A fuga do escritor, ou o autógrafo negado
Eu escrevo desde os doze anos. Faça chuva ou faça sol, faça frio ou calor, estou envolvido com o universo da escrita: ora lendo, ora escrevendo, ora corrigindo os meus textos. Eu sou escritor andando pelas ruas, com o papel nas mãos ou tomando banho. Eu imagino histórias em tudo.
Esse gosto pela leitura e pela escrita eu procuro levar para os meus alunos e, às vezes, eu consigo. Um deles, que já tinha inclinação literária, se inclinou ainda mais, de modo que o gosto por livros e por adquiri-los foi aguçado. Certa vez ele me disse que leu um livro e que tinha gostado. Para a sua sorte, por aqueles dias o autor do livro estaria em Maringá, minha cidade, e eu pensei: “quem sabe consigo dar um presente para o meu aluno.”
Chegado o dia da palestra, antes da do renomado escritor, haveria a de outro igualmente renomado, que era meu colega, inclusive colega de casa editorial. Pensei: “Assistirei às duas palestras”. Eis que no auditório, sem ninguém ao seu lado, vi o autor que meu aluno havia mencionado e pensei: “Ficarei perto e então pedirei um autógrafo.”
Em mãos eu não tinha o livro, pois eu sequer o tenho, mas apenas folhas sulfites e caneta. Discretamente eu disse ao escritor: “Olá, tudo bem? Você poderia autografar a minha folha? Um aluno leu o seu livro e eu gostaria de presenteá-lo com a sua letra.” A resposta foi: “Sim, pode deixar.”
Ao terminar a palestra do meu colega, cujo anfiteatro não tinha vinte por cento da lotação, aquele que eu pedi o autógrafo, meu vizinho de poltrona, olhou para mim, correu e não rabiscou a sua letra em meu papel. Na verdade, ele não correu, mas foi semelhante: andou com tanta velocidade, olhando para trás, até que entrou no camarim.
Quarenta minutos após esse episódio, eu quis saber como ele se apresentaria à plateia, e assim foi a sua fala, após uma reverência a todos: “É a minha primeira vez nesta cidade. Eu fui muito bem recebido. Toda a minha literatura tem como preocupação tratar personagens em vulnerabilidade social e é sobre isso que eu vim conversar.” O anfiteatro já tinha aumentado a capacidade para oitenta por cento da lotação, cerca de duzentas e cinquenta pessoas.
Tudo isso ocorreu no final da tarde de um domingo chuvoso, em que eu achava que o máximo que eu recebia seriam lições sobre escrita, mas, ganhei uma história memorável. Então, mandei uma mensagem para o meu aluno, agradecendo-lhe por tudo.