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Sericicultura em Nova Esperança e região passa por momento delicado devido à deriva de agrotóxicos


Por: Alex Fernandes França
Data: 26/10/2023
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Sericicultores pedem mais fiscalização contra a deriva de agrotóxicos. Mortandade cada vez mais crescente de lagartas de bicho-da-seda aumenta com aplicações de agrotóxicos

A sericicultura, atividade tradicional da região noroeste do Paraná, passa por um momento delicado devido à deriva de agrotóxicos. O município de Nova Esperança é reconhecido nacionalmente como a Capital Nacional da Seda e possui mais de 100 barracões de bicho da seda, envolvendo, direta e indiretamente, mais de 500 pessoas.

Segundo o Gerente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná/Emater – Iapar – Unidade Nova Esperança, Valter Olivatti, a deriva de agrotóxicos é o principal problema enfrentado pelos sericicultores. “A deriva de agrotóxicos está causando sérios problemas para essa atividade. Anteriormente um grande problema era a pulverização aérea, que foi amenizado graças a Projeto aprovado pela  Câmara Municipal e sancionado  pelo Executivo que proíbe a pulverização aérea com avião. Os drones ainda são permitidos, mas segundo Olivatti, tem causado alguns problemas também no que envolve a intoxicação de lagartas. Além do avião, que causa mais danos, as pessoas têm que seguir as leis e aplicar nas horas mais frescas do dia e jamais se tiver temperatura alta no meio do dia o que é proibido. Começou a ventar, tem que parar a aplicação, pois não se sabe para onde vai o agrotóxico. Tudo isso já é regido pela lei, o que falta é ser cumprido. Também é uma questão de Saúde Pública, pois esses produtos, usados indevidamente, estão indo para nossas verduras e produtos que a gente se alimente. Estamos respirando isso. É muito preocupante e podemos ter problemas muito sérios”, pontuou Olivatti.

O prejuízo com a deriva de agrotóxicos é crescente e alarmante. Produtores vivem uma situação nunca antes vista no Estado, com aplicação maciça de agrotóxicos por produtores de outras atividades agrícola que deixam de lado todas as boas práticas. Os sericicultores reclamam que quem vive da produção do bicho-da-seda, as perdas são recorrentes.

Nas últimas duas safras, mais de 500 famílias vulneráveis no campo abandonaram a atividade em virtude dos prejuízos decorrentes da deriva causada por aplicação irregular de agrotóxicos nas culturas vizinhas. Foram mais de mil denúncias de perda total por intoxicação formalizadas aos órgãos fiscalizadores.

O Plano de Ações Integradas de Combate à Deriva de Agrotóxicos da SEAB – Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, está em vigor desde maio/2021, e mesmo assim os prejuízos para a economia do estado decorrente da perda dos sericicultores acumulam mais de R$55 milhões – com base na quantidade de produção de casulos verdes que deixou de ser comercializada exclusivamente por causa da intoxicação. Tudo o que foi investido na propriedade para a criação do bicho da seda foi perdido.

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Na contramão desta situação, o mercado internacional consumidor dos fios de seda brasileiros aumentou significativamente a sua demanda, e a indústria nacional de fiação de seda conquistou maior valor agregado com o reconhecimento de melhor qualidade do mundo e maior sustentabilidade (conforme Relatório da Universidade de Cambridge, UK, em Impacts on Biodiversity at Hermès Silk Supply Chain). O que abre possibilidade para novas áreas de produção dentro da agricultura familiar, com garantia de compra da produção, em um dos melhores momentos de mercado.

A Indústria de Fiação de Seda Bratac tem hoje a capacidade anual de compra de mais de 9 mil toneladas de casulos verdes por ano, para produção de 1.400 toneladas de fios de seda para exportação e demais subprodutos da seda para os segmentos de moda, biomateriais, alimentos, medicina e cosmética. Diante da restrição de matéria-prima (casulos do bicho da seda) a perspectiva de exportação em 2023 será de meras 300 toneladas de fios de seda, com um impacto negativo de R$ 550 milhões em produto final não produzido, e mais de 1.300 postos de trabalho reduzidos pela ociosidade dentro das fábricas.

Os sericicultores de Nova Esperança e região cobram mais fiscalização e punições aos responsáveis pela deriva de agrotóxicos. Eles também pedem que o governo do estado e a União apresentem medidas para incentivar a produção da seda, como a criação de um programa de crédito subsidiado e a capacitação de produtores.

“O sericicultor vem enfrentando desde 2021 o grave problema do agrotóxico, mas as últimas safras, de 2022 e 2023 a perda foi praticamente total, agravou muito, em abril montamos um grupo e estamos trabalhando com as autoridades, nós conseguimos que a lei ampliasse e proibisse a pulverização aérea, mas só a lei não basta. Infelizmente não tem fiscalização suficiente, e as regras não são cumpridas, chega um avião e passa o veneno até terminar, não importa o horário, o vento” – frisou a presidente da Associação dos Sericicultores de Nova Esperança e regiões Sericícolas do Paraná, Sandra Manieri.

Impacto social e econômico

A crise na sericicultura de Nova Esperança tem um impacto social e econômico significativo na região. A atividade gera emprego e renda para centenas de famílias, além de contribuir para o desenvolvimento do turismo rural.O abandono da atividade por parte dos produtores também tem um impacto negativo no meio ambiente. A sericicultura é uma atividade sustentável, que contribui para a preservação da biodiversidade.

Sericicultores de Nova Esperança e região cobram mais fiscalização e punições aos responsáveis pela deriva de agrotóxicos. - Fotos divulgação 

Medidas urgentes

Segundo Valter Olivatti, para evitar o colapso da sericicultura em Nova Esperança e região, é preciso tomar medidas urgentes. “Mais fiscalização e punições aos responsáveis pela deriva de agrotóxicos. É preciso que aumente fiscalização das aplicações de agrotóxicos e que punam severamente os responsáveis pela deriva. Isso deve incluir a suspensão das atividades das propriedades rurais que descumprirem as leis. É preciso agir rapidamente para salvar a sericicultura de Nova Esperança e região. Essa atividade é importante para a economia e para o meio ambiente da região, e não podemos permitir que ela desapareça.

O Gerente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná/Emater – Iapar – Unidade Nova Esperança, Valter Olivatti enfatizou que a deriva de agrotóxicos é o principal problema enfrentado pelos sericicultores. “Isso está causando sérios problemas para essa atividade”, frisou - Foto Alex Fernandes França/Jornal Noroeste

Os sericicultores da região noroeste do estado fizeram manifestação nesta segunda-feira (23) em Nova Esperança, conhecida no Brasil como capital da seda. O encontro foi organizado pela Associação dos Criadores do Bicho da Seda de Nova Esperança, Alto Paraná e Regiões (ACESP), além da Associação Comercial e Empresarial e a Prefeitura da cidade.


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