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Convenção das Bruxas


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 26/11/2020
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O controverso Convenção das Bruxas chegou ao cinema e muito antes de estrear por aqui ele já estava causando nas redes sociais e dividindo o público. Em meio a discussões sobre a necessidade do remake de um clássico dos anos 1990 e da crítica à vilanização de pessoas com deficiência, o filme chegou aos cinemas em tempos de aumento de número dos casos de COVID-19. Se não fosse sua distribuição via streaming em terras americanas ele com certeza correria um sério risco de amargar prejuízo, mas mesmo assim, ainda é um filme muito interessante. Sobre ele a Coluna Sétima Arte traz algumas considerações essa semana.

Acredito que o primeiro ponto a se ter em conta é a fonte da história, a obra literária de Roald Dahl. Seu conjunto literário é, sem dúvida alguma, um sucesso tanto nos livros quanto no cinema. Obras como Matilda, A Fantástica Fábrica de Chocolates ou James e o Pêssego Gigante, fizeram parte da infância da grande maioria da população adulta da atualidade (digo isso, porque fez parte da minha e das pessoas que conheço). Mas dentre essas obras, nenhuma foi tão traumática quanto Convenção das Bruxas, levada aos cinemas em 1990, pelo diretor Nicolas Roeg. Toda obra de Dahl traz uma aura sombria de infância macabra e a mais pesada delas é Convenção das Bruxas. Anjelica Huston brilhou de maneira ímpar nesse filme que, decididamente, não era para crianças.

Trinta anos após a estreia do primeiro filme, seu reboot chega aos cinemas brasileiros. Após ver o filme, eu diria que o seu maior trunfo é justamente o fato que mais tem gerado comentários negativos junto à crítica especializada: a infantilização da obra.  O diretor Robert Zemeckis é um dos homens mais experientes de Hollywood, sua filmografia conta com obras primas como Forrest Gump, Uma Cilada para Roger Rabbit, a trilogia De Volta Para o Futuro e muitos outros sucessos. Diante disso, não há que levantar hipóteses sobre a imaturidade do diretor ou seu amadorismo. Ele sabia muito bem o que estava fazendo e fez com consciência.

Por isso, seu filme ganha espaço entre os pequenos e irrita os adultos, sobretudo aqueles que já trazem uma história com a trama devido à sua versão anterior. Basta você levar seus filhos ou sobrinhos ao cinema e verá o quanto eles irão amar a história. Interessante que, infelizmente, no Brasil, ele terá censura de 10 anos, por isso, não dá pra levar os menores, mas mesmo assim ainda compensa.

Toda a nova adaptação foi feita pensando nas crianças, desde o figurino, até os constantes efeitos de Computação Gráfica. Da metade para frente, o filme embala num estilo bastante parecido com Stuart Little. As atuações, são exageradas e caricatas, principalmente da grande bruxa, tirando dela o status de amedrontadora e tornando-a mais aceitável para as crianças.

Por outro lado, algumas coisas da nova adaptação parecem não fazer sentido. O que indica que provavelmente o roteiro de Kenya Barris e Guillermo Del Toro teria outras nuances mais profundas, mas que, por um motivo ou outro, foram subjugadas ao longo da produção. Digo isso devido ao fato da história ter sido transportada do Reino Unido para os Estados Unidos da América nos anos 1960, colocando como protagonistas uma família negra. Isso indica que, de alguma forma, haveria uma crítica social que foi deixada de lado aí. Além disso, a inserção gratuita da falta de dedos nos pés justamente das bruxas, assemelhando-as as pessoas com ectrodactilia (uma doença que afeta a formação das mãos e pés das pessoas) foi um grande erro, pois em tempos de inclusão isso pode gerar na cabeça das crianças muita confusão na aceitação do diferente.

Tirando isso, o filme oferece boa diversão e uma trama muito bem feita, efeitos especiais próprios para o público e atuações incríveis. Anne Hathaway entrega uma bruxa que é capaz de amedrontar e fazer rir ao mesmo tempo, na versão legendada seu sotaque estranho soa muito bem. Já Octavia Spencer encarna a avó perfeita, dura e rígida quando preciso, mas amável e acolhedora na hora certa. Ambas brilham mais forte no filme. As crianças não são tão boas assim em suas atuações, mas depois que passam a emprestar suas vozes aos ratos tudo fica melhor, pelo menos nesse quesito (risos). Mas, infelizmente, o talento de Stanley Tucci foi bastante subaproveitado, ele poderia ter oferecido muito mais ao filme. Vamos à trama!

O remake desse clássico de fantasia dos anos 1990, acompanha um garoto de sete anos que se depara com uma conferência de bruxas em um hotel. Lá, ele acaba descobrindo que um grupo de bruxas está fazendo uma convenção, pretendendo transformar todas as crianças do mundo em ratos.

Por que ver esse filme? É sempre bom revisitar uma boa história, vale a pena ser visto principalmente devido a seus aspectos técnicos e de interpretação, mas sobretudo porque traz às novas gerações a oportunidade de conhecer uma obra clássica sem o risco do trauma gerado pela versão de 1990. Essa leveza faz até com que o final, por mais pesado que seja, ainda se torne fácil de digerir. Boa sessão!

Por Odailson Volpe de Abreu

Odailson Volpe de Abreu


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