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Racionalidade política da morte


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 05/02/2024
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Ao iniciar esta nova exposição de ideias, o título pode levar a formulação do seguinte questionamento: “Como relacionar racionalidade (Razão) com a ação de matar”? Tal questionamento afinal, aparentemente válido, coloca como irracional a ideia e a atitude de matar. Irracional e imoral! Neste aspecto, como falar de uma racionalidade política de morte? Só que esta forma de questionar, expressa por si mesma, a visão positiva de razão, enquanto promotora de uma ordem do bem, da libertação do humano, o respeito e promoção da existência humana. Praticamente a noção de uma racionalidade\razão pura e ideal, própria inclusive de um discurso da tradição ocidental.

Por sinal, podemos relacionar esta racionalidade de política de morte com uma forma de racionalidade instrumental, manipuladora de vidas, calculista e impregnada por uma visão de mundo que explora, exclui e descarta vidas consideradas enquanto inúteis, perigosas, nocivas ou simplesmente dispensáveis. Trago aqui para nossa exposição, debate e reflexão, a noção de uma racionalidade de Estado moderno que faz política segundo cálculos de vidas matáveis. Por interesses em nome da segurança da nação, segurança de uma população, pelo direito de ser e sobreviver, mas tudo a partir da morte e destruição da vida do outro, considerado inimigo, terrorista, ameaçador, inferior e incivilizado. Uma alteridade que não cabe no cálculo político-econômico, no mundo da “razão civilizatória”, que de alguma forma impede o bom funcionamento da “democracia” e por fim atrapalha uma lógica de mercado.

Estabelece-se conflitos entre grupos diferentes: a civilizada e democrática X a barbara, selvagem e antidemocrática. O Estado “civilizado e democrático”, calcula de acordo com seus interesses, segundo os ganhos em praticar a política de morte contra as populações incivilizadas, antidemocráticas e irracionais. Povos outros vadios, violentos e imorais, que ameaçam a democracia. Desta forma, calcular e executar sua morte faz parte inclusive de um modo de higienização e normalização. O único diálogo possível, a partir de uma racionalidade de política de morte, inclui forças como o medo, a falta de consenso, a negociação forçada e polarizada, além é claro o exercício da violência.

Devemos ser contra as práticas de terrorismo tanto por parte de grupos quanto dos Estados. Tem-se a necessidade mais do que nunca, de se respeitar direitos, costumes e necessidades uns dos outros. Penso que a alteridade e também os direitos humanos, desafiam a racionalidade política da morte. Podemos constatar esta situação no atual conflito ou como muitos denominam, para o recente genocídio que se desenvolve na faixa de Gaza.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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