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M3GAN


Por: Alex Fernandes França
Data: 02/02/2023
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Como prometido, essa semana é tempo de falar de M3GAN, o filme já estreou há mais de uma semana e tem surpreendido positivamente, isso porque ele vai muito além da dança performática da boneca assassina que quebrou a internet recentemente. Se você não viu, é porque não está fazendo o devido uso do seu pacote de dados (risos)! Essa semana, você vai ficar muito bem informado sobre a nova boneca queridinha a aterrorizar o cinema, M3GAN.

Convenhamos, a premissa não é nova. Desde que a humanidade resolveu reproduzir sua imagem e semelhança em miniaturas para entreter sua prole, homens e mulheres tem sido atormentados por esses pequenos objetos: as bonecas. Bem por isso, já faz tempo que elas estão protagonizando filmes do gênero terror. Só para citar alguns bem conhecidos, temos Chucky, o Brinquedo Assassino, Anabelle, ou mesmo o Boneco do Mal, que fugiu bastante do estereotipo. Mas, mesmo assim, M3GAN chegou aos cinemas com ares de novidade, isso porque dentre os filmes citados esse é o único capaz de conectar plenamente as novas gerações tecnológicas a esse subgênero do terror.

Diante disso, nem preciso comentar que o maior feito de M3GAN é não ter nenhuma pegada sobrenatural. Nesse sentido, James Wan, o mesmo de filmes como Jogos Mortais e Invocação do Mal, acerta em cheio em seu roteiro, que foi escrito com a ajuda de Akela Cooper. O roteiro é rápido, bem embalado e recheado de situações e dilemas do tempo atual, por isso, é tão fácil se identificar com a história. Tudo é muito simples e muito plausível. Diante das maravilhas tecnológicas que contemplamos todos os dias, ninguém irá se assustar se no lugar de um Tesla (os maravilhosos carros elétricos), a empresa de Elon Musk lançasse uma boneca/androide.

O diretor Gerard Johstone é quase um desconhecido em Hollywood, no entanto, ele faz uma construção muito sólida de personagens, inclusive da boneca, de forma que o público nutre desde o início muita empatia para com as figuras femininas da trama. Interessante que a boneca, ao longo do filme, acaba sendo um reflexo da personalidade de sua dona, a pequena e “traumatizada” Cady. É muito divertido ver que, quanto mais a garota se apega à boneca e se torna dissimulada, mais a boneca distorce suas expressões em ares de perversidade. Isso é muito divertido, porque vai acontecendo aos poucos e a sensação que se tem é que apenas você, como público, percebe, já os protagonistas não.

Alinhando seu filme terror de boneco diretamente com o subgênero slasher (aquele com assassinos psicopatas que matam aleatoriamente), M3GAN vai eliminando todos que se colocam no seu caminho e atrapalham a sua missão de proteger física e emocionalmente a pobre Cady. O filme é muito divertido, porque as mortes são inusitadas e ocorrem com muita criatividade, de forma que há um certo bom gosto em apenas sugestionar certas situações, sem necessariamente torná-las explícitas. Um exemplo disso é a morte do garoto malvado, malcriado e dado a se divertir por meio do bullying.

Sobre o elenco, as duas protagonistas merecem todo o destaque. Primeiro Violet McGraw, que com sua forma de interpretar faz com que o público oscile seus sentimentos em relação a ela. No início, existe pena e empatia, mas conforme ela vai se fechando no mundo que criou juntamente com seu brinquedo e se torna, emburrada, birrenta e dissimulada, essa identificação entra para um segundo plano e há uma certa revolta. Depois, a atriz Allison Williams, que brilhantemente faz com que sua personagem caminhe pelo sentido contrário, por isso, da pouca identificação por parte do público no inícioquando se revela como uma engenheira nerd, egoísta e antipática, ela passa a ser vista como a vítima de toda a situação.

Diante disso, algo que precisa ser destacado é a forma como a história original se descola de outras obras que apresentaram robôs ou androides fora de controle recentemente, dentre elas o próprio Vingadores Era de Ultron. Em M3GAN o diretor se inspira menos nesses filmes famosos e muito mais na série Black Mirror, aquela que aproxima a sua trama tanto da cultura pop, quanto da morbidez tecnológica. E mais, o diretor lança mão abertamente disso para construir sua personagem central, o que lhe confere um carisma e um sarcasmo todo especial. Preste atenção, por exemplo, na trilha sonora que casa perfeitamente com a personalidade psicótica e assassina de M3GAN, fique atento à forma como ela canta docilmente a música Titanium, de David Guetta, para impor sua indestrutibilidade.

Vamos à trama! Após um acidente de carro na neve, a jovem Cady perde seus pais e fica órfã, por isso, precisa ir morar com sua tia Gemma, uma brilhante engenheira que trabalha numa indústria de brinquedos. Ao enfrentar dificuldades em se conectar com a criança e vendo a possibilidade de perder sua guarda, Gemma retoma um projeto para criar uma boneca androide que possa auxiliar, instruir e proteger sua sobrinha. Tudo vai bem, até que a inteligência artificial da boneca começa a dar indícios de perversidade e psicopatia.

Por que ver esse filme? Porque o filme é, ao mesmo tempo, tenso e divertido. Mesmo sendo sanguinário, ele nos faz repensar nossa própria relação com o mundo tecnológico atual e nos faz rir da forma como o nicho dos brinquedos infantis acaba ganhando espaço para além das crianças no mundo atual. O filme é de terror, mas a crítica é para todos, pais, filhos, consumidores, nerds e, até mesmo, para a própria indústria e mercado. Um filme realmente pop, de fácil acesso, porém divertido. Com uma história interessante e bem direcionado para as novas gerações. Como era de se esperar, o desfecho aponta para uma possível sequência, para a alegria dos fãs de plantão. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Alex Fernandes França


Anuncie com Jornal Noroeste
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