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Sétima Arte:Pobres Criaturas


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 08/02/2024
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Esta semana vou me dedicar a um filme que tem gerado muita discussão há algum tempo. Antes mesmo de sua estreia para o grande público, essa obra já vinha chamando a atenção em vários festivais. Agora, com o período de premiações aberto, tem surpreendido a muitos ao conquistar diversos prêmios. Tanto é assim que há quem aposte que esse filme será capaz de tirar de Oppenheimer os principais Oscars aos quais concorre. Se isso é verdade, só o tempo dirá, mas que esse marketing positivo tem feito bem a Pobres Criaturas, isso é certo. Nesta semana, a Coluna Sétima Arte se dedicará a explorar um pouco mais desse peculiar Frankenstein feminista.

Pobres Criaturas emerge como uma obra cinematográfica provocativa e visualmente arrojada que explora, de maneira alegórica, a jornada de emancipação feminina. Sob a direção do diretor grego Yorgos Lanthimos, o filme adapta com maestria a obra literária de Alasdair Gray, resultando em uma narrativa única que mescla elementos vitorianos, criaturas bizarras e uma abordagem steampunk (esse é um subgênero de ficção que combina elementos estilísticos e tecnológicos da Era Vitoriana do século XIX com uma visão alternativa e futurista, geralmente movido a vapor, amplamente conhecido por sua estética retrofuturista), transformando o romance em um enigma fascinante.

A trama segue Bella Baxter, interpretada brilhantemente por Emma Stone, desde sua saída de casa até seu retorno, questionando a existência e desafiando o controle sobre sua mente e corpo. O enredo, embora aborde a ideia da emancipação feminina, não apresenta uma abordagem original, assemelhando-se a reflexões similares, como as exploradas por Greta Gerwig no sucesso Barbie. No entanto, a força de Pobres Criaturas reside na maneira como Lanthimos representa essa temática de forma torta, meticulosa e provocadora. Algo que chamou a atenção da academia e que elevou Pobres Criaturas ao patamar de um dos grandes candidatos ao Oscar desse ano.

Não há dúvidas de que Emma Stone é o grande destaque desse filme, personificando de maneira envolvente o processo de amadurecimento de Bella. Sua atuação, repleta de comicidade física e expressão aguçada, eleva a obra, tornando-a cativante mesmo em sua jornada cíclica. A escolha estética de Lanthimos, do preto e branco inicial à explosão de cores na libertação de Bella, contribui para a experiência visual, transmitindo o senso de maravilhamento da protagonista.

O elenco, além de Stone, entrega performances memoráveis. Mark Ruffalo destaca-se ao transformar seu personagem de romântico aproveitador a sofredor por amor, proporcionando momentos mágicos e cômicos. Willem Dafoe, embora limitado pelas próteses pesadas, contribui para a atmosfera peculiar do filme. Contudo, Ramy Youssef não consegue entregar tudo o que se espera dele, muitas vezes perdendo-se na narrativa.

Apesar de alguns problemas pontuais, o diretor Yorgos Lanthimos mais uma vez acerta ao desafiar a indústria cinematográfica em seu formato mais comercial. Pobres Criaturas é tudo, menos comercial. Como obra de arte ele é uma sátira inteligente que, por meio de uma história de época, satiriza sua própria base literária, oferecendo uma lição atemporal sobre emancipação feminina. A visão inconformista do diretor é vital para revitalizar a indústria, proporcionando uma narrativa que ressoa tanto no séculoi XIX quanto nos dias atuais.

O roteiro elaborado de Tony McNamara é uma aula narrativa que permite diversas interpretações, desde leituras psicológicas até sociais. A beleza está no polimento dos personagens, em diálogos afiados e na atenção aos detalhes, tudo cuidadosamente construído para provocar risos e constrangimentos na medida certa.

A partir do roteiro, que constrói uma protagonista complexa, destaca-se a evolução interpretativa notável de Emma Stone, que transforma sua personagem de uma criança em corpo adulto para uma figura adorável em sua ingenuidade social. Tecnicamente falando, o filme como um todo merece reconhecimento em diversas categorias, desde a atuação excepcional até os planos de câmera, enquadramentos e aspecto estético, sobretudo o trabalho de fotografia, que proporcionam uma experiência cinematográfica enriquecedora e repleta de detalhes cuidadosos. Um espetáculo por si só, oferecendo uma experiência visual imersiva.

Vamos à trama! No final do século XIX, o estudante Max fica fascinado pelas aulas de anatomia do doutor Godwin Baxter. Ao conseguir uma vaga como assistente na casa do professor, ele conhece Bella Baxter, filha adotiva do doutor que, apesar de ter corpo de adulto, age como uma criança devido a um experimento científico executado por God. Max se apaixona por Bella e decide se casar com ela, mas antes, Bella deseja explorar o mundo ao lado do advogado Duncan Wedderburn. Essa jornada fora de sua casa permitirá a Bella vivenciar as diversas facetas do mundo desconhecido.

Impossível comentar sobre a trama e não citar a segunda parte da jornada de Bella, momento que a conduz ao amante, representado por Mark Ruffalo. A abordagem do filme às relações interpessoais, particularmente no contexto do desejo e do poder, é desafiadora. Ruffalo, em sua caricatura de galanteador, oferece uma performance que oscila entre o engraçado e o doce, provocando uma hesitação do espectador em detestá-lo. Algo que gera um sentimento de dualidade de emoções no espectador e que reflete a habilidade do elenco em lidar com nuances complexas.

Por que ver esse filme? Pobres Criaturas deve ser visto por ser uma obra que transcende expectativas ao abordar a emancipação feminina de maneira única. Com uma direção visionária, atuações memoráveis e um roteiro complexo, o filme se destaca como uma contribuição valiosa para o cenário cinematográfico contemporâneo, sendo ele um forte candidato aos prêmios que ainda estão por vir nessa temporada. Além disso, deve ser visto porque o diretor Yorgos Lanthimos mais uma vez desafia as convenções, revitalizando a indústria com uma narrativa que ressoa além de sua época, oferecendo uma reflexão profunda sobre o controle, poder e emancipação em uma sociedade complexa e contraditória. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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