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Sagrado Acadêmico


Por: Especial para JN
Data: 24/06/2024
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Empirismo reducionista: um desafio à religião ocidental[1]

 

Giovana Teixeira da Silva[2]

Mateus H. Rovida[3]

Melissa E. E. Okabayashi[4]

 

“Se a visão sobrenatural da inspiração bíblica não era crível para esses pensadores, como eles poderiam aceitar as narrativas da Criação, dos milagres, da encarnação, do nascimento virginal, da expiação e da ressurreição? Eles acabaram por concluir que deveriam rejeitar não apenas a autoridade da Escritura, mas também o seu conteúdo sobrenatural, seu evangelho.”

— John M. Frame (1939-), História da Filosofia e Teologia Ocidental, p. 330.

 

(Fotos: Sagrado Coração) Giovana Teixeira da Silva, aluna da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus

O objetivo deste artigo é definir três conceitos: “empirismo”, “reducionismo” e “religião”; e, em seguida, relacioná-los de acordo com algumas linhas de pensamento filosóficos e teológicos na história ocidental, especialmente a partir do século XVII.

O empirismo é uma corrente filosófica que defende que o conhecimento humano deriva da experiência sensorial. Todas as nossas ideias e entendimentos, para os empiristas, se originam da observação direta do mundo, através dos nossos sentidos. Os empiristas argumentam que não nascemos com um conhecimento inato, contrastando com o racionalismo.

A corrente empirista foi impulsionada por filósofos ingleses como Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776). Richard F. Carlson (1936-), professor de física da University of Redlands, em Redlands, Califórnia, resume a ideia central da seguinte maneira: “O empirismo é um conceito filosófico (...) A palavra empirismo é derivada do grego empeiria, que significa ‘experiência’, da qual recebemos a palavra experimento, o que implica que o empirismo está envolvido com a pesquisa real, experiência e observação.” (Dictionary of christianity and science, 2017, p. 257).

Mateus H. Rovida, aluno da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus

No entanto, o empirismo possui algumas vertentes mais extremas, e uma delas é exatamente a “empirista reducionista”, também conhecida como “empirismo radical”. Mas o que é o reducionismo? O reducionismo é a concepção filosófica segundo a qual todos os fenômenos complexos podem ser sempre reduzidos a explicações mais elementares em termos da natureza e do comportamento do objeto. Seria como descascar uma cebola até chegar ao seu núcleo indivisível e daquilo extrair a essência de todo o resto da cebola e absolutizar essa “essência”.

O reducionismo — assim como outras várias categorias de “ismos” — possui a característica de reduzir os vários níveis e aspectos de uma realidade a apenas uma explicação. Como esclarece o filósofo holandês Herman Dooyeweerd (1894-1977): “Todos esses ismos se originam da absolutização de um ponto de vista científico específico que considera a realidade empírica unicamente a partir dos aspectos fundamentais da nossa experiência temporal.” (DOOYEWEERD, Herman. 2018, pp. 129-130). Em suma, o empirismo reducionista ou radical enfatiza que apenas a experiência sensível é válida como fonte segura e verdadeira de conhecimento humano da realidade e explica a estrutura do mundo com base nas informações mais elementares descobertas pelas experiências.

Logo — e aqui entramos no terceiro conceito e conclusão — como ficam as questões não empíricas do conhecimento religioso? Como o empirismo reducionista impactou a teologia ocidental? Sabendo que o empirismo reducionista tende a desconsiderar aspectos não materiais da experiência humana, como as abstrações mentais, espirituais e transcendentes, constituiu-se num enorme desafio de diálogo saudável entre ciência e religião no século XVII e XVIII, especialmente com o advento de certas alas radicais do Iluminismo.

Melissa E. E. Okabayashi, aluna da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus

O teólogo americano Ian Barbour (1923-2013), na obra Issues in Science and Religion (1966), defende que “(...) o reducionismo é tido como sendo algo que sugere que a religião envolve apenas psicologia; psicologia é basicamente biologia; biologia é a química de grandes moléculas, cujos átomos obedecem às leis da física que, em última instância explicam todas as coisas!”. Isso significa que todas as vivências e histórias espirituais da tradição cristã, no período de florescimento do empirismo reducionista na época do Iluminismo, eram vistas como nada mais que efeitos psíquico-físicos dos seres humanos, explicados por meios materiais ou, quando muito, eram meros artigos de crenças arbitrárias sem evidências.

Essas explicações reducionistas da religião fizeram com que todas as religiões, mas sobretudo o cristianismo ocidental, sofresse com um enfraquecimento de suas pautas, levando-os, em seminários teológicos, a elaborarem respostas e novas apologias em defesa da legitimidade e veracidade do conhecimento teológico. Afinal, na ascensão do empirismo reducionista, como provar a existência de almas? Como afirmar a realidade de espíritos, anjos, demônios, do céu ou do inferno? Como salvaguardar a doutrina da inspiração divina da Bíblia? Como defender a ressurreição de Cristo, seus milagres e a atuação do Espírito Santo? E mais: como afirmar a existência de Deus?

Foi buscando uma nova legitimação naquele período que os estudos teológicos buscaram afirmar que, embora o nosso conhecimento seja mediado pela experiência, ele (e toda a realidade, imanente ou transcendente) não pode se reduzir absolutamente a ela. Na verdade, não somente verdades teológicas, mas matemáticas e metafísicas — na axiologia, ontologia e epistemologia — não podem ser reduzidas a experiências sensoriais; mas, devem ser explicados como aspectos distintos e reais de uma mesma realidade, que é dual (mental/material, sobrenatural/natural ou transcendente/imanente), para dar conta de uma explicação satisfatória do funcionamento das coisas no mundo.



[1] Resultado dos trabalhos produzidos para a Avaliação Formativa da disciplina de Cultura Religiosa do 1º Semestre.

[2] Aluna da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus.

[3] Aluno da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus.

[4] Aluna da 2ª série 1 do Colégio Coração de Jesus.


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