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Sétima Arte - Destacamento Blood


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 12/06/2020
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A minha indicação dessa semana é sobre um filme que acabou de estrear na Netflix, um longa originalmente produzido por essa empresa e criado e dirigido por ninguém menos do que o grande Spike Lee. Destacamento Blood tem sido muito esperado pela crítica e pelos fãs do diretor por ser seu primeiro longa após ele ter vencido o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, por Infiltrado na Klan, em 2019. Caso você não conheça Spike Lee, vou começar fazendo uma breve apresentação sobre a vida e a obra desse ícone do cinema afro-americano.

Spike Lee é um artista completo, é diretor, escritor, produtor, documentarista e ator. Nascido na década de 1950 em Atlanta, nos Estados Unidos, cresceu numa sociedade marcada pelo preconceito racial e isso serviu de inspiração para sua obra. Nunca foi fácil ser negro nos Estados Unidos, ainda mais num meio tão fechado quanto a indústria cinematográfica. Por isso, ao longo dos anos 1980 Spike Lee ganhou espaço na cena independente com seus filmes carregados de grande crítica social.

Em 1989 ganhou o mundo com seu instigante Faça a Coisa Certa, uma comédia dramática que abordava o conflito racial na Nova York dos anos 1980 e que conquistou o público e a crítica. Por esse filme, Lee recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original e isso era o que faltava para que ele chamasse a atenção dos figurões de Hollywood.  Dessa forma, durante a primeira metade dos anos 1990 ele manteve o foco de suas produções na questão racial e chegou a dirigir o excelente Malcolm X, sobre a história real de um famoso ativista negro dos anos 1960, nos Estados Unidos. Mas, com o passar do tempo ele perdeu um pouco desse foco crítico em suas produções, não que isso tenha interferido na qualidade de seus filmes.

Recentemente ele tem encontrado espaço para voltar às origens e tem agradado de forma geral pelo tom mais questionador de suas últimas obas. Renomado por suas críticas ácidas, o Oscar recebido em 2019 foi a coroação de uma carreira brilhante que o elevou ao mesmo patamar onde estão os grandes nomes do cinema, hoje ele é reconhecidamente uma autoridade no assunto. Bem por isso, ter uma produção sua na Netflix é uma excelente forma de torná-lo muito mais conhecido e popular. Algo que aconteceu recentemente com outros grandes nomes, como Alfonso Cuarón ou Martin Scorcese. Ambos fizeram parcerias com a Netflix e tiveram excelentes resultados, inclusive o filme de Cuarón, Roma, que ganhou as principais categorias do Oscar. 

Agora chegou a vez de Spike Lee fazer esse mesmo tipo de parceria e ele faz isso em grande estilo, oferecendo ao público um gênero que agrada a quase todo mundo, ou seja, um filme de Guerra. Como estou fechando o texto da Coluna antes da estreia do filme, eu não posso dar grandes detalhes técnicos a seu respeito, mas posso comentar sobre o que é possível perceber a partir do trailer. 

Destacamento Blood continua inédito e incógnito tanto para o público quanto para a crítica, pois, a princípio, o filme deveria ter sido apresentado no Festival de Cannes e assim conheceríamos pelo menos uma prévia a partir da reação da mídia especializada. Mas isso não iria acontecer de qualquer forma, porque mesmo se o Festival não tivesse sido cancelado devido à pandemia de Covid-19, o filme ainda assim não seria exibido, pois Spike Lee havia sido escolhido para ser o presidente do júri da competição desse ano. Dessa forma, os mistérios sobre a obra são ainda maiores.

Mas sobre o filme, o que eu posso afirmar é que ele despertou em mim grandes expectativas, as poucas cenas do trailer já revelam que existe nele uma forte influência do excelente Apocalypse Now, filme de Coppola de 1979 e que é um clássico do gênero. Além disso, chama atenção o elenco de estrelas ostentado por Destacamento Blood, começando por Delroy Lindo, passando por Jonathan Majors, Jean Reno, Paul Walter Hauser e terminando com Chadwick Boseman, o eterno Pantera Negra do Universo Cinematográfico da Marvel.

Vamos à trama! A história acompanha um grupo de quatro veteranos afro-americanos que retornam ao Vietnã buscando os restos mortais do líder de seu antigo esquadrão e um tesouro enterrado, ao fazerem isso tentam encontrar suas inocentes vidas perdidas pelo caminho.

Por que ver esse filme? Primeiro, porque o clima atual é favorável a uma reflexão mais aprofundada. A recente onda de críticas e protestos contra o preconceito racial, que tomou conta do mundo após a morte de George Floyd, abre um espaço valioso para a reflexão geral sobre a forma como entendemos, respeitamos e valorizamos os afrodescendentes em nossa sociedade. A maior parte das obras de Spike Lee são convenientes para esse tipo de reflexão e tenho certeza que com essa não será diferente. Quando tiver oportunidade aprecie as outras obras desse diretor citadas ao longo do texto, pois é impossível assistir a um filme de Spike Lee e continuar indiferente. Boa sessão! 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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