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A profissionalização das palestras


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 05/06/2025
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Já cheguei a dizer que meu retorno financeiro com livros e palestras é praticamente nulo, para não dizer nulo. Já cheguei a dar (literalmente dar) palestras para trezentas pessoas e não receber nenhum centavo. Em outro lugar ministrei uma palestra em uma escola privada e recebi de agradecimento um caderninho promocional. O fato é que meu carro e o combustível não são pagos com “obrigado”.

É preciso dizer desde já: falta profissionalismo ou profissionalização das palestras no Brasil. A maior parte delas é dada por professores que estudam absurdamente para poder ofertá-las. Não é justo um retorno pelo esforço, nem que seja para o profissional comprar mais livro? Sobra-me a impressão que o que é de graça às vezes tem pouco valor.

Acontece, porém, que alguém sempre está a lucrar com as palestras, no caso, um coordenador de curso ou um dono de escola. No caso de coordenador de curso, o lucro é menor, e tem mais a ver com prestígio, o que pode lhe ajudar em uma ascensão ou manutenção do cargo. No caso do dono de uma escola, o lucro é óbvio: a clientela lhe paga pelo ensino e ele, proprietário, leva todo benefício, no caso, às custas do palestrante.

O ciclo do palestrante geralmente é este:

1.    Ele se forma em uma área do saber.

2.    Faz pós-graduações.

3.    Escreve. Para tanto, adquire muitos livros, faz cursos, viagens, e há os custos com as publicações, sejam elas físicas ou digitais.

4.    Realiza palestras.

5.    Pergunto: é justo que a pessoa arque sozinha com todos os custos de uma palestra, sem nenhum retorno? Tudo é muito dispendioso para o profissional.

Toda essa situação é de difícil resolução, e provavelmente não se resolverá a contento, e mesmo eu permanecerei a vida inteira cheio de palestras gratuitas. Porém, é preciso apresentar caminhos para o profissionalismo, ainda que estes flertem com utopias.

Se o profissional e a palestra são indispensáveis para determinada atividade e instituição, por que não remunerá-lo? Se a resposta for negativa, parece que ela carecerá de lógica. O trabalhador não é digno de seu salário? Talvez uma saída para esse problema seja inverter a lógica do jogo, a saber, a lógica que pede e não dá nada em troca. O trabalhador pode e precisa também dizer quantos custa o seu trabalho. É preciso parar com a banalização do tudo de graça e é preciso que exista um consumo do conhecimento, no sentido de remunerar o trabalhador. Isso tudo nada tem a ver com exploração do saber e com capitalismo selvagem, mas com contrapartida e respeito.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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