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A deriva de agrotóxicos e o futuro da sericicultura


Por: Alex Fernandes França
Data: 05/12/2024
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Durante meus estudos no mestrado em Ensino, conheci a obra Primavera Silenciosa, de Rachel Carson (1907-1964), que expõe as consequências devastadoras do uso indiscriminado de pesticidas químicos no meio ambiente e nas comunidades. Refletindo sobre essa leitura, uma vez que minha dissertação trata de Educação ambiental, vejo com clareza como os alertas de Carson dialogam com a crise enfrentada pelos sericicultores de Nova Esperança. A cidade, reconhecida oficialmente como Capital Nacional da Seda, por força da Lei 14.388/22 de autoria do deputado Rubens Bueno, enfrenta uma realidade preocupante: a deriva de agrotóxicos, que ameaça tanto a economia local quanto o equilíbrio ambiental.

No ano passado, produzi uma matéria para o Jornal Noroeste intitulada “Sericicultura em Nova Esperança e região passa por momento delicado devido à deriva de agrotóxicos”. A reportagem destacou o impacto alarmante da aplicação irregular de agrotóxicos, que tem causado mortandade crescente dos bichos-da-seda, fundamentais para a produção de casulos verdes. Essa situação foi novamente evidenciada esta semana, com um vídeo de sericicultores lamentando a perda de suas lagartas em um barracão, um símbolo trágico do desamparo enfrentado por essas famílias.

Uma educadora compartilhou comigo o vídeo, e a situação logo chegou ao meu conhecimento, despertando em mim um misto de tristeza e indignação diante de tamanha perda.

Em 2023, sericicultores organizaram um manifesto em Nova Esperança no dia 23 de outubro, com apoio da Associação dos Criadores do Bicho da Seda de Nova Esperança e Regiões (ACESP) e da Associação Comercial e Empresarial. As demandas apresentadas, como maior fiscalização e punições aos responsáveis pela deriva de agrotóxicos, continuam urgentes, já que os prejuízos financeiros somam mais de R$ 55 milhões apenas no último ano. Além disso, a audiência pública realizada em 22 de abril deste ano na Assembleia Legislativa do Paraná reforçou a gravidade do problema. Proposto pelo deputado Professor Lemos, o encontro abordou a necessidade de regulamentar a aplicação de agrotóxicos e proteger culturas sensíveis como a sericultura e a apicultura.

Carson nos alerta sobre um mundo onde o uso desenfreado de pesticidas pode silenciar a natureza e devastar a biodiversidade. Em Nova Esperança, esse "silêncio" é simbolizado pelas lagartas mortas e pelo abandono da atividade por mais de 500 famílias nos últimos anos. A sericultura, além de ser uma prática sustentável, contribui para a geração de emprego, renda e preservação ambiental. O colapso desse setor é um reflexo da negligência ambiental e da falta de políticas públicas eficazes.

O Paraná, ao mesmo tempo líder em produção de seda, mel e alimentos orgânicos, também é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do Brasil. Essa contradição expõe a urgência de medidas como a aprovação do Projeto de Lei 116/2021, que regulamenta o uso de agrotóxicos, e o 683/2019, que restringe seu uso em áreas sensíveis. Além disso, os sericicultores pedem a criação de programas de crédito subsidiado e capacitação técnica, medidas essenciais para revitalizar a sericultura e garantir sua sustentabilidade.

Com efeito, a conexão entre os ensinamentos de Primavera Silenciosa e a realidade vivida em Nova Esperança é um chamado à ação. Precisamos de um compromisso coletivo para proteger atividades agrícolas que respeitam o meio ambiente e sustentam comunidades inteiras. A Assembleia Legislativa, os manifestos dos sericicultores e a ampla cobertura jornalística são passos importantes, mas ainda insuficientes.

Se não agirmos, o silêncio predito por Carson poderá ecoar não apenas em Nova Esperança, mas em todo o nosso estado, comprometendo a biodiversidade e a subsistência de milhares de famílias. É hora de ouvir o clamor dos sericicultores e responder com ações concretas que promovam um futuro sustentável para todos.

“A história da vida na Terra tem sido uma história de interação entre coisas vivas e seus ambientes” - Rachel Carson (1907-1964)

·       Alex Fernandes França é Administrador de Empresas, Teólogo, Historiador e Mestrando em Ensino pelo PPIFOR – UNESPAR

Alex Fernandes França


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