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O justo viverá por fé


Por: Fernando Razente
Data: 06/02/2023
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Romanos 1.17(c): “[...] como está escrito: O justo viverá por fé.”

 Na semana passada analisei a parte “b” do versículo 17, onde Paulo demonstra que a fé que salva é algo dinâmico e ininterrupto. O todo da salvação começa, se desenvolve e termina com a fé. Nossa espiritualidade é de fé em fé, ou seja, de momento-a-momento baseados na obra consumada de Cristo.[1]

Hoje, pretendo abordar a terceira e última parte do versículo 17, a parte “c”, trabalhando a citação que Paulo faz de uma passagem do Antigo Testamento para dar autoridade e legitimidade ao seu argumento: “[...] como está escrito: O justo viverá por fé.” (Rm 1.17c).

Comecemos pela seguinte questão: que passagem é essa? Trata-se de um texto de autoria do profeta menor Habacuque (aprox. 609 a.C.), que pode ser encontrado no capítulo 2, verso 4 no AT: “[...] mas o justo viverá pela sua fé.”

Segundo o comentarista bíblico Craig S. Keener, as versões hebraicas e grega de Habacuque 2.4 diferem em um pronome, o qual Paulo omite, pois o detalhe em questão é, de todo modo, irrelevante para o seu argumento.[2]

Qual argumento? No contexto de Habacuque 2.4 os justos são os que sobreviverão ao juízo porque têm fé e são fiéis a Deus. Paulo, ao que tudo indica, aplica esse texto aos que confiam em Cristo e em sua justiça e, portanto, são salvos do juízo final.

Não se trata — como muitos eruditos acreditam — de uma transposição de sentidos no texto paulino, pois o que se preserva de doutrina em Habacuque é precisamente aquilo que Paulo pretende usar: que aquele que pela fé foi tornado justo viverá eternamente e será salvo da condenação.[3]

Na aplicação paulina, a fé está sendo posta na justiça de Deus que está em Jesus Cristo para a vida eterna. Conforme MacArthur observou, embora “[...] esses usos diferentes possam indicar um conflito interpretativo, esse não é o caso. Todas as referências do NT apontam para além do ato de fé e incluem a continuidade desta.”[4]

Ou seja, que enquanto se possa dizer que a fé no contexto de Habacuque preservou os fiéis de um juízo histórico e específico, é possível dizer também — como Paulo faz aqui — que a fé (e consequentemente a fidelidade a Deus) vai além e nos preserva também do juízo final, encaminhando-nos para a vida eterna.

Por isso, é possível concordar com aquilo que o teólogo F. F. Bruce escreveu a respeito disso: “Os termos do oráculo de Habacuque são suficientemente generalizados para dar lugar à aplicação que Paulo faz deles — uma aplicação que, longe de violentar a permanente intenção do profeta, expressa a constante validade desta mensagem.”[5]

Concluindo, aprendemos com essa parte “c” de Romanos 1.17, que Paulo “[...] pela autoridade do profeta Habacuque prova a justiça da fé; pois ele, predizendo a derrubada dos orgulhosos, acrescenta isto: que a vida dos justos consiste na fé”, conforme Calvino.

Além disso, Calvino ainda observa que pelo fato do verbo viver [ζ?σεται] estar no futuro no texto sagrado, o que temos é o ensino da “[...] perpetuidade real daquela vida da qual ele [Paulo] fala; como se ele tivesse dito que não seria momentâneo, mas continuaria para sempre.”[6]

Em outras palavras, o pecador é declarado justo diante de Deus porque tem fé em Cristo, e essa fé é o que lhe conduz a vida, mas não apenas a uma vida momentânea, mas uma vida perpétua, uma preservação eterna da alma, que embora comece aqui e agora, redundará em comunhão imortal com o Deus Triúno, pois que por meio da fé em Cristo já passamos pelo juízo final.

Aliás, como Jesus mesmo nos prometeu: “Quem crê no filho tem a vida eterna”, mas também alertou: “[...] o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36).

Você crê no Filho de Deus? Você o tem como seu Salvador e Senhor? Ou ainda se mantém rebelde?

Na semana que vem, se Deus permitir, daremos início a exposição de uma nova seção de Romanos, onde Paulo trata da idolatria e depravação dos homens (Rm 1.18-32).

Até a próxima. Deus te abençoe!

 



[1]“O ‘como’ da vida cristã, é o poder do Senhor crucificado e ressurreto, pela ação do Espírito Santo que, pela fé, habita nosso interior de-momento-em-momento.” (SCHAEFFER, Francis. Verdadeira Espiritualidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2021. p. 85).

[2]KEENER, Craig. S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2017. p. 509.

[3]NICODEMUS, Augustus. O Poder de Deus para a Salvação. São Paulo: Vida Nova, 2019. p. 61.

[4] MACARTHUR, John. Manual Bíblico MacArthur: Gênesis à Apocalipse. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019. p. 300.

[5] BRUCE, p. 77. Citado por STOTT, John. A mensagem de Romanos. São Paulo: ABU Editora, 2007. p. 70.

[6]CALVINO, João. Romanos, p. 68.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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