Diagnóstico Político da Atualidade Pandêmica
Peço licença às pessoas que gentilmente acompanham minha exposição de ideias, para iniciar este texto com a citação do filósofo francês Michel Foucault, sobre exatamente a tarefa do filosofar: “A tarefa da filosofia passa a ser diagnosticar criticamente nossa atualidade” (2001, p.634). Diagnosticar o que se passa em nosso presente e qual o principal acontecimento que o atravessa. Indubitavelmente, creio que a pandemia da Covid-19, seria apontada como este acontecimento. Contudo, penso que podemos nos aprofundar um pouco mais e apontar: “E a nossa atualidade política no momento de pandemia?” Quando destaco nossa atualidade política, não me refiro apenas ao cenário nacional, mas às sociedades atuais em seu todo. Inegavelmente a pandemia do Coronavírus revelou outros tipos de pandemias, principalmente no campo da política. Os modelos democráticos liberais se demonstram frágeis e um aparente ódio às suas práticas se fortalece cada vez mais. Os autoritarismos se tornam mais visíveis. As formas como temos sido governados passam a ser mais e mais contestadas. As polarizações ideológicas inclusive influenciaram e ainda influenciam o combate à pandemia, com relação a aquisição de vacinas e sua distribuição. Problemas como a crise econômica, a desigualdade social e racial, tornam-se evidentemente claros enquanto relacionados ao âmbito da política em meio ao contexto pandêmico que enfrentamos. Sem falar dos embates entre negacionistas e oportunistas, que se utilizam da administração desordeira e apavoradora da pandemia ou simplesmente negando a sua gravidade inquestionável, não visando o bem público, mas sim a satisfação de interesses privados. Penso que a pandemia do Coronavírus nos possibilita diagnosticar as enfermidades que atingem e ameaçam as estruturas políticas e governamentais, quanto a promoção e garantia do bem comum, além de proteger os direitos básicos mínimos como o direito à saúde e por consequência à vida. O diagnóstico não é difícil. Já o remédio ou a vacina...creio que dependem muito de nós mesmos.
FOUCAUL, M. Dits et Écrits, I. Paris Gallimard, 2001, p. 634.
Rogério Luis da Rocha Seixas