Dou início a nossa exposição de ideias, neste novo ano que começa destacando uma personagem ímpar na luta antirracista e que nos deixou recentemente. Refiro-me ao arcebispo anglicano Desmond Tutu, que atuou de forma intensa contra o regime racista do Apartheid, que vigorou por cerca de 40 anos na África do Sul. Tutu empenhou-se visceralmente contra um aparelho de exclusão e destruição de corpos que se embasava na hierarquia e superioridade racial Branca, oprimindo e eliminando os corpos negros, subalternizados e destruídos como se fossem coisas a serem descartadas, por simplesmente serem consideradas nocivas. Segregava-se os negros dos brancos, concedendo-se aos brancos, o domínio do poder político e econômico.

Desmond Tutu, partindo de seu campo de atuação, no caso o religioso, soube utilizar deste potencial na luta antirracista. Foi o primeiro negro que ocupou o cargo de arcebispo na cidade do Cabo, atuando também como o Primaz da igreja Anglicana da África Austral entre o período de 1986 a 1996. Do púlpito a atuações públicas, demonstrou uma postura enérgica e contundente, tanto política quanto ética, na luta antirracista.  Destaque-se as inumeráveis marchas e campanhas para colocar fim ao apartheid nos degraus da Catedral de São Jorge. Estas estratégias de luta, ganharam o simbolismo político de “Catedral do Povo”, fazendo referência à Catedral de São Jorge e tornou-se essencial para a construção da democracia local.

O arcebispo Tutu, embora reconhecesse que a África do Sul, não tenha alcançado a estrutura social e política de “Nação Arco-Íris”, termo cunhado pelo próprio Tutu, descrevendo a mistura étnica do seu país, deve-se ressaltar o seu esforço e trabalho na luta antirracista, apresentando-se enquanto uma referência não apenas para sua sociedade, mas para outras que apresentam graves problemas sociais, políticos e econômicos por causa do racismo, como acontece em nossa sociedade. Indubitavelmente, Desmond Tutu foi um líder espiritual icônico, um ativista antiapartheid e na luta antirracista, além de um defensor global dos direitos humanos. Alguém essencial em tempos ainda tão sombrios.