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“Aceito a grande aventura de ser eu”


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 06/12/2019
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No texto de hoje apresentarei uma crônica sobre o caminho na construção do autoconhecimento, e como isso nos ajuda a vivermos melhor conosco e com os outros.

O título é um trecho do livro de Simone Beauvoir; “As mulheres também choram”.

Não me lembro quais foram os momentos em que mais evoluí na vida. Não sei se foi ainda no ensino médio quando a professora me expulsou da sala e eu respondi a ela de maneira educada que a atitude dela estava equivocada. Eu não fiz o que ela pediu. Sabia quem eu era e não havia feito nada que justificasse uma expulsão. Contrariei a ordem dela em respeito a mim mesma.

Não sei se foi quando meu pai me acusou de roubar dinheiro da família no que eu calmamente disse a ele que jamais faria algo como aquilo. Também disse o quanto a atitude dele me desapontou. Cresci 10 anos nesse momento. Até então, nunca tinha enfrentando meu pai. Mas, eu não poderia me silenciar diante daquilo. A nossa relação mudou drasticamente depois disso, para melhor.

Talvez tenha sido quando chorei na frente de todo mundo do meu trabalho expondo a minha vulnerabilidade. Mostrei aos outros e a mim mesma que falho e perdoo a mim mesma por isso. Não dá para acertar sempre. Haverá muitos dias de fracasso. E é no fracasso que a gente mais cresce.

Talvez ainda tenha sido quando finalmente decidi sair de um emprego que eu odiava, ou quando me casei, ou quando tive meu primeiro filho, ou ainda quando chorei desesperadamente quando perdi minha avó de forma tão abrupta. A avó que eu considerava como minha segunda mãe. A gente nunca está preparado para perder pessoas que amamos. E a gente nunca mais é o mesmo depois disso.

Eu não consigo identificar o momento exato em que cresci e aprendi a lidar comigo mesma. Só consigo lembrar desses “sustos” que a vida nos dá, ou nos percalços que ela nos impõe, e como a gente tem que se virar para dar um jeito de não enlouquecer ou sucumbir em meio a essas reviravoltas.

Eu não sei quando foi que eu cresci tanto, o momento exato que me fiz dona de mim. Talvez tenha sido todo o acumulado de vivências que me fez quem sou hoje. Todos os “nãos” que a vida colocou em meu caminho. Todos os erros que me fizeram reavaliar o trajeto. Os momentos comigo mesma de solidão tão necessários ao autoconhecimento.

Todas as lágrimas que deixei escorrer. Todas as palavras que não guardei para mim entendendo e respeitando o momento de dizê-las. Porque quanto mais a gente se conhece, menos nos sentimos afetados pelo que os outros dizem ou fazem.

Todo o tempo gasto comigo mesma, seja fazendo aquilo que gosto, seja cuidando de minha saúde mental ou física, tudo isso me fez grande. E me fez reconhecer quando é preciso prosseguir, ou ainda, recuar. Afinal, existem recuos que são avanços, da mesma forma que algumas desistências são atos de coragem.

O que sou está em constante construção e cada passo dado são progressos que me ajuda a viver melhor comigo mesma e com aqueles que convivo. Talvez seja ainda preciso me perder muito, para poder me encontrar quantas vezes forem necessário. Talvez o sentido da vida seja o que eu mesma dou a ela. Nada de fugas que me fazem, no final, voltar sempre ao mesmo ponto: quem sou eu?

Eu? Aceito essa grande aventura. E você?

 

Simony Ornellas Thomazini é Psicóloga e Psicanalista. Atua como psicóloga na Assistência Social em Uniflor e psicanalista na Fênix Desenvolvimento Humano em Nova Esperança.

Simony Ornellas Thomazini


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