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Ghibli Fest 2025


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/09/2025
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Quem acompanha a Coluna há mais tempo sabe o quanto eu gosto de animação japonesa. Os chamados animes fizeram parte da minha infância e adolescência e, entre eles, é claro, sempre dei grande destaque às obras do Estúdio Ghibli, do qual sou fã de longa data. Bem por isso, é uma verdadeira alegria comentar sobre o Ghibli Fest 2025, que chega como um presente para os apaixonados por cinema e, em especial, por animação. O festival celebra os 40 anos do Studio Ghibli, fundado em 1985 por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, e traz uma retrospectiva inédita de sua obra. Pela primeira vez, o público brasileiro poderá assistir a uma seleção de 14 filmes do estúdio em cópias remasterizadas, dubladas e legendadas, algumas delas com dublagens inéditas em português.

O melhor de tudo é que os filmes não serão exibidos apenas nos grandes centros como São Paulo ou nas capitais, aqui na região teremos várias salas destinadas exclusivamente para várias obras desse estúdio. Em Maringá os shoppings Maringá Park, Avenida Center e Catuaí exibirão a partir de sexta-feira (19/09) vários títulos. Vale ressaltar que essa é uma iniciativa da Sato Company, que se especializou na distribuição de produções asiáticas no Brasil.

Caso você nunca tenha ouvido falar sobre Hayao Miyazaki e o Estúdio Ghibli, eu já adianto: se o cinema é a arte de contar histórias em movimento, poucas companhias foram capazes de fazer isso com tanta delicadeza, poesia e profundidade quanto o Studio Ghibli. Ao longo de quatro décadas, sua assinatura se consolidou como um dos símbolos mais potentes da animação mundial.

Foi com Meu Amigo Totoro, de 1988, que o estúdio criou não apenas um filme inesquecível, mas também um ícone cultural: o simpático Totoro tornou-se o mascote oficial da produtora, estampando seu logotipo até hoje. Anos depois, o mundo se rendeu à imaginação de Miyazaki com A Viagem de Chihiro, de 2001, uma fábula onírica que conquistou o Oscar de Melhor Animação e se tornou referência obrigatória no cinema contemporâneo. Já O Castelo Animado, lançado em 2004, e Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar, do ano de 2008, reafirmaram a capacidade do estúdio de equilibrar fantasia, emoção e reflexões sociais.

Mas a força do Ghibli não está apenas em seus grandes sucessos de bilheteria. Obras mais discretas (e quase desconhecidas) como Memórias de Ontem, de 1991, de Isao Takahata, e Sussurros do Coração, do ano de 1995, de Yoshifumi Kond?, revelam um lado mais intimista, dedicado às pequenas coisas da vida, tais como a infância, o primeiro amor, as lembranças do passado. Em Eu Posso Ouvir o Oceano, de Tomomi Mochizuki, é uma obra onde a delicadeza ganha o tom da juventude e seus dilemas. São histórias que fogem ao espetáculo grandioso e nos convidam a enxergar beleza na simplicidade.

Tudo bem que a grande maioria dessas obras pode ser contemplada em casa, pelo serviço de streaming, porém o Ghibli Fest não é apenas um festival de cinema, mas uma aula de sensibilidade, que traz a oportunidade única de contemplar essa coleção de verdadeiras perolas direto no cinema. A iniciativa nos lembra que a animação, longe de ser uma arte restrita às crianças, pode traduzir questões universais: a passagem do tempo, a memória, a perda, o amor e até mesmo as feridas da guerra.

A primeira fase do festival, que vai até 1º de outubro de 2025, reúne 14 longas-metragens que já encantam plateias pelo país. Entre eles, os já citados Totoro, Chihiro e Castelo Animado, além de O Serviço de Entregas da Kiki e o tocante Ponyo. A segunda fase, prevista para 2026, completará o catálogo com mais oito filmes, coroando assim a maior retrospectiva do estúdio já realizada no Brasil.

Dentro da mostra, há um título que merece atenção especial: Vidas ao Vento, de 2013. Quando escrevi minha crítica sobre ele em 2020, estávamos em plena pandemia, com cinemas fechados e a experiência restrita ao streaming. Hoje, poder vê-lo novamente no cinema, como foi concebido, dá a sensação de reencontrar um velho amigo, desses que amadurecem com a gente e que revelam novas camadas a cada encontro.

Ao contrário de outras obras do estúdio, este não é um mergulho no fantástico. Em vez de criaturas mágicas ou mundos paralelos, o filme acompanha a vida de Jiro Horikoshi, engenheiro responsável pelo avião que se tornaria símbolo do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. É uma história real, marcada por sonhos, amor e tragédia. Como bom historiador que sou não poderia deixar de considerar esse, juntamente com Túmulo dos Vaga-lumes, de 1988, um dos melhores filmes do Estúdio Ghibli.

Em Vidas ao Vento, Miyazaki usa a aviação como metáfora da condição humana, tanto que os aviões são belos, mas também podem ser instrumentos de destruição. Jiro, movido pelo desejo de criar algo grandioso, vê sua invenção ser apropriada pela máquina da guerra. E é nesse contraste entre sonho e realidade, a beleza e o horror, que o filme encontra sua força.

Além da crítica ao militarismo, Vidas ao Vento é um drama sobre escolhas pessoais. O romance de Jiro e Nahoko é de uma delicadeza comovente, sobretudo no trecho em que os dois se refugiam juntos em uma estação de cura nas montanhas. São momentos que lembram o espectador de que, mesmo em tempos sombrios, o amor e a ternura resistem.

Assistir a esse filme hoje, em meio às discussões contemporâneas sobre guerras, crises ambientais e avanços tecnológicos, é mais do que revisitar a história do Japão do século XX, é refletir sobre os riscos que corremos quando a busca por progresso se descola da humanidade.

O Ghibli Fest 2025 não é apenas um festival para fãs de longa data. É também um convite para novos públicos descobrirem um estúdio que, desde 1985, nos ensina que sonhos podem ser desenhados, pintados e animados. Seja nas asas de um avião, no caminhar de um Totoro pela floresta ou nas lembranças de uma infância perdida, o Ghibli nos mostra que a animação é, antes de tudo, poesia em movimento. Organize-se, confira os dias de cada uma das exibições e vá ao cinema! E se você quiser começar por um filme que une emoção, beleza visual e reflexão, a minha dica é clara: não perca Vidas ao Vento na tela grande. É um daqueles sopros de cinema que transformam quem se deixa levar. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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