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A Xenofobia e o Racismo em nossa paisagem


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 07/02/2022
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Tenho de reconhecer que os temas escolhidos para esta nova exposição de ideias, não são dos mais agradáveis. Por outro lado, tornam-se essenciais para discussão e reflexão, objetivando uma ação efetiva contra estes dois flagelos que persistem em se apresentarem em nossa história humana e mais especificamente, se demonstram presentes em nossa paisagem nacional, expressos a partir de fatos medonhos, como o ocorrido com o jovem congolês Moïse Kabamgage, cruelmente linchado à luz do dia. Como um espetáculo de barbárie pública, na da Barra da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro. Linchamento que demonstra uma dupla cumplicidade: a dos que o praticaram e a dos que o assistiram, sem nada fazer para impedir o linchamento.

Desta forma, tanto a ação de linchar quanto a inação de não impedir o linchamento, aparentemente ilustram, segundo a socióloga Flávia Mateus Rio da UFF: “Um compartilhamento social mais abrangente: tem as pessoas que matam e as pessoas que assistem, que estão no entorno. Esse é um elemento muito importante e pode ser conectado com a experiência da escravidão no sentido desse algo público, desse corpo negro sendo exposto publicamente, violentado, a cena pública como a paisagem de violência sistemática.” Expressa-se a propriedade do racismo estrutural, comum a uma sociedade como a brasileira, herdeira de uma tradição colonial e escravocrata ainda persistente em nossa paisagem cotidiana. Que pratica violências e violações contra corpos negros, subalternizados e marginalizados tanto racialmente quanto socialmente. São corpos objetificados e invisibilizados de tal modo, que um jovem negro congolês foi linchado em plena luz do dia e ninguém tomou qualquer atitude para ajudá-lo. 

Por sua vez, a xenofobia enquanto atitude de rejeição a tudo e todos que são estrangeiros, associada ao racismo contra imigrantes e refugiados africanos e latino-americanos (como os haitianos e venezuelanos) colocam em xeque mais uma vez, o mito da democracia racial, com a noção de que o Brasil é um país cordial e amigável para todas as etnias, não importando a sua origem. 

Moïse chegou ao Brasil com sua família, quando tinha 11 anos de idade, em busca da esperança de uma vida livre e digna, fugindo da violência em seu país. Quando linchado, ele trabalhava e era livre. Esses são valores essenciais para o reconhecimento e proteção da dignidade humana. Assim sendo, a violência racial e xenofóbica não pode continuar a fazer parte da nossa paisagem. O compromisso antirracista e antixenofóbico deve ser assumido por toda a sociedade.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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