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Cruella


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 27/05/2021
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Essa semana vou ter que espinafrar mais uma vez o famigerado sistema de “premier accessdo Disney Plus. Isso porque nessa quinta-feira, estreou o mais novo filme da Disney nos cinemas e um dia depois, na sexta, ele já está disponível no conforto do lar, mas pelo preço nada acessível de R$69,90. Diante de mais um avanço da pandemia de COVID-19 no país, ir ao cinema não é uma decisão muito inteligente. Por isso, assistir a um filme desse calibre com a família e em casa seria um programa muito bacana para o fim de semana. Mas, mesmo assim, a meu ver, o valor é demasiado alto por um único filme! De qualquer forma, quem quiser se arriscar em ir ao cinema não irá se arrepender, porque o filme da vez é uma das melhores adaptações para live action feitas pela Disney nos últimos tempos. Na edição dessa semana você vai saber tudo o que vale a pena sobre Cruella.

Recentemente a Disney inaugurou uma extensa temporada de adaptações de suas animações clássicas famosas em formato live action. Pode até parecer algo recente, mas muitos se esquecem que essa onda já havia começado em 1996, justamente com 101 Dálmatas. Eu lembro como se fosse ontem, no auge da adolescência eu fui ver esse filme no cinema e voltei apaixonado pelos cachorros e com um ódio mortal da terrível vilã, Cruella. Hoje, com o peso da idade, tenho maturidade o suficiente para ver o brilhantismo que há num bom antagonista. Agora reconheço quão boa era Glen Close no papel de Cruella e o tamanho do legado que ela deixou para essa personagem. Bem por isso, a estreia dessa semana é destinada ao público infantil, mas vai satisfazer em cheio ao público adulto. O filme tem um humor sombrio e algumas sutilizas que serão muito bem aproveitadas pelos mais velhos.

Que Cruella é um ícone de vilania da Disney ninguém dúvida. Desde a animação de 1961, ela desperta indignação, porque tentar matar 101 dálmatas, no caso filhotes, para fazer um casaco com peles de cachorro é uma obra típica do pior tipo de gente. Mas então, por que a Disney investiria tempo e muito, mas muito, dinheiro para contar a história de uma personagem como essa? Simples, porque em geral os vilões são sempre muito mais fascinantes e interessantes do que os mocinhos. Quer um exemplo disso? Veja o estrondoso sucesso do filme solo do Coringa, de 2019, o Batman nem estava lá, mas o filme conquistou inúmeros prêmios, dentre eles dois Oscars, e uma legião de fãs.

Seguindo essa mesma trilha a Disney resolveu fazer o mesmo com Cruella, lógico que com um tom menos macabro, mas ainda assim sombrio o suficiente para agradar a todos os públicos. Como dinheiro não é problema para os estúdios da Disney, o projeto ganhou tratamento de primeira, sendo entregue para os nomes mais talentosos de Hollywood e, diga-se de passagem, sou fã de praticamente todos. Por isso, irei citá-los em ordem enquanto dou mais detalhes sobre Cruella.

Vamos começar pelo diretor escolhido para estar à frente do projeto, Graig Gillespie. Seu filme mais famoso, que inclusive esteve disponível na última quarta-feira na tv aberta, é um dos meus preferidos, Eu, Tonya. A biografia, camuflada de documentário, que conta a história verídica de Tonya Harding, patinadora do gelo, que nos anos 1990 foi acusada de ter mandado quebrar o joelho de sua adversária, Nancy Kerrigan, nas Olímpiadas. Tonya entrou para história como grande vilã, mas o humor ácido e o tom dramático do filme a levaram a redenção e no final você até simpatiza com Tonya. A meu ver, muito desse clima e dessa experiência estão dispostos ao longo de Cruella, pois os rumos da trama são, por mais diferentes que sejam, muito semelhantes em seu desenvolvimento. Por ser uma prequela, Cruella abre espaço para que o expectador compreenda que a maldade não vem gratuitamente e que é fruto dos dramas vividos e que são capazes de despertar o pior do ser humano. Um caminho construído com muito cuidado e bom gosto por Gillespie, tanto que nas mãos dele toda cena, por mais simples que seja acaba se tornando grandiosa.

Outra profissional de renome que faz toda a diferença ao longo do filme é a figurinista Jenny Beavan. Vencedora de dois Oscars, sendo o mais recente pelos figurinos de Mad Max: Estrada da Fúria, Beavan tem uma longa tradição em encher os olhos do público com roupas que são verdadeiras obras de arte. A escolha dela foi muito acertada, pois no contexto do filme, as roupas de alta costura são itens de primeira ordem. Interessante que além do sentido visual, as roupas na trama ajudam a definir os personagens. Por exemplo, tanto a antagonista, Baronesa Von Hellman, quanto a protagonista Cruella, são muito bem definidas por suas roupas. Enquanto a primeira é o reflexo do luxo e do glamour das divas dos anos 1950 e 1960, representando tudo que é antigo, a outra é fruto do seu tempo, com ares punk e movida por tudo o que é moderno, representando o novo, que sempre vem. Nesse quesito o grande destaque é o vestido incendiário de Cruella, ele está no trailer do filme e tem chamado muito a atenção do público e da crítica.

Teria muito mais gente para comentar aqui, mas para não me estender, vou focar no elenco. Falar que esse seria o filme de duas Emmas não seria errado, afinal tanto a protagonista quanto a antagonista são duas das melhores atrizes da atualidade e que se chamam Emma. A primeira é Emma Stone, premiada com o Oscar de Melhor Atriz em 2017 por La La Land e a segunda Emma Thompson, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 1993 por Retorno a Howards End. A Baronesa de Emma Thompson pode ser comparada a uma versão inglesa de Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada, tanto no estilo quanto na soberba. Já Emma Stone leva Cruella para além da vilania e a transforma num verdadeiro ícone feminista. Só as duas já dão peso suficiente para fazer dessa obra um grande filme, mas o diretor Graig Gillespie é tão bom no que faz que até os atores secundários brilham em suas mãos. Exemplo disso são os minions (gosto mais desses do cinema do que dos da vida real – risos) de Cruella, Jasper e Horácio, interpretados por Joel Fry e Paul Walter Hauser. Vamos à trama!

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio à revolução do punk rock, o filme mostra como a jovem vigarista chamada Estella se transformará em Cruella de Vil. Inteligente, criativa e determinada a ser uma grande designer de roupas, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman, uma lenda do mundo da moda que, além de chique, é brutalmente assustadora. Do embate com a Baronesa é que surgirá Cruella, má, mas também elegante e vingativa. 

Por que ver esse filme? Porque ele com certeza agradará aos fãs  da animação de 1961, da versão cinematográfica de 1996 e também das atrizes, mas mais que isso, porque ele é um filme arrebatador. Como história de origem a obra é bastante particular, pois traz em sua essência muita licença poética e liberdade criativa, isso é um grande diferencial e o torna imperdível. Mas é preciso pontuar, essa liberdade toda também é uma afronta para os tradicionalistas que querem a recriação literal em live action de cada animação, talvez por isso, alguns possam vir a torcer o nariz. Dessa última safra de remakes da Disney esse sem dúvida alguma é o melhor deles. Boa sessão!

 Odailson Volpe de Abreu

 

 

 

 

Odailson Volpe de Abreu


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