romanos 1.16, o teólogo Francis Schaeffer (1912-1984) escreveu: “Ora, a palavra ‘salvação’ aqui não é justificação. A palavra ‘salvação’ abrange o todo: justificação, santificação e glorificação.”[2]

Note estes três termos que Schaeffer utiliza para expressar o todo da salvação: justificação, santificação e glorificação. Em Teologia, estes termos fazem referência aos atos salvíficos de Deus em cada momento da existência humana: passado (justificação), presente (santificação) e futuro (glorificação). Vejamos como isso se dá.

No passado do homem estão os seus pecados, que são dignos de juízo divino e condenação eterna. Porém, quando aceito Cristo como meu Salvador pela fé, os meus pecados já estão punidos em Cristo na cruz em seu sacrifício substitutivo, expiatório e propiciatório, de modo que Deus, com base na minha fé na obra de Cristo, me declara verdadeira e definitivamente justificado quanto à minha culpa (falaremos mais detalhadamente sobre a justificação nos próximos artigos). Por isso, para o que crê, a justificação é passada.

No presente, a salvação se revela na santificação, ou seja, no nosso relacionamento presente com esse Salvador e Senhor. A santificação fala da graça de Deus no tratamento para com o poder e a presença do pecado na vida presente do cristão justificado. Por meio da vida e morte de Jesus, o crente recebe liberdade das amarras e da culpa do pecado (justificação), porém ainda se vê diante das pressões do pecado externo e dos resquícios do velho homem dentro de si.

Por isso, por meio de Cristo o crente tem, pela ação do Espírito Santo através da Palavra, a preservação da alma na luta contra o velho eu e a separação de si do mundo pecador para a comunhão com o Salvador. Mas ainda não é o fim, e a salvação não acaba por aqui. Temos ainda, por meio de Cristo, um efeito futuro da salvação.

No futuro, quando Cristo retornar, haverá ressurreição real do corpo e adentraremos na eternidade em plenitude de santidade. O pecado cessará, a luta interna e externa chegará ao fim, e seremos revestidos de uma existência incorruptível à semelhança de nosso Salvador. Seremos glorificados e totalmente livres da culpa, do poder, da presença e dos efeitos do pecado na vida eterna. Essa é a glorificação.

A salvação, portanto, é esse maravilhoso conjunto de atos graciosos de Deus na vida do pecador. Como sintetizou o já citado Schaeffer: “A salvação é uma unidade, uma corrente que flui da justificação através da santificação até a glorificação”[3]. É para isso que o evangelho existe, para nos dar plena e ampla salvação.

Na semana que vem, se Deus permitir, veremos sobre a extensão do evangelho.

Até a próxima.

Que Deus te abençoe!



[1]https://jornalnoroeste.com/pagina/colunas/a-natureza-do-evangelho?fbclid=IwAR2sbkla1O8T01GObiEIosL08Aw0A-6ytKfRNDsnbDetA8WgepdwP3hy9so

[2]SCHAEFFER, Francis. Verdadeira Espiritualidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2021. p. 81.

[3]Ibidem, p. 80.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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