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O Estado de Guerra no cotidiano das Comunidades


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 15/08/2023
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Ao iniciar esta nova troca de ideias, preciso agradecer ao amigo Cacá, por sua contribuição para discussão sobre um tema tão importante do ponto de vista, social, ético, político e econômico, que diz respeito a uma sociedade desejosa de fato em se tornar cada vez mais consolidada em valores como justiça, solidariedade, respeito a diversidade e a alteridade, a promoção da equidade e reconhecimento da vida humana. Ressalto que Cacá é morador de uma comunidade afetada intensamente por este estado de guerra, na cidade do Rio de Janeiro. Sendo assim, sua contribuição para a reflexão desta nova troca de ideias foi essencial.

         Inquestionavelmente, o panorama de grandes cidades como a do Rio de Janeiro, apresenta em comum um estado de guerra quotidiano, que afeta a vida principalmente das populações das assim denominadas comunidades. Um estado de guerra onde cada indivíduo encontra-se encurralado por um lado por facções criminosas que traficam drogas e impõe uma ordem de terror no dia-a-dia das comunidades. Por outro lado, as forças ditas de segurança do Estado, que também estabelecem medidas de intensamente bélicas e repressoras, impondo uma forma de terror oficial em nome do combate ao crime. Em uma guerra há sempre violação de corpos e de direitos.  No estado de guerra cotidiano que afeta as comunidades, as violações e mortes acontecem enquanto realidades e ameaças diários que se tornam até comuns.

Neste ambiente de guerra naturalizada e diária, existem alguns aspectos que devem ser refletidos e discutidos: Mortandade e violações de corporais e de direitos são comuns neste quadro. Os moradores das comunidades são identificados como “colaboradores dos criminosos”, logo estão envolvidos com a atividade criminosa e são caracterizados como potencialmente “bandidos” e “ameaças à segurança pública”

Ao mesmo tempo, os corpos negros ou não brancos, que compõe a maior parte dos moradores das comunidades, são vistos como potencialmente perigosos e violentos. A cor negra representa violência, agressividade e marginalidade. Desta forma, a guerra ganha uma conformação social, econômica e racial. Estabelece-se um maniqueísmo onde o corpo negro-pobre-morador de comunidade, representa um “mal”, uma “bestialidade”, a “imoralidade” e a “marginalidade”. Impõe-se uma forma de desumanização aos corpos dos moradores de comunidades, legitimando o estado de guerra e justificando a morte e a violação constante, pois não são vistos enquanto seres humanos, mas sim na condição sub-humana e degenerada, ou seja “criminosos” ou “bandidos”. Sendo assim, são naturalizados enquanto ameaças que precisam ser eliminadas, mesmo que por meio de um estado de guerra cotidiano. Penso que precisamos e devemos trabalhar cada vez mais para buscar um estado de paz.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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