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As Olimpíadas e a expressão dos modos de ser


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 05/08/2024
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Quando escrevo esta nova exposição de ideias, nos encontramos em pleno processo olímpico, envolvendo paixões, interesses, emoções e sentidos que até variam e se diferenciam, porém visa-se promover a união, a solidariedade e a confraternização entre os ditos “diferentes povos e grupos”, através das práxis esportiva. Reflitamos então, que em nossa atual olimpíada mais globalizada, a sua prática apresenta um fator importante para ser refletido e debatido: as olimpíadas enquanto oportunidade de abrir espaço para a expressão de modos de ser.

Devemos refletir e analisar que segundo a prática olímpica, o encontro entre corpos, culturas, costumes, sexos e etnias, apresenta-se como sendo uma relação entre alteridades diferentes, assim como uma comunicação e exposição por meio da prática esportiva. Ressalto deste modo, a possibilidade presente na prática olímpica, para experimentarmos a oportunidade de corpos considerados como não sendo, se expressarem na condição de modos de ser, devido a atividade esportiva olímpica.

Quero me referir, quando utilizo a noção de “corpos como não sendo”, a questões que abarcam diretamente, processos de desumanização e inferiorização, através do racismo, da diferença sexual e de gênero, da subjugação política, cultural, social e econômica. Destaco que indivíduos, grupos étnico-raciais-sexuais, desumanizados e classificados como “não-sendo”, afirmam-se e expressam-se como seres humanos, quando ultrapassam as barreiras das modalidades olímpicas, impostas também aos seus corpos, expressando- assim na “zona-do-ser”. Neste aspecto, expõem seus grupos e nações, a um momento de reconhecimento, celebração e respeito enquanto seres humanos.

Observamos tal situação, quando atletas como Rebeca Andrade, Rafaela Silva e a norte-americana Simone Billes, negras e mulheres, oriundas de esferas sociais e econômicas classificadas de modo inferior, se destacam olimpicamente de forma excepcional, conseguindo nos causar encanto e orgulho, além de servirem de exemplos referentes a superação das dificuldades pelas quais passaram. Cito ainda a atleta Julien Alfred, vencedora dos 100 metros femininos, dando a primeira medalha olímpica para seu país: a ilha de Santa Lúcia, que antes deste feito olímpico, localizava-se na zona do não-ser, isto é, completamente desconhecida em sua condição de nação e sociedade, provida de cultura.

Penso que este exemplos citados, possibilitam-nos refletir e debater sobre a expressão de modos de ser que rompem com a colonialidade de caráter político, social, econômico, ético e étnico-racial-sexual, permitindo a expressão de outros modos de ser, relegados hierarquicamente à zona-do-não-ser, como afirma Maldonado-Torres, nas relações políticas, sociais e econômicas do cotidiano mundial globalizado entre nações e sociedades na atualidade. Neste sentido, talvez seja esta uma das características mais importantes dos jogos olímpicos: permitir que outros modos de ser, existir e agir no mundo, possam ser expressos, reconhecidos e respeitados em toda a sua integralidade, alteridade e humanidade.

Referência Bibliográfica:

Maldonado-Torres, Nelson. Sobre a Colonialidade do Ser: contribuições para o desenvolvimento de um conceito. Editora Verita-RJ, 2022.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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