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O Beco do Pesadelo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 27/01/2022
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Para a estreia dessa semana temos o mais novo filme do grande diretor Guillermo Del Toro. Entre grandes expectativas, o filme chega ao cinema em plena onda de contágios por Covid-19 em sua versão mais atualizada, a ômicron. Interessante considerar que a alta transmissibilidade dessa cepa não tem intimidado nem a indústria cinematográfica, nem as redes de cinema e muito menos o público. Um sinal de que a arte ainda fala mais forte do que o medo e que nutrir a alma também é uma forma de combater o vírus. Por isso, a Coluna Sétima Arte dessa semana se dedica ao artístico, mas sombrio O Beco do Pesadelo.

Em 2018, Guillermo Del Toro, mundialmente conhecido pela sua forma bizarra e fantástica de fazer verdadeiras obras de arte e que tem como grande característica os verossímeis e criativos monstros, surpreendeu a todos ao ser o grande ganhador do Oscar daquele ano (seu filme premiado foi A Forma da Água). Entre os vários prêmios conquistados estava o Oscar de Melhor Diretor. Desde então ele esteve bastante sumido e agora brinda o público com um filme intrigante e que apresenta um outro tipo de monstro, muito menos fantástico e muito mais perigoso, o ser humano.

Baseado no livro de William Lindsay Gresham, a obra já havia sido adaptada para o cinema anteriormente, em 1947, com o título O Beco das Almas Perdidas. Agora Guillermo Del Toro revisita essa história e concede a ela seu toque pessoal e inconfundível. Como grande diretor que é, Del Toro sabe impor um clima sufocante de tensão do início ao fim. Por outro lado, constrói em cada sequência uma verdadeira obra prima visual, com seus tons sombrios, carregados de cinza e azul, que dão um novo sentido ao termo noir.

Beco do Pesadelo

Fugindo da sua zona de conforto, o diretor deixa de lado as histórias baseadas em fantasia e leva para o cinema um conto extremamente humano, capaz de fazer o expectador reavaliar a trajetória do protagonista e presumir claramente que existe uma moral ao final da história, no melhor estilo “fábulas de Esopo, mas, no caso, muito mais psicológicas e maduras do que a do famoso escravo da Antiguidade (Esopo era um escravo contador de histórias que viveu na Grécia Antiga e era conhecido por suas fábulas altamente carregadas de valor moral que atravessaram os séculos e são difundidas, principalmente, entres crianças nos dias de hoje).

Vale a pena mencionar que, para conceber seu conto macabro, o diretor o divide em dois atos muito distintos. O primeiro, muito mais visual, se passa num “circo de horrores. É nele que o protagonista apresenta seus primeiros traços de psicopatia e que encontra as habilidades que fará dele alguém mais importante. Nesse ponto, o público já sabe do que esse personagem é capaz, pois o prólogo já deixa isso muito bem definido, bem por isso como o personagem já foi apresentado , Del Toro utiliza da sua grande capacidade visual para conduzir o público ao longo da jornada que o protagonista pretende trilhar. Por isso, fique sempre atento a tudo o que está ao redor nesse primeiro ato.

Diferente do primeiro, o segundo ato é muito mais cru e se passa no ambiente urbano. Carente de recursos visuais, é possível entender nitidamente que o roteiro busca, a partir daí, gerar uma disparidade entre os dois mundos apresentados, levando o público a deduzir que a vida na cidade é mais fria, monótona e sem os encantos e mistérios vivenciados no circo. Esse realismo tão incomum para as obras de Del Toro é compensado pelos profundos diálogos sobre temas demasiadamente humanos. Psicológicos e altamente angustiantes, eles ajudam a compor a trama que se mantém mesmo sem oferecer um poderoso plot twist. 

Mas Guillermo Del Toro não é a única estrela do filme! Seu elenco é uma verdadeira constelação, afinal, quem não quer trabalhar com um prestigiado ganhador do Oscar (risos). O papel principal ficou a cargo de Bradley Cooper. A meu ver, ele nunca foi um ator excepcional e muitas de suas atuações em obras famosas foram bastante supervalorizadas, mas, no filme em questão, ele se encaixa perfeitamente. Sendo assim, o que se tem é umas das, senão a, interpretações mais maduras de sua carreira. É impossível não odiá-lo ao longo da trama. Além dele estão na obra Cate Blanchett, Toni Collette, Rooney Mara e o extremamente talentoso William Dafoe. Vamos à trama!

O filme traz a história do vigarista carismático, mas sem sorte, Stanton Carlisle. Ao entrar para um "circo de horrores", ele conhece a vidente Zeena e seu marido Pete. Com eles Stan vislumbrará a possibilidade de aprender supostos truques mágicos que lhe permitirá conquistar muita riqueza às custas da elite de Nova York nos anos 1940. Numa de suas performances, ele acabará se envolvendo em um jogo bastante arriscado com a psicóloga Lilith Ritter que busca expor suas habilidades fraudulentas. Dessa forma, Stan irá se envolver com um homem rico que deseja contratá-lo para falar com o falecido filho, uma oportunidade ímpar para ganhar muito dinheiro, mas a psicóloga será uma verdadeira pedra no sapato de Stan.

Por que ver esse filme? Por mais cruel que o filme possa parecer, ele ainda é um filme muito necessário. Mesmo trazendo uma história num contexto muito específico, no caso o dos anos 1940, ele ainda é um filme que dialoga muito profundamente com a realidade dos tempos atuais. O filme trata sobre charlatanismo, sobre explorar a fé ou o desespero alheio e traz uma mensagem muito objetiva: sempre há consequências. Num mundo onde aparentemente qualquer absurdo, por parte de alguns, é aceitável, ver um filme onde ironicamente a justiça acontece é, no mínimo, uma satisfação. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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