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Antes que outubro acabe


Por: Jacilene Cruz
Data: 23/10/2024
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Sei que o dia 12 de outubro já passou, e esse mês, dedicado às crianças, está acabando. Antes que finde, preciso falar sobre elas.

Crianças são seres fascinantes. Eu, que venho de uma época em que, quando os adultos conversavam, saíamos do ambiente ou ficávamos mudos, me encanto com as observações “inapropriadas” e engraçadas que os pequeninos fazem. Vamos combinar que, na maioria das vezes, eles deixam qualquer lugar mais leve e alegre.

Ter idade próxima de parte significativa dos meus sobrinhos, me fez cativa dos sobrinhos-netos. São criaturinhas que, recebendo um pouquinho de atenção, fazem a vida mais viva e cheia de amor.

Reviver alguns desses momentos, vai reacender memórias em vocês também. Vamos lá.

Há algum tempo, minha mãe veio passar um período aqui em Roraima. Naquela época, Gabriel, meu segundo sobrinho-neto, tinha uns cinco anos. Ele a deixava um pouco encabulada, mas no fim das contas, todos, inclusive ela, se divertiam.

Certa vez, estávamos almoçando quando ele, que chegava faminto da escola, olhava para mim e dizia:

- Tia, sabia que a Bisa sabe tirar os dentes dela? Tira aí Vó!

Mainha, um pouco constrangida, respondia:

- Para com isso, Gabriel, tô mastigando!

E todos ríamos.

A inocência me deixava fascinada. Para uma criança, que não sabia o que é dentadura, nem os porquês que levaram ao seu uso, era fantástico ver os dentes de alguém saindo da boca. Se fosse desenho animado, a Bisa seria seu personagem preferido.

Eram muitas as situações engraçadas. Uma vez, ele me pegou:

- Tia, quando eu saio da escola eu vou pra house.

Brava, numa época em que as lan house eram viciantes, eu o questionei preocupada querendo saber quem o estaria levando para aquele lugar. E, faceiro, ele me respondeu:

- House é casa em inglês, tia...

Eu adorava. Impossível ficar aborrecida diante de tamanha sagacidade.

Sei que isso não é exclusividade dos meus sobrinhos-netos, mas só convivi com eles. Então, vamos a mais uma.

Em recente viagem à Bahia, Melissa, também sobrinha-neta, no aniversário de 85 anos de Mainha, ao cumprimentá-la com um abraço disse:

- Ela está “veiada”.

Riso geral. A percepção da velhice veio de forma espontânea, verdadeira e original. Criou uma palavra que expressa exatamente o que sente. E, assim como a Bisa, para Mel, o avô também está “veiado”.

O adjetivo novo e cacofônico revela mais uma vez quão puras e verdadeiras são essas pequenas criaturas.

Ah, diga-se de passagem, amo neologismos, por essa razão, meu deleite com Mel é maior ainda.

Crianças são fascinantes, como disse no início, e antes que outubro se vá, eu definitivamente, fico com a beleza de suas respostas, afinal, como disse o poeta, é a vida e ela é bonita[1].



[1] Paráfrase da música O que é o que é de Gonzaguinha.

Jacilene Cruz


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