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Sétima arte - O homem invisível


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 28/02/2020
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Depois da última semana amargar estreias mornas, essa quinta-feira pós Carnaval traz duas estreias que prometem animar as salas de cinema, atendendo tanto às necessidades daqueles que gostam de um suspense bem popular, quanto aos mais intelectuais interessados numa obra com um pouco mais de conteúdo. Sobre o novo remake de O Homem Invisível e sobre a estreia do interessante Jovens Polacas você fica bem informado na coluna dessa semana.

Vamos começar falando sobre O Homem Invisível. Desde de 2017 a Universal percebeu que já era tempo de atualizar seu grande catálogo de filmes de terror para os novos tempos. No auge do Universo Cinematográfico da Marvel, que interligava vários filmes com inúmeros personagens, surgiu o desejo de criar o chamado “Dark Universe” da Universal, em que os vários monstros iriam interagir a partir de suas histórias. Uma tentativa interessante, mas que patinou logo na sua estreia. Isso porque o remake de A Múmia, de 2017, foi um verdadeiro fracasso e fez os executivos dos estúdios da Universal revisarem sua estratégia.

A partir disso, a decisão tomada foi criar filmes independentes a partir de roteiristas e diretores competentes no gênero de terror e, por isso, chega aos cinemas o primeiro grande filme de terror desse estúdio após o fracasso de A Múmia, O Homem Invisível. A direção do filme ficou a cargo de Leigh Whannell, que foi roteirista de dois sucessos do gênero, Sobrenatural e Jogos Mortais. 

Whannell foi responsável por uma tarefa nada fácil, atualizar a história de H.G. Wells para os nossos tempos. A obra original é de 1897 e traz aspectos fundamentais que colocariam medo nas pessoas da época, mas que hoje em dia não causam tanto impacto. Por isso, o diretor se baseia levemente na história original para construir uma trama mais densa e voltada para questões mais amedrontadoras para nosso tempo, como, por exemplo, um relacionamento abusivo e o trauma gerado por ele, um terror real que aflige milhares de vítimas ao redor do mundo.

Dessa forma, o roteiro acerta na atualização mas peca no desenvolvimento, a impressão que dá é de que as reviravoltas poderiam ser todas evitadas, o que gera um desgaste desnecessário a uma trama que poderia muito bem ter se encaminhado pelas veredas do sempre bom e assertivo terror psicológico. Digo isso porque a premissa é perfeita para que a história brinque com a sanidade do expectador a partir da própria protagonista, instaurando a dúvida e gerando o medo, mas não é isso que acontece. Na verdade, o tempo todo a protagonista e o expectador sabem que “o homem invisível” está ali, seja pelos movimentos de objetos ou pela respiração exageradamente alta.

Mas tirando isso, o filme tem suas qualidades e entrega um terror sem clichês, de forma que não é preciso cantos escuros ou jump scares para sustentar a trama. O trabalho de fotografia constrói essa tensão até mesmo em ambientes altamente iluminados e é auxiliado por um trilha sonora pra lá de competente.

Mas se tem alguém que leva o filme nas costas e supera problemas de roteiro e direção, esse alguém é a talentosíssima Elizabeth Moss. A estrela de The Handmaid’s Tale não está apenas confortável no papel, como já tem uma atuação paranoica o suficiente para se encaixar completamente na trama. O filme foi realmente feito para ela. Na trama, um cientista brilhante descobre como se tornar invisível. Mas sua invenção acaba custando sua sanidade e faz com que ele atormente a protagonista, que é sua ex, até a exaustão. Interessante ressaltar que o filme bebe em fontes como o clássico Dormindo com o Inimigo, de 1991, dando uma densidade anda maior à atualização da trama.

Por fim, quero comentar rapidamente sobre Jovens Polacas. A história tem como base o livro homônimo lançado em 1992 e que é o resultado da pesquisa de Esther Largman sobre mulheres do Leste europeu transformadas em escravas sexuais no Brasil em início dos anos de 1900. A direção ficou por conta de Alex Levy-Heller, ele que anteriormente dirigiu um aclamado documentário sobre o Holocausto.

Não se engane, esse filme não é um documentário, pelo contrário, foi muito bem roteirizado e flui muito bem como história. Essa obra, como a maioria das tramas nacionais, conta com baixo orçamento mas tem em sua criatividade e em seu elenco o seu maior diferencial. Trazendo no elenco a lendária Berta Loran e o excelente Emilio Orciollo Netto ele narra uma história intrigante e desconhecida do passado do Brasil. Uma trama triste por seu contexto, mas pitoresca na forma de ser contada. Um achado que vale a pena ser conferido no cinema. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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