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Confusão e autoridade


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 05/12/2024
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Próximo do IFPR de Paranavaí há uma vila rural chamada São João, e próximo de Paranavaí há uma cidade também de nome São João, só que acrescentado “do Caiuá”. Entre a minha cidade e o município vizinho são trinta e cinco quilômetros de distância.

Eu tinha uma aluna que estudou o ensino médio no IFPR e depois cursou licenciatura em Química no mesmo lugar. Ela me informou que morava na vila rural São João. Como eu a via todos os dias no campus, cedo, tarde e noite, eu pensava o quão difícil era ela estar no Instituto, pois entre a sua casa e o lugar dos estudos era longe.

Acontece que por alguma razão eu confundi as informações e acreditava que ela morava em alguma vila rural em São João do Caiuá. Por causa desse engano, sempre falei para a minha aluna: “você não consegue voltar para casa para almoçar, então tem que improvisar um lanche no campus mesmo”, “cuidado ao voltar de moto”.

O irmão da moça prestou vestibular para cursar o ensino médio no IFPR e o mesmo que eu dizia para a irmã passei a dizer para ele, só que ele me dizia: “não é tão longe assim, professor”. Porém, eu insistia nas advertências.

Além do casal de irmãos, eu conhecia o pai deles, que é um escultor e artista envolvido com atividades culturais em Paranavaí. Uma vez que eu sempre o via no IFPR e nos bairros vizinhos desta instituição, eu perguntava se não se cansavam tantas idas e vindas de São João até Paranavaí. Ele dizia que não, porque era perto. Mas, para mim, perto é algo de cinco quilômetros, não trinta e cinco.

Um dia, resolvi perguntar para o artista onde era a casa deles em São João, ao que ele me disse que bastava atravessar a BR-376, que é logo após o IFPR, entrar na Vila Rural São João e virar na primeira rua à direita que a terceira casa já era a dele. Não dava nem dois quilômetros do Instituto. Então eu descobri o tamanho da minha confusão. Na verdade, meus alunos eram vizinhos de onde estudavam, por isso que a moça quase que morava no IFPR. Não consegui segurar o riso.

Por trás de uma grande confusão pode residir algo mais profundo do motivo pelo qual meus alunos nunca me corrigiram. Corrigir um professor é um tabu, e se eu dizia que era longe onde eles moravam e advertia para que tomassem cuidado, eram conselhos para serem ouvidos e seguidos. A autoridade do professor infelizmente passa pela dimensão do silêncio dos estudantes, por mais aberto ao diálogo que seja um professor em específico. O mesmo conhecimento, que é a principal fonte da autoridade docente, também pode gerar desentendimentos entre as pessoas e, em certos casos, inclusive abismos.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


Anuncie com Jornal Noroeste
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