A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


O Convento


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 03/08/2023
  • Compartilhar:

Passadas as grandes estreias, o cinema vive aquele período típico de calmaria. Com a ressaca pós blockbusters ainda movimentando as salas de exibição, vemos o estranho movimento de filmes mais discretos que tentam surfar na onda de popularidade de obras mais expressivas. Situação que define bem o cenário atual do cinema local. Enquanto outra obra da grandiosidade de Barbie não despontar por aqui, o que os fãs da Sétima Arte enfrentarão nas próximas semanas será esse marasmo. Como já mencionado, algumas obras estão se aproveitando muito bem do que sobrou de interesse em relação ao filme da boneca para angariar público, é o caso de Megatubarão 2 - que já está em cartaz há alguns dias, e da estreia dessa semana, o terror O Convento.

Iniciemos com uma questão pertinente: o que torna filmes de gêneros tão opostos ao de Barbie uma boa opção para esse período em que a boneca reina soberana nas bilheterias? A resposta é simples, os dois, tanto Megatubarão 2 quanto O Convento, são filmes que agradam abertamente a homens de meia idade, que ao levarem suas esposas ou namoradas ao cinema, não terão nem interesse e nem paciência para o filme cor-de-rosa e, dessa forma, poderão passar o tempo assistindo algo com o qual estão mais acostumados.

O filme de Jason Stathan, Megatubarão 2, é uma sequência, por isso o público já sabe bem o que esperar, mas o que realmente chama atenção é O Convento. Seu trailer, estratégico, desperta a curiosidade de muita gente, apresentando uma trama macabra que reúne elementos que instigam a imaginação do público, como, por exemplo, a religião, ou um grupo de pessoas repleto de limitações/obrigações impostas pela religião e que se encontra isolado no meio do nada. Soma-se a isso um mistério envolvendo um assassinato e um possível suicídio. A trama perfeita para um filme de terror/suspense, mas que no final não funciona tão bem.

O diretor de O Convento, Christopher Smith, já é uma figura conhecida entre os fãs de terror. Esse cineasta britânico tem fama de dirigir filmes de terror e suspense com reviravoltas intrigantes. Um exemplo é o filme O Ritual: Presença Maligna, de 2020, que foi muito elogiado principalmente por conta de sua atmosfera assustadora e de sua abordagem peculiar relacionada à religião. Era meio bagunçado, mas deu certo. Esse histórico gerou bastante expectativa entre os fãs do gênero para a estreia de O Convento, já que mais uma vez ele iria abordar como tema questões religiosas. No caso, da religião cristã.

Entretanto, pode-se afirmar que houve um certo desperdício de trama e roteiro por parte do diretor. O roteiro não sabe aproveitar todos os elementos que a trama oferece e se perde em um vai e vem temporal constante, que, diferentemente do que acontece com Oppenheimer, não colabora para uma melhor compreensão do público em relação à história que se pretende contar. Pelo contrário, torna a obra cansativa e gera uma expectativa que nem sempre é atendida.

Desse vai e vem, o que mais chama a atenção é a infância da personagem principal, algo tão fora do comum que por si só já prenderia a atenção do expectador e poderia construir um clima de tensão e pesar capaz de devastar o público, afinal, uma criança aprisionada numa jaula é algo, no mínimo, perturbador! Mas o diretor não dá a devida atenção e tratamento para isso e esse se torna mais uma boa ideia desperdiçada em O Convento.

A carência de sequências típicas de terror, aquelas que até parecem bobas, mas que geram pequenos jump scares entre uma cena e outra também corrobora para que o filme se arraste. Assim, o caminho trilhado em busca de desvendar o mistério central não prende e nem diverte tanto quanto o público gostaria, tornando o filme muito mais enfadonho e muito menos tenso e aterrorizante.

Os bons atores e atrizes que compõem o elenco até que tentam salvar a obra, entregando excelentes atuações, a começar pela protagonista, interpretada por Jena Malone. Com a experiência de quem já interpretou personagens de peso no cinema, Jena Malone entrega uma Grace interessante e misteriosa, tal qual um livro a ser desvendado. Além dela, estão no elenco Thoren Ferguson, como detetive Harris, Janet Suzman, como Madre Superiora sem dúvidas, a personagem mais interessante da história, mas que ganha pouco espaço, e Danny Huston, como Padre Romero.

Quem me conhece sabe que eu tenho um pé atrás com filmes que abordam deliberadamente a religião como base para a construção de uma história, principalmente se a história for de terror. Em geral, há sempre um tom de desrespeito e generalização frente a crença de milhares de pessoas. Algo que eu considero particularmente ofensivo, mas, de qualquer forma, a liberdade é a força motriz de toda e qualquer arte, inclusive do Cinema. Por isso, é sempre necessário olhar essas obras com um olhar para além do que o senso comum e da moral religiosa, sobretudo a cristã, impõem. Talvez por isso, para muita gente o fato de Grace, mesmo sendo leiga, utilizar hábito (as vestimentas das religiosas) no convento não incomode tanto, mesmo que para os mais religiosos seja uma banalização de algo tão sagrado. Mas, se não fosse assim provavelmente o filme não teria o mesmo apelo de marketing junto ao público. Vamos à trama!

Após a morte de seu irmão padre, Grace viaja até um convento isolado, na Escócia, em busca de pistas para descobrir o que realmente aconteceu. Nesse lugar, ela descobre muito mais do que poderia imaginar, isso porque para além de um assassinato, existe uma verdade perturbadora que está prestes a vir à tona.

Por que ver esse filme? Dos poucos terrores lançados em 2023, O Convento não é claramente um dos melhores, mas também não é um filme que deve ser totalmente descartado. Vale a pena ser visto principalmente por causa de suas locações interessantes a paisagem da Escócia escolhida para o filme é linda, por suas atuações inspiradas e pelas boas ideias utilizadas na trama central. Esses três aspectos devem ser o suficiente para que você possa enfrentar a confusão e a falta de ritmo impostas pelo roteiro e pela direção. Do mais, é a curiosidade que irá falar mais alto ao longo de todo O Convento e é ela que faz a ida ao cinema valer a pena. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.