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Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 30/11/2023
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Há alguns dias entrou em cartaz uma prequela que foi esperada com ansiedade por muita gente. Os fãs de Jogos Vorazes, finalmente puderam conferir na tela grande os primórdios dessa sociedade tão distópica que é Panem. Em tempo, a Coluna Sétima Arte se dedica a comentar alguns aspectos a respeito desse filme que tem tudo para ser um grande sucesso junto aos fãs de longa data e dos adolescentes e jovens adultos que, desde sempre, foram o público alvo para esse tipo de obra. Essa semana temos Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes e tudo o que vale a pena saber sobre essa obra que promete folego novo à obra de Suzane Collins.

Ao revisitar o universo opressor de Jogos Vorazes, esse prelúdio enfrenta a dualidade de sua própria existência. A grande questão é: seria mesmo necessário explorar a história de origem de um vilão já tão conhecido?
A dúvida surge porque, com o desfecho do arco de Coriolanus Snow previamente revelado, a trama poderia perder parte de seu apelo. No entanto, o trabalho de direção e roteiro buscou justamente tornar esse aspecto um ponto forte do filme, mesmo que à custa de outros fatores importantes, tais como complexidade, objetividade ou dinamismo.

O diretor Francis Lawrence foi responsável por estar à frente dessa saga que busca explorar os primórdios dos Jogos Vorazes.  A direção de Lawrence é assertiva, mas é impossível fazer vista grossa para sua falta de novidade na abordagem do subgênero de livros para jovens adultos. A narrativa apresentada por ele, mesmo enraizada em um ambiente já conhecido, poderia ter oferecido uma perspectiva mais inovadora para cativar não apenas os fãs dos livros e dos filmes, mas também uma nova audiência. Ao invés disso, ele se prende no caminho mais seguro e o público mergulha sempre que possível em territórios familiares que se projetam na telona.

A representação maniqueísta dos personagens e da Capital, embora esperada em um contexto distópico, também é algo que incomoda e simplifica uma trama que teria tudo para oferecer uma história muito mais complexa e repleta de camadas. A caricatura de vilões e defensores da liberdade, sem nuances, é um desses problemas que simplificam demais a trama. Uma boa oportunidade desperdiçada pelo medo de ir além.

Outros pontos que merecem destaque são os problemas narrativos e o desenvolvimento dos jogos. O primeiro porque se distanciam da competição, já o segundo devido à sua estranha interrupção na metade do filme. Para mais, fica evidente que há uma ausência de clímax convincente, o que contribui para a sensação de anticlímax, afetando o ritmo e a experiência do espectador.

A duração do filme, quase três horas, a meu ver, é demasiado longa para uma época em que tudo no entretenimento tem se mostrado mais apetitoso quando é fluido e conciso. Com tanto tempo em tela, percebe-se uma falta de equilíbrio entre as possíveis facetas que essa história de origem poderia apresentar. Faltou tato e objetividade por parte do roteiro construído por Michael Arndt e pela própria Suzanne Collins.

Por outro lado, é preciso dar um crédito positivo ao roteiro em relação ao tom agridoce de sua narrativa, ele proporciona uma abordagem mais complexa e emocionalmente impactante do que a história de Katniss Everdeen. Assim, a exploração do passado de Coriolanus Snow preenche as lacunas na história de seu personagem, tornando-o muito mais interessante num contexto geral.

A representação rudimentar dos Jogos Vorazes também é, sem dúvidas, um ponto de partida interessante, lembrando o Coliseu mais do que a floresta sci-fi da versão original. Contudo, é preciso considerar que há falta de inovação visual e também de criatividade na construção dos participantes dos jogos, o que acaba por enfraquecer o impacto visual e emocional da competição.

É muito prazeroso ver essa rusticidade dos primeiros Jogos Vorazes, ela contrasta de maneira muito clara com a visão mais glamourosa construída ao longo da franquia original. Além disso, um expectador mais atento pode trazer certos paralelos entre o filme e o mundo atual. Afinal, uma das características de nosso tempo é a capacidade de criar espetáculos em torno de tragédias dos mais variados tipos e origens. Quer um exemplo? Veja como filmes e séries envolvendo dramas familiares reais, assassinatos ou outras questões brutais do mundo real são consumidos de forma voraz pelo público.

Outro ponto positivo que dever ser considerado é a eficácia da representação do personagem de Coriolanus Snow, interpretado por Tom Blyth. A escolha de retratá-lo como um garoto pobre é conveniente pois se mostra capaz de despertar a simpatia do público, adicionando nuances à personalidade do antagonista. A complexidade moral desse personagem central é muito interessante, pois evita transformá-lo em um herói, mesmo que isso seja algo possível e plausível a qualquer momento do filme. Outros nomes que conferem peso e qualidade à obra, além de Tom Blyth, são Rachel Zegler e Viola Davis, que está particularmente assustadora em seu papel.

Vamos à trama! Anos antes de se tornar o presidente tirano de Panem, Coriolanus Snow era um jovem charmoso que vê sua chance de mudar a vida ao ser escolhido como um mentor na décima edição dos Jogos Vorazes, mas seus planos entram em risco quando descobre que terá que cuidar de uma tributa do empobrecido Distrito 12, sem muitas chances de vitória.

Por que ver esse filme? Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes oferece aos espectadores uma oportunidade única de explorar as origens complexas e obscuras de um dos vilões mais emblemáticos da ficção. Embora a narrativa possa ter seus desafios, a atuação convincente de Tom Blyth no papel principal e a profundidade emocional da história acrescentam camadas inesperadas à trama. Para os fãs de plantão, essa é uma experiência cinematográfica que, mesmo com suas imperfeições, se destaca pela profundidade psicológica e pelo contexto enriquecedor que acrescenta à mitologia de Panem. Fã ou não de Katniss Everdeen, essa é uma boa oportunidade para revisitar e sofrer mais uma vez com as agruras de Panem. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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