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Corpos jogados nas esquinas


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 09/09/2024
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Iniciando esta nova exposição de ideias, destaco que resido na cidade do Rio de Janeiro, desde o meu nascimento. Significa dizer, vivo ou se desejarem, existo nesta cidade, desde sempre. Convivo com seus problemas. Suas belezas e feiuras, vamos dizer assim. Tenho notado por sinal, um fato cada vez mais presente, no cotidiano da cidade carioca: o aumento de corpos jogados nas esquinas. Uma intensificação de corpos jogados nas esquinas da dita cidade maravilhosa.

Alguns poderão afirmar: “Qual a novidade? A presença de pobres nas ruas das grandes cidades e das capitais dos estados, não se configura como fato incomum.” Tenho até que concordar em parte, mas o que trago para a reflexão e discussão é o aumento da presença de “corpos jogados nas esquinas”, na minha cidade. Corpos abandonados não enquanto corpos de alguém, mas simplesmente, corpos jogados como se fossem “algo”. Meras coisas inertes e descartáveis. Largadas a uma condição de não-ser. Ocupando espaços nas diversas esquinas, porém não sendo vistos ou percebidos como existentes, porém na situação de ocupando espaços, não enquanto pessoas, mas semelhantes a coisas, muitas vezes tratados enquanto entulho. Meramente atrapalhando o movimento de muitos ou trazendo feiura para as esquinas. Comprometendo negativamente a estética do local.

Neste sentido, não são reconhecidos na condição de corpos existentes, mas apenas corpos que ocupam espaço, largados nos cantos. Absolutamente jogados nas esquinas. Muitas vezes, são mais assemelhados aos lixos, necessitando serem recolhidos e jogados fora. São assim passíveis de serem descartados e não de terem qualquer atitude de simpatia ou respeito.  Não percebo em tal situação, apenas uma questão de fundo econômico, mas sim uma percepção de presença mais e mais intensa de ditas “não-existências” ou “inexistentes”, que até se fazem presentes como corpos, mas se localizam nos cantos e esquinas, largados como simples inexistentes. Tal acontecimento incomoda ou deve incomodar muito a todos nós, visando promover a humanização destes corpos desumanizados e menosprezados, para que deixem de ser coisas para assim recuperarem suas existências e humanidades.     

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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