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A louca exclusão


Por: Rhuana Moura Pacheco
Data: 22/05/2023
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O dia 18 de maio, além de marcar o combate à violência e exploração infantil – Maio Laranja – também traz para discussão a Luta Antimanicomial, assunto que há tempos ocupa nossa sociedade e, principalmente, a psicologia e a psiquiatria. O Movimento da Luta Antimanicomial é caracterizado pela busca dos direitos das pessoas em sofrimento mental e ocorre desde o final da década de 1970.

O movimento teve dois grandes marcos no ano de 1987 para que o dia 18 de maio fosse escolhido: o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental em Bauru/SP e a I Conferência Nacional de Saúde Mental em Brasília/DF. Ativamente, desde 1980, a psicologia participa dos movimentos de reforma sanitária e psiquiátrica que possibilitaram a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e, também, a implantação de uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

O Movimento de Luta Antimanicomial visa a liberdade da pessoa com sofrimento mental. Dessa forma é contra o isolamento do indivíduo para tratamento, muitas vezes cruéis e desumanos. Há o objetivo, portanto, de relembrar que todo cidadão tem direito de viver em sociedade e de receber o cuidado e tratamento necessário sem perder sua liberdade e convivência. 

O manicômio é a tradução mais explícita dessa exclusão que marca também um contexto de violência física, psicológica e simbólica escondida por seus muros e restrições ditas como necessárias para o tratamento e protetivas. Isso ocorre por uma visão social sobre “louco e loucura” que foi criada pelos saberes médicos como sinônimo de alienação, doença, desajuste, irracionalidade e perversão que se mostra oriunda de uma moralidade social e cultural. Ou seja, sem se encaixar socialmente, o indivíduo é afastado da comunidade e submetido a tratamentos extremos.

O processo de mudança desse modelo faz parte de uma política de saúde mental complexa, que parte não só de uma mudança funcional, mas também social. É necessário que saibamos enxergar a doença mental e o indivíduo em sofrimento mental com outros olhos. Sem essa inclusão e sem preconceitos, não há uma efetividade total. Uma grande figura dessa luta é a médica Nise da Silveira, que ao adentrar os muros da saúde mental e dos manicômios, ficou incomodada com o tratamento destinado aos pacientes e passou a enxergar com uma nova perspectiva. No início, em um contexto majoritariamente masculino, foi muito julgada por suas medidas e considerações, mas hoje, reconhecemos que sem a sua influência pouco teríamos conseguido nessa luta.

É uma luta diária e constante. E o que cabe a nós, psi? Cabe um olhar amoroso e cuidado, sem preconceitos. As medidas destinadas à saúde mental merecem um olhar atento que começa em nós. Que possamos ter a mesma cautela que Nise teve. Eu, se fosse você, assistiria o filme “Nise – O coração da Loucura” para aprender um pouquinho sobre esse assunto.

REFERÊNCIAS

Lüchmann, L.H.H.; Rodrigues, J. O movimento antimanicomial no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 12, 2, 399-407, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/tx6gNG9GDzdh8wLcj3DW9px/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 mai. 2023.

Conselho Federal de Psicologia – CFP.

Rhuana Moura Pacheco

Habla mesmo, psi


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