A Linguagem da Guerra e a Morte da Política
Creio que todos ou a grande maioria há de concordar que a guerra retrata o ápice da barbárie e da bestialidade humana! Ou seria não-humana? Mesmo as guerras ditas justas, justificadas pelos discursos jurídicos, filosóficos e até religiosos, são passíveis de reprovação do ponto de vista moral. Contudo, aparentemente a nossa história sempre foi marcada e assim permanece, pela necessidade do inimigo, externo ou interno, para alimentar as guerras.
Paradoxalmente, por mais que reprovemos a guerra e propalemos tanto a necessidade quanto a preferência pela paz, a linguagem da guerra se faz presente em diferentes dimensões das nossas atividades. A política ou a nossa noção de fazer política, não escapa a esta presença da linguagem da guerra, ao contrário, torna-se cada vez mais marcada pela produção da imagem do inimigo. Neste estágio, os antagonismos se extremam e ganham um caráter belicista de tal modo que a construção do imaginário referente ao inimigo passa desde as cores das roupas que alguém use: verde e amarelo ou o vermelho, até posturas e expressões de valores, como a defesa por exemplo da união homoafetiva ou ser contra ela. São posturas construídas enquanto inimigas e não-dialogantes. Não há qualquer chance para o entendimento. Um mínimo de diálogo torna-se praticamente impossível. O inimigo deve ser eliminado para o bem do corpo social ou em nome da estabilidade do Estado. A práxis política, principalmente no âmbito da democracia, transforma-se em um campo de batalha de discursos, ações e valorações que transbordam de ódio e medo contra o inimigo produzido.
Assim, a política passa a ser mais e mais ferida de morte. Permanece apenas o seu verniz, com o objetivo de embasar a linguagem e a atitude da guerra. E a política democrática sofre constantemente com os bombardeios, que minam sua saúde e a ferem mortalmente. Principalmente na situação de democracias ainda combalidas como a nossa. Penso que esta situação deve ser vista com todo cuidado, pois a linguagem da guerra, enfraquecendo o potencial da ação política, pode esconder o fato que determinados governos, indiferentemente de sua posição ideológica, mais a direita ou a esquerda, não possuem de qualquer tipo de projeto político, visando somente a manutenção e perpetuação do poder. Desta forma, o governar se expressa enquanto o fomento de batalhas que não tem fim. Podendo acarretar o término do tecido social e político, além da morte da estrutura democrática.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com