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Dia dos Namorados para quem?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 11/06/2019
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Na coluna de hoje apresento a vocês uma crônica em homenagem ao “Dia dos Namorados”. Vocês conhecem a história desta data? Apresentar-lhes-ei: 

O “Dia dos Namorados” foi criado por João Agripino da Costa Dória Neto na década de 1940, São Paulo. João Dória era publicitário, psicólogo, advogado e deputado federal brasileiro, e para alavancar as vendas do mês de junho devido a ausência de um feriado comercial, sua empresa publicitária criou o slogan: “não é só com beijos que se prova o amor”. A data foi escolhida porque antecede do Dia de Santo Antônio, considerado o santo casamenteiro. Com isso, ganhou o prêmio de empresa do ano. 

Vamos à crônica: 

O ‘Dia dos Namorados’ é marcado por mim com um antes e depois pelo homem na qual fui amada.

Ele, professor de História, sempre fez questão de contextualizar os fatos, e com esta data não poderia ser diferente. 

Lembro-me de dizer gostar mais de celebrar o que a gente havia construído juntos, e não seria uma data instituída por um publicitário lá na década de 1940 repercutida até os dias atuais, que faria ele me levar para jantar ou enviar flores, por exemplo. 

Tudo o que eu pensava sobre o “Dia dos Namorados” acabou quando eu o conheci. Eu que sempre presentei, era presenteada ou fazia mil planejamentos para a data, nunca mais olhei para este dia depois dele.  

No nosso primeiro 12 de junho me contou o contexto da data, e hoje, sete anos depois, ainda lembro-me com carinho de suas palavras.

Ele morreu num acidente de carro há sete anos. E há sete anos eu estou sozinha. E durante esse mesmo período, eu celebro o amor por outras coisas e pessoas. Não tenho filhos. Não me casei de novo. Optei pela vida que tenho hoje, e todo 12 de junho eu me lembro com uma dose de melancolia e outra de alegria sobre o amor que tivemos juntos. 

 Ele me dizia enquanto fazia a barba, amarrando os sapatos, ou fazendo qualquer outra coisa daquela vida que eu participava ao lado dele, palavras como essas:

“Não vai ser essa data que irá provar coisa alguma sobre o meu amor por você. E eu te amo. Amo a vida que temos juntos.  Embora eu te odeie por quase um segundo, depois eu sempre te amo mais, como a canção de Herbert Viana famosa na voz de Cazuza.” 

 “Não consigo dizer o porquê eu te amo. Se é a forma como você levanta os cantos da boca pra sorrir. Se é a maneira como você olha o mundo com olhos apaixonados. Se é o jeito como sou amado por você. Se é a maneira como come ou como quando me pergunta o que eu quero para o jantar com aquele olhar “não quero cozinhar hoje”. Não sei ainda se eu amo você por causa do seu joelho, ou da forma como você se enfurece diante das injustiças do mundo. Eu não sei. E não importa. Eu amo. E não vivemos só desse amor, há também todo o resto que eu e você, sabemos o quanto é importante. É o que resta do que eu te digo, do que fica por dizer, e do que eu nem sei o que irá acontecer, mas tenho comigo que você estará lá ao meu lado, e eu sei que estarei te amando mais do que nunca”.

E após dizer essas palavras, na maioria das vezes, eu não conseguia pensar em nada, só olhava pra ele, sorria e o abraçava, porque, afinal, abraços também são palavras.

Estivemos casados por apenas 3 anos. Por muito tempo eu amaldiçoei a vida e tudo a minha volta por ter tirado ele de mim de forma tão brusca e trágica. Depois, aprendi a falar sobre isso. E aprendendo a falar, eu consegui entender o que esses curtos, porém significativos anos representaram para mim. E pude fazer melhor com o que eu soube. 

Dia dos namorados para quem? Para aqueles que vivem o amor que diz. Aqueles que escolhem todos os dias seus parceiros. Aqueles que após uma discussão conseguem reconhecer os erros, e pedem perdão. Aqueles que não usam as mágoas como munições. Aqueles casais que aprendem um com o outro e o deixa ser só, porque entende que quando se ama é necessário doses de silêncio e distância, às vezes. Aqueles casais que aprenderam não fazer de dois, um, mas compreendem que o outro é outro, e é por essa diferença que se ama.

Dia dos namorados para quem? Para aqueles que não precisam de um dia específico para levar o parceiro (a) para jantar, dar presentes, escrever textões nas redes sociais ou dizer que ama. Para celebrar a forma de amar e como se é amado pelas sutilezas e gentilezas que esse ato nos ensina. 

Quem ama, fala. E por falar, se ajoelha. Quem ama não se importa em parecer vulnerável diante do outro, porque amar feminiza sim! E mostrar-se corajoso no amor é das formas mais lindas e humanas de poder vivenciá-lo.

Houve um antes e um depois dele. E as marcas desse amor serão sempre como faróis a guiar-me pela vida. O amor pode sempre virar outra coisa. No meu caso, transformou-se em esperança. E esperança é um sentimento próprio da vida. É a própria vida reinventando a si mesma. Sem ele, foi o que consegui fazer com aquilo que a vida fez comigo.

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
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