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Sétima Arte


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 23/09/2022
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Existem filmes que são predestinados ao sucesso. Essas poucas obras, desde a concepção, chamam atenção o suficiente para estrearam com os holofotes todos voltados para elas e com o público esbanjando expectativas. A estreia dessa semana é um perfeito exemplo disso. O filme A Mulher Rei vem chamando atenção faz tempo, seu enredo e seu elenco já criaram uma aura em torno da produção, de forma que mesmo antes de estrear ele já é uma unanimidade de público e crítica, por exemplo, no site Rotten Tomatoes. Sobre A Mulher Rei a edição dessa semana vai trazer tudo o que é preciso saber para contemplar essa superprodução.

O filme é um grande épico de guerra, mas desde sua exibição no Festival de Toronto muita gente passou a compará-lo com obras anteriores. Isso é bem interessante porque a maioria das comparações feitas são bastante pertinentes. No entanto, o filme se sustenta sem precisar ser comparado com nenhuma outra grande obra, isso porque ele exibe tamanha originalidade que é capaz de ofuscar até mesmo outros filmes famosos.

Sobre as comparações, vale a pena citar algumas para que você possa criar um parâmetro do que esperar. A obra tem como centro uma trama baseada em fatos e que acabou servindo de inspiração para boas histórias. Para além disso sua ambientação é favorável para que a trama lembre acontecimentos próximos de outras épocas e períodos, salvo os possíveis anacronismos. Dessa forma, é possível perceber que a poderosa guarda real de Wakanda, do filme Pantera Negra, formada apenas por mulheres (Dora Milaje) é uma cópia do exército apresentado em A Mulher Rei. As amazonas dos filmes da Mulher- Maravilha também são uma versão prévia e clássica desse mesmo exército, que, em sua versão africana, é conhecido como Agojie. Além disso, é quase inevitável a comparação entre a estreia da semana e o clássico Gladiador, de Ridley Scott.

Independente de tudo isso, o filme é original por trazer uma história real e surpreendente. Mais que isso, por dar ênfase para a cultura, para o poder e para uma nação inteira de africanos que ostentam magistralmente toda a sua grandeza. Ambientando no Reino de Daomé, atual Benin, no século XIX, o filme não traz nenhum tipo de herói (ou super-herói) fictício como aqueles aos que o cinema da atualidade acabou se acostumando. Pelo contrário, não é apenas baseado em figuras profundamente humanas, como faz com que essa humanidade seja o cerne de todo o encantamento ao qual o filme é capaz de gerar.

Ciente disso, a diretora Gina Price-Bythewood usa essas figuras reais para construir um filme grandioso. Segura do que é capaz de entregar, a diretora apresenta uma narrativa que prende o expectador do início ao fim, fazendo com que ele se sinta parte da história apresentada. Gravado todo na África do Sul, com figurinos perfeitos e uma impecável ambientação de época o filme é uma experiência de imersão, por isso, precisa ser visto na tela grande.

Seu roteiro, escrito por Dana Stevens, sabe muito bem aproveitar a base histórica para inserir o que ficcional de maneira muito natural. Por isso, o roteiro não foge da premissa de apresentar o exército como um grupo de mulheres incríveis e imbatíveis, mas aproveita todas as oportunidades para mostrar ao público que até mesmo essas mulheres poderosas e empoderadas não estão isentas de dores, traumas e sonhos. Tudo isso acaba por construir um drama complexo, profundo e, acima de tudo, coerente. Interessante é que para além do drama, o roteiro abre espaço para muita ação, extremamente bem coreografadas e empolgantes. Tendo isso claro, compreende-se que esse é aquele tipo de filme capaz de atender a todos, desde os mais sensíveis até aqueles que estão interessados apenas em boas sequencias de luta e ação.

Mas, nada do que apresentei de positivo a respeito desse filme até agora teria sentido se não fossem levados em conta o brilhantismo e o profissionalismo da senhora Viola Davis. Ela é o grande nome por traz de A Mulher Rei. Ganhadora de um Oscar, eu não tenho dúvida nenhuma de que ela se encaminhará para mais uma indicação por causa desse filme. Aos 57 anos, a atriz Viola Davis tem emplacado no cinema e na televisão personagens multifacetadas e profundas. No papel da general Nanisca, protagonista do filme em questão, não é diferente. Mais do que ninguém, ela sabe bem qual o impacto e a importância de apresentar para o mundo uma personagem forte, negra e mulher. Como Nanisca ela incorpora e leva para a tela grande todo o caráter batalhador e heroico de milhares de mulheres negras reais ao redor do mundo. Sua personagem exala autoridade, garra e força, mas quando é preciso ela é sutil e completamente frágil. Uma aula de equilíbrio na arte de atuar. Além dela, está no elenco a atriz sul-africana Thuso Mbedu — que até então havia trabalhado em obras para TV mas que agora faz sua estreia em grande estilo no cinema —, também John Boyega, conhecido do público por sua participação na nova trilogia de Star Wars e Lashana Lynch.

Agora, vamos à trama! Nanisca e sua filha Nawi, fazem parte do exército de um dos reinos mais poderosos da África entre os séculos XVII e XIX. Juntas elas combateram com seu grupo os colonizadores franceses, tribos rivais e todos aqueles que tentaram escravizar seu povo e destruir suas terras. Após uma batalha com uma tribo oponente, muitas guerreiras foram mortas e ela se vê obrigada a treinar um novo grupo de recrutas para seu exército.

Por que ver esse filme? Primeiro, porque possivelmente esta seja uma das obras mais importantes a chegar no cinema nesse ano de 2022. Para mais, é um filme coerente, com uma história envolvente e capaz de arrebatar tanto o público quanto a crítica. Seu elenco é muito centrado e as questões técnicas foram todas seguidas à risca, exemplo disso é o belíssimo trabalho de fotografia. Já para nós, brasileiros, esse filme é mais que interessante, porque apresenta a história pouco conhecida da região onde moravam os ancestrais de boa parte dos afrodescendentes de nosso país, isso porque a região do Benin é a origem de muitos escravizados trazidos pelos traficantes de pessoas para o Brasil pós Era das Navegações. Um longa-metragem empolgante que é uma excelente desculpa para dar uma escapadinha para o cinema no fim de semana. Boa sessão!

Assista ao trailer: A mulher rei

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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