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Filosofia e pensamento científico


Por: Especial para JN
Data: 26/04/2024
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Por Emilly Beatriz Briques Medeiros Villela[1]

“(...) homologein, falar assim como o Lógos fala (...) corresponder ao Lógos.”

Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão.

A Filosofia é uma ciência da harmonia. Ela parte do postulado da existência de uma realidade objetiva que estrutura o mundo em que vivemos e, essa estrutura, por sua vez, é essencialmente racional, haja vista que por meio do uso da razão lógica podemos compreendê-la e comunicá-la nos mais variados sistemas de linguagem científica. Esta realidade objetiva é, como estamos aprendemos neste semestre, o objeto mais fundamental da ciência filosófica.

Em seguida, a filosofia leva o filósofo a dedicar seu tempo e energia aos problemas envolvendo a decodificação dessa realidade em busca de harmonizar seu pensamento com o que já está dado na estrutura do mundo. Ou seja, o exercício principal de um filósofo não é “inventar ou criar a roda”, nem mesmo “alterar a realidade”, como dizia nosso professor; antes, ser filósofo consiste em ser capaz de decodificar racionalmente essa realidade, equiparando o seu pensamento à estrutura da realidade da maneira mais objetiva possível, para, em seguida, comunicá-la por meio da linguagem (escrita ou falada, por meio de cálculos, sistemas, teses, dialética, silogismos, etc.).

Emilly Beatriz Briques Medeiros Villela - Foto: Divulgação

Isso significa que filosofar é o ato do pensamento humano que busca desvendar aquilo que já se faz presente na realidade. Assim como Sir Isaac Newton (1643-1727) mostrou a todos em Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (1687), o filósofo não cria novas leis, apenas decodifica de uma nova forma  as leis que sempre existiram na realidade.

Esta maneira de compreender a ação filosófica foi denominada pelos gregos antigos como “homologein”. Heráclito (500 a.C. - 450 a.C.), um nobre efésio, dizia que esse verbo grego expressa a ação de fazer algo em proporção. Como na visão de Heráclito a realidade é produto da lei ou razão universal, “(...) imanente em todas as coisas, ligando todas as coisas numa unidade e determinando a mudança constante do universo de acordo com a lei universal” (COPLESTON, 2021, p. 59), a qual ele chamou de Logos (Λ?γος), o verdadeiro filosofar seria a atividade ou ação de decodificação das leis que sustentam a realidade e da equiparação do pensamento humano com essas leis universais e racionais (Logos), ou seja: o homologein (ato do pensador de concordar, repetir, falar o mesmo ou estar em harmonia com o Lógos).

Em termos mais modernos, “falar como ou com o Logos” seria equivalente a falar, viver e agir segundo as leis, padrões, constantes, regularidades naturais que regem a estrutura mais fundamental do mundo em que vivemos e da estrutura biopsíquica do ser humano. Seria viver ciente daquilo que pode e não pode ser feito. Particularmente, penso que tal compreensão do ato filosófico é fundamental para o desenvolvimento de todas as ciências.

As ciências são o conjunto de estudos que buscam decodificar a realidade objetiva (que postulam existir) de seu objeto de análise; mas, se tudo for relativo ou subjetivo, o próprio empreendimento científico sucumbiria em opiniões particulares, já que não haveria uma realidade regular e universal (como a lei da gravitação) para ser investigada, calculada, testada e comprovada!

Portanto, toda a verdadeira ciência está à procura de estabelecer uma relação de proporcionalidade entre as ideias da razão e a realidade (assim como um engenheiro que calcula, pensa e procura chegar a uma conclusão compatível com as normas gerais de sua ciência para saber se a construção que planeja estará de acordo com as leis físicas e, dessa forma, possa garantir que ela se manterá de pé).

Essa suposição altamente filosófica da existência de uma realidade a ser investigada é o que motiva o empreendimento científico. Se a noção da atividade filosófico-científica como “homologein” for perdida e, se se assumir uma cosmovisão niilista de que tudo é um caos absurdo, que o mundo é representado subjetivamente ou construído apenas pela consciência individual sem que haja leis ou padrões objetivos compartilhados por todos os seres humanos, não só a busca apaixonante pela conhecimento verdadeiro das coisas, mas as próprias regras de validação de um genuíno empreendimento científico (como o princípio da não-contradição, da argumentação clara, da escolha de uma alternativa em detrimento de outra em uma prova), deixariam de fazer sentido.



[1] Aluna da 1ª série 2 do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus.


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