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Meu Nome é Gal


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 19/10/2023
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Com o feriado prolongado, não tivemos o texto da coluna na última edição; entretanto, esta semana a Coluna Sétima Arte será dedicada a um filme nacional, o que, por si só, já é um prazer. Não apenas escrever sobre, mas principalmente prestigiar um filme nacional, deve ser visto como um ato de resistência ainda hoje no Brasil. Isso porque o filme lançado na última semana foi produzido em meio à grande crise que assolou a indústria cinematográfica brasileira durante os anos do governo Bolsonaro. Por esse motivo, se houver falhas ou dificuldades técnicas no filme, elas devem ser vistas como irrelevantes, dada a circunstância da obra ter sido concebida em um período marcado por cortes de recursos, debates ideológicos, ameaças de censura e incertezas quanto à liberdade artística. No entanto, a indústria cinematográfica também demonstrou resiliência, com cineastas e profissionais do setor buscando alternativas para enfrentar esses desafios e continuar a produzir filmes relevantes e significativos. Um exemplo disso, é o filme em questão: Meu Nome é Gal.

Meu Nome é Gal foi lançado com a promessa de ser um marco no cinema brasileiro pós-pandêmico, mas lamentavelmente não consegue cumprir integralmente as expectativas geradas em torno dele. Mesmo assim, ele se apresenta como uma obra pertinente e que merece ser vista na tela grande. O filme, que tinha como objetivo retratar a vida e a carreira da icônica cantora Gal Costa, acaba se revelando positivamente como um interessante veículo para explorar os turbulentos “anos de chumbo” da história brasileira.

Após a morte de Gal Costa, o interesse pelo filme cresceu substancialmente, tanto entre seus fãs ardorosos quanto entre aqueles que não eram familiarizados com sua obra. Entretanto, é evidente que uma artista do calibre de Gal Costa merecia uma cinebiografia mais cuidadosa e bem elaborada. O filme, embora seja de importância histórica, deixa a desejar em termos de narrativa, desenvolvimento de personagens e execução geral.

Uma das poucas inovações da obra é sua tentativa de evitar os clichês tradicionalmente associados às cinebiografias. Em vez de seguir a rota convencional de começar pela infância e traçar os obstáculos enfrentados pelo protagonista até alcançar a fama, o filme opta por uma abordagem mais direta. No entanto, ele não consegue se desvencilhar completamente dos elementos típicos do gênero, como as dificuldades iniciais na carreira da artista.

O filme se concentra em um período específico da vida e carreira de Gal Costa, uma escolha justificada dada a longevidade e a qualidade de sua produção artística. Interessante que a etapa escolhida, seu início de carreira, está intimamente ligada a um dos períodos mais conturbados do país, algo que é explorado de forma muito interessante. Apesar disso, o roteiro lida com esse recorte temporal de forma apressada, deixando muitos eventos e personagens importantes da vida protagonista subdesenvolvidos. Além disso, ele não consegue capturar de maneira convincente a grandeza da voz de Gal Costa, frequentemente dando mais destaque aos personagens secundários do que à própria protagonista.

Do ponto de vista técnico, o filme apresenta diversas deficiências. A falta de sincronia durante as cenas musicais é notável, diminuindo o impacto da trilha sonora e prejudicando a experiência do espectador. A escolha inconsistente entre a voz original de Gal e a dublagem da atriz principal, Sophie Charlotte, gera um desconforto notável. No entanto, Sophie Charlotte brilha em seu papel, oferecendo uma atuação notável. O elenco de apoio, composto por Rodrigo Lellis, Dan Ferreira e Camila Márdila, apresenta interpretações medianas, sem destaque. Vale mencionar que Dandara Ferreira, que interpreta Maria Bethânia na obra, também é a co-diretora do filme.

Contudo, o filme merece elogios por sua tentativa de recriar o contexto do período da ditadura no Brasil, quando o país estava profundamente dividido entre os que buscavam liberdade e aqueles que aceitavam o status quo. A música emergiu como uma ferramenta de resistência e instrução para uma população perdida. O Tropicalismo é apresentado como um exemplo de como a arte pode ser usada como forma de luta e expressão. A interpretação da música “Divino Maravilhoso” por Gal Costa em um festival musical televisionado contra a Ditadura é um momento apoteótico do filme.

Vamos à trama! O filme traz a história de Gal Costa, jovem que aos 20 anos decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, ela encontra seus amigos da Bahia: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham os primeiros passos de Gal na música profissional no final da década de 1960.

Por que ver esse filme? Em resumo, Meu Nome é Gal pode ser considerado tecnicamente falho, mas, apesar de suas deficiências, desempenha um papel importante ao estimular reflexões sobre o passado e o presente. O filme ressoa com as realidades dos anos 1960, ao mesmo tempo em que lança luz sobre a capacidade da arte de resistir em meio à adversidade. Mesmo com suas limitações, o filme é uma experiência necessária e valiosa para quem deseja compreender a importância da música e da cultura em tempos de turbulência. Embora não seja um triunfo técnico, Meu Nome é Gal dever ser visto porque é um lembrete de que a arte pode transcender suas limitações e impactar profundamente a sociedade.

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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