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Gladiador 2


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/11/2024
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Vamos começar esta coluna ressoando sobre a grande estreia da última semana. Quando escrevi a coluna anterior, eu não poderia imaginar que o filme de Walter Salles, Ainda Estou Aqui, enfrentaria emoções tão ambíguas durante sua estreia. Que o filme era uma obra memorável, os prêmios e os festivais internacionais já haviam confirmado; porém, o que surpreendeu foi o fato de muita gente influente e poderosa, sobretudo no meio político, ter feito tanto barulho, arregimentando seus seguidores em busca de um boicote público ao filme de Salles. No final, o boicote não veio, e o filme se mostrou um tremendo sucesso em sua estreia, arrecadando mais de 8,5 milhões. Essa cifra pode não ser o suficiente para fazer desse filme um blockbuster, mas é, sim, um grande marco para o cinema nacional e para a memória do nosso país. Agora, nesta semana, a grande estreia tem, sim, potencial para ser um grande arrasa-quarteirões, trazendo de volta a continuação de um filme clássico, dirigido por ninguém menos que o grande Ridley Scott. Na coluna de hoje, você saberá um pouco mais sobre Gladiador 2, que acabou de chegar aos cinemas.

Gladiador 2 chega aos cinemas com a difícil tarefa de honrar o legado do primeiro filme, que redefiniu o gênero épico nos anos 2000. Ridley Scott retorna ao comando quase um quarto de século depois, e o cineasta entrega aqui uma obra grandiosa e ousada, que cativa visualmente e mantém o público em suspense. O filme reúne o talento de Paul Mescal, Denzel Washington e Pedro Pascal para reviver a glória e o drama de Roma, fazendo uso de um cenário histórico impressionante que é, sem dúvida, um dos destaques mais memoráveis da produção. É uma sequência que desafia o tempo e convida tanto antigos fãs quanto novos espectadores a embarcarem em mais uma jornada épica.

O filme acerta em cheio no design de produção, com um retrato visual de Roma que beira o impecável. Cada palácio, cada rua, e até mesmo as arenas de gladiadores parecem nos transportar ao passado. Essa ambientação detalhista não é apenas um pano de fundo; ela traz uma profundidade que agrega peso à narrativa. As cenas ambientadas no Coliseu, por exemplo, são um espetáculo à parte: a atmosfera vibrante dos jogos de gladiadores é reproduzida de maneira tão realista que nos faz sentir a tensão e o horror da arena. Ridley Scott e sua equipe de design merecem um grande reconhecimento por esse feito e não será surpresa se esta produção conquistar uma indicação ao Oscar de Melhor Design de Produção na próxima cerimonia, em 2025.

O roteiro, no entanto, como ocorre com muitos outros filmes de grandes pretensões, é um grande incômodo, tornando-se um verdadeiro calcanhar de Aquiles. Escrito por David Scarpa e Peter Craig, o enredo aposta em uma narrativa que é, ao mesmo tempo, um tributo ao primeiro filme e uma nova história. Para os fãs da obra original, pode ser emocionante reencontrar tantos elementos conhecidos, mas essa abordagem também corre o risco de parecer repetitiva, sobretudo para o público que não vivenciou o impacto de ver o primeiro Gladiador no cinema. Para esses, que chegam ao filme sem a bagagem do anterior, o enredo pode gerar certa confusão devido a suas alusões contínuas. O enredo não deixa claro se quer seguir os passos do filme anterior ou instaurar algo novo e essa dúvida acaba não sendo muito benéfica para a obra como um todo.

Porém, é inegável que o ritmo do filme mantém o público atento. Se você é aquele tipo de expectador que está mais preocupado com a ação do que com a história, esse filme é um prato cheio! Mesmo com 158 minutos, o longa não se arrasta. As cenas de ação são brutais e bem coreografadas, especialmente aquelas que se passam na arena. Ridley Scott entrega cenas de combate que têm uma brutalidade visceral, mas são visualmente encantadoras. Movimentos de câmera rápidos e cortes precisos dão às batalhas um ritmo intenso que, com certeza, deixará muitos espectadores na ponta da cadeira. Ainda assim, há momentos em que o filme exagera na dose com confrontos tão acelerados que fazem com que a narrativa chegue a perder um pouco de fôlego.

Sobre o elenco, Paul Mescal assume com firmeza o papel de Lucius, sobrinho do icônico Maximus, interpretado de forma magistral no primeiro filme por Russel Crowe. Mescal entrega uma atuação sólida, mostrando o peso das experiências do personagem com expressões contidas e um olhar que transmite, ao mesmo tempo, a dor e a determinação do herói. Sua interpretação traz complexidade e humanidade a Lucius, um jovem que, inspirado pela figura de Maximus, busca restaurar a honra de Roma. Ao seu lado, Denzel Washington rouba a cena como um antagonista inescrupuloso. Sua presença magnética e nuances interpretativas fazem do seu personagem um dos pontos mais fascinantes do filme. Pedro Pascal também se destaca, equilibrando o trio com uma atuação carismática e cativante. Washington, em particular, traz à trama uma ambiguidade moral, preenchendo a tela com maneirismos que sutilmente sugerem suas verdadeiras intenções, adicionando uma camada de tensão à história.

A decisão do diretor de elevar o nível de fantasia e espetáculo em relação ao primeiro filme pode dividir opiniões, mas é muito bem-vinda! Gladiador 2 introduz elementos como tubarões no Coliseu e rinocerontes em combate, uma escolha que foge ao realismo do primeiro filme. Essa liberdade criativa torna o longa mais grandioso e menos preso à precisão histórica, e é aí que reside a grande diferença entre as duas produções. Se o primeiro Gladiador tinha uma abordagem mais sóbria, quase reverente, este novo capítulo é mais extravagante e cheio de adrenalina. Isso é Ridley Scott entregando fan service de presente ao público.

Nos minutos finais, Gladiador 2 encontra um equilíbrio interessante entre a grandiosidade visual e um tom mais introspectivo. Esse final menos frenético e mais contido concede à história uma conclusão satisfatória, fechando com uma nota emocional que é condizente com o tom épico da obra. É um desfecho que resgata o peso e a seriedade que o enredo exigia, deixando o público com a sensação de ter presenciado uma jornada completa.

Por que ver esse filme? Gladiador 2 é uma sequência digna do nome, que não só presta homenagem ao original, mas se reinventa em um espetáculo cheio de energia e emoção. Ridley Scott prova, mais uma vez, que domina a arte de contar histórias épicas, com uma combinação de drama, ação e fantasia que prende a atenção do início ao fim. Embora o filme nem sempre mantenha a coesão narrativa, os aspectos visuais e o talento do elenco garantem uma experiência envolvente. A sequência, no fim das contas, convida tanto antigos fãs quanto os novos a embarcar nessa aventura grandiosa, onde política e violência se entrelaçam em uma jornada que fala de honra, vingança e a luta pela liberdade. Caso faça muito tempo que você tenha visto Gladiador, minha dica é: reveja o filme antes de ir ao cinema, isso vai fazer com que sua experiência seja realmente interessante. Boa sessão!

 

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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