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Mentes reprovadas


Por: Fernando Razente
Data: 16/01/2024
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Por Fernando Razente[1]

 

Romanos 1.28-31: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia.”

Continuando a exposição bíblica da carta de Paulo aos Romanos em 2024, pretendo hoje, meditar com os queridos leitores nos versículos 28 ao 31, do capítulo 1. Neste trecho, o apóstolo Paulo traz uma lista de 21 pecados: 1) injustiça; 2) malícia; 3) avareza; 4) maldade; 5) inveja; 6) homicídio; 7) contenda; 8) dolo; 9) malignidade; 10) difamação; 11) calúnia; 12) aborrecidos de Deus; 13) insolência; 14) soberba; 15) presunção; 16) invenção de males; 17) desobediência aos pais; 18) insensatez; 19) perfídia; 20) ausência de afeição natural; e, 21) falta de misericórdia.

Tal lista de pecados não era apenas o retrato da sociedade greco-romana do primeiro século em que Paulo vivia, mas também é uma descrição detalhada da decadência moral de toda sociedade que se aparta do genuíno conhecimento de Deus, inclusive a pós-moderna na qual estamos inseridos.

Essa lista de Paulo (a maior que o autor já escreveu) escancara aos nossos olhos o real estado em que se encontra toda a humanidade diante do Senhor e o drama humano de viver em uma sociedade permeada por todo tipo de maldade.

É importante lembrar que Paulo escreveu isso à igreja de Roma tendo como objetivo mostrar a verdadeira situação do mundo pagão de sua época e, portanto, a desesperadora necessidade de se pregar o evangelho da salvação a todos eles. Certamente, se observarmos a situação terrível da nossa sociedade pelas lentes da Palavra, teríamos mais disposição e desejo de evangelizá-los com urgência!

O que gera toda essa corrupção moral na sociedade descrita por Paulo? Note que a lista de pecados acima tem como fonte o que Paulo chama, no versículo 28, de “disposição mental reprovável” (?δ?κιμον νο?ν ποιε?ν/mentalidade reprovada). Essa mentalidade reprovada é fruto da decisão humana em “desprezar (ο?κ ?δοκ?μασαν/não aprovar) o conhecimento de Deus” dado na criação (Cf. Rm 1.20-23).

Ou seja, já que a humanidade, calcada em sua porca razão (como dizia Dr. Lutero), não aprovou o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entrega a viverem de acordo com essa razão porca, com essa “disposição mental reprovável”. Sendo assim, toda mente que reprova a Deus, por consequência, aprovará tudo aquilo que Deus odeia. Daí a lista dos 21 pecados que a humanidade pratica, e não apenas pratica, mas aprova e justifica (Cf. Rm 1.32).

Tal “disposição mental reprovável” pode ser explicada em termos de perda da capacidade de discernir o certo e o errado, de não conseguir perceber as consequências do pecado, de não se indignar ou revoltar-se contra coisas erradas e, de não ser capaz de avaliar o castigo e o juízo decorrentes da prática de tais pecados. Fundados nessa mentalidade a sociedade promove todo tipo de comportamento grotesco e antissocial que corrompe a justiça na comunidade humana e destrói os laços afetivos mais básicos e importantes.

Por fim, uma importante observação que devemos fazer é que, a condição moralmente depravada da sociedade de Paulo, assim como a nossa (em todos os sentidos, especialmente na questão sexual, cf. Rm 1.26-27), é uma demonstração claríssima do juízo de Deus. Paulo diz que “(...) o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável”. Aqui, como comenta o exegeta João Calvino (1509-1564), “(...) é apresentada de forma impressionante a relação justa entre pecado e punição. Como eles escolheram não continuar no conhecimento de Deus, o único que guia nossas mentes à verdadeira sabedoria, o Senhor deu-lhes uma mente pervertida, que não pode escolher nada que seja certo.”

Saiba disso: Deus não é um Deus distante, indiferente ao que ocorre no mundo e às injustiças que aqui são cometidas. Deus não é um juiz indolente e devagar. Pelo contrário, cada vida vivida indiscriminadamente no pecado sem nenhuma restrição da graça é um testemunho ambulante do juízo temporal de Deus!

Enganam-se aqueles que acreditam que o justo Deus está dormindo, inativo ou indiferente a degeneração da nossa sociedade. Antes, o estado de degradação em que a sociedade se encontra já é uma retribuição divina, uma manifestação temporal de seu juízo.

Até que os homens não sejam chamados eficazmente pela operação do Espírito Santo em seus corações, lhe concedendo fé no Evangelho da graça, regenerando seus corações para uma nova vida em Cristo (Ef 2), seus dias se passam debaixo da ira e do juízo de Deus, ainda que estejam sorrindo e desfrutando de toda sorte de prazeres carnais.


[1] Professor de Ciências Sociais, lecionando História das Religiões no Centro Universitário São Camilo (SP), e as disciplinas de História, Filosofia, Sociologia e Cultura Religiosa no Colégio Vila Militar (Maringá), Colégio Platão (Maringá) e Rede Sagrado Coração de Jesus (Nova Esperança). É resenhista e divulgador científico, coordenador de conteúdo da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (núcleo Maringá) e colunista colaborador.

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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