Tempos difíceis para a reflexão
O título sobre o tema proposto para esta nova exposição de ideias, não se apresenta como uma novidade. Há uma certa unanimidade, quanto a vivermos tempos difíceis em diferentes dimensões das relações humanas. Embora esteja me focando no agora, questiono se de fato, a nossa experiência humana, já passou por momentos que não fossem difíceis. Se olharmos para o passado, muita coisa queremos esquecer. O presente de certa forma sofre com olhares de pessimismo. Por sua vez, o futuro tão desejado, torna-se objeto de desconfiança. Todavia, meu foco para esta discussão, não acompanha o pessimismo extremado ou se ilude com o otimismo Poliana. Convido a nos concentrarmos na questão de como refletir sobre nossa atualidade. Se é possível expressa-a atitude de refletirmos sobre nós e o nosso hoje.
Destaco o sentido contido no termo Reflexão: “ação de refletir, desviando-se de um senso comum e aceito como definitivo. Construindo um pensamento ou análise mais profunda ou detalhada referente a um determinado tema, sobre nós mesmos ou sobre algum problema ou sentimento.” Penso que não carecemos de temas para nossa reflexão na atualidade. Porém, passamos por uma carência de interesse ou vontade de reflexão. Talvez por medo de nos aprofundarmos em reflexões não para ficarmos inertes, mas para agirmos com mais conhecimento e prudência. Aparentemente, nos voltamos cada vez mais para as meras opiniões ou vontades impostas de diferentes modos ou por diversos interesses, moldando nosso olhar e o agir sobre nós mesmo e nossa atualidade. Tal situação, cria dificuldades de construirmos reflexões que nos movam para enfrentar as nossas dificuldades. Ao mesmo tempo, julga-se e opina-se sobre coisas que acreditamos saber e não sabemos.
Esta dificuldade de ação de reflexão produz embates moralizantes e raivosos, que inclusive obstruem a produção de reflexão. Exemplifico o momento político atual em nossa sociedade brasileira, marcada por uma feroz disputa ideológica, muitas vezes irrefletida, onde se desqualifica uma reflexão ou ataca-se a pessoa que a construiu, a taxando ou de “comunista” ou de “fascista”, simplesmente por não se concordar quanto ao modo como se reflete a respeito de determinada questão. Muitas vezes tais atitudes raivosas de ataque e desqualificação, embasam-se apenas em convicções irrefletidas e tacanhas. O efeito do negacionismo, em grande parte do mundo, expresso durante a fase mais aguda da pandemia da Covid-19, demostra bem esta situação.
Penso que a atitude de refletir sobre nós mesmos e nossa época, enfrenta dificuldades oriundas de medos e preguiças de buscarmos maior autonomia em nossas atitudes e pensamentos. A autocrítica e a crítica em geral, são substituídas por opiniões, posições e ações irrefletidas. Assim sendo, nos deixamos levar por nossos temores e desejos, sem necessariamente refletirmos sobre o como, o porquê e o para onde.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com