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Cherry


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/03/2021
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Nesse tempo em que os cinemas continuam fechados eu já comentei sobre filmes de vários serviços de streaming, mas essa será a primeira vez que comentarei sobre uma estreia que está no exclusivo serviço de entretenimento da Apple (você não leu errado, umas das maiores empresas de tecnologia do mundo também tem seu serviço próprio de streaming). O AppleTV+ não é tão conhecido e isso não é por causa do preço, já que sua média de preço é R$9,90 por mês. Ultimamente quem mais usufrui dessa plataforma são os clientes da “maçãzinha”, pois quem tem um Iphone novo geralmente ganha de presente acesso gratuito por certo tempo (como é o meu caso). A AppleTV+ pode não ter o mesmo volume de obras que seus concorrentes, mas, mesmo assim, ela ostenta algumas obras exclusivas que enchem os olhos do público, como, por exemplo, a série dirigida por M. Night Shyamalan, Servent, também a versão tão esperada de Liga da Justiça de Zack Snyder (que estreou ontem nesse serviço de streaming), ou o filme dessa semana, o denso drama Cherry, liberado recentemente.

Cherry despertou grande interesse do público e da crítica antes de sua estreia, isso porque ele foi vendido com um grande filme de amadurecimento, tanto para seu protagonista quanto para seus diretores. Os diretores da obra são ninguém menos do que os irmãos Joe e Anthony Russo, ambos responsáveis por boa parcela do sucesso absoluto da Marvel e que estiveram à frente do icônico Vingadores: Ultimato. Hollywood sabe ser muito cruel com profissionais que se destacam em uma única área, bem por isso, os irmãos Russo resolveram mostrar que são eficazes também em outros gêneros, para além da aventura/ação/fantasia. Por isso, resolveram levar para a Sétima Arte a história contida no romance de Nico Walker sobre um ex-paramédico da guerra do Iraque que sofre de estresse pós-traumático e por isso se afunda no mundo das drogas. Um drama moderno, com toques de crueldade e muita atualidade.

Para interpretar o protagonista dessa história os diretores escolheram uma das estrelas em ascendência da Marvel e que vem tentando a todo custo se desvencilhar do estigma de ator para papeis juvenis, Tom Holland. Ele é de longe o mais carismático de todos os homens-aranhas que já chegaram ao cinema, por outro lado, parece que o papel do “teioso” é tão pegajoso que ele passou a ser lembrado apenas por esses filmes e por nada mais. Até parece que o mundo se esqueceu daquele ator mirim incrível que entregou uma excelente atuação no filme de catástrofe O Impossível, de 2012. Recentemente Tom Holland já se mostrou um ator multifacetado ao surpreender a todos com O Diabo de Cada Dia (disponível na Netflix), agora ele mais uma vez parte para o gênero drama, interpretando um personagem que vai do céu ao inferno em pouco mais de duas horas.

Tecnicamente falando o filme dos irmãos Russo é uma obra de arte visual, o trabalho de edição é primoroso, mas o que mais chama atenção é a direção de fotografia. É como se cada cena fosse um quadro num museu, até as cenas mais banais ganham enquadramentos, cores e um trabalho de foco e desfoco que são deslumbrantes. Soma-se a isso a trilha sonora, consistente, competente e pronta pra despertar a agonia e o realismo em excesso. Mas, nem tudo são flores, se em relação a técnica o filme é primoroso, o mesmo não se pode dizer do roteiro e da forma como ele é apresentado. A história se torna longa, ao ser dividia em capítulos, ganha ares de desconexão (há quem diga que são cinco filmes diferentes em um), além disso, os capítulos não tem todos a mesma duração e alguns se estendem muito mais que o outros, perdendo ritmo e, talvez, também o interesse do expectador.

Particularmente eu diria que isso poderia ter sido resolvido com uma narrativa mais consistente, mas ainda assim teria certos problemas. Digo isso porque oficialmente o filme é um drama, mas transita pelo romance, pela guerra, pelo épico, pelo terror  criminal, pela comédia de farsa e assim por diante. Nem mesmo a quebra da quarta parede se encaixa nesse emaranhado de estilos e gêneros. Quem acaba perdendo é o público, que vai se identificar com o protagonista, mas encontrar bastante dificuldade em encontrar o clímax da história.

Por outro lado, quem faz bonito e entrega um trabalho redondo e sem defeitos é Tom Holland, ele é muito autentico em sua interpretação e carrega seu personagem em cada cena com os sonhos perdidos de seu passado promissor. A cada capítulo da trama o público o acompanha definhando aos poucos, até chegar no fundo do poço. Nessa trajetória ele leva consigo o amor de sua vida, interpretado pela jovem e competente Ciara Bravo. Se Holland é um furacão em cena, ela não faz por menos, incorporando inocência, ousadia e degradação ao papel que interpreta. A química entre os dois é ótima e o resultado deles em tela é sempre muito satisfatório. Vamos à trama!

Cherry acompanha um jovem que vai para o exército após uma desilusão amorosa, ao retornar do Iraque passa a enfrentar constantes crises de transtorno de estresse pós-traumático. Essa situação o leva a buscar refúgio no mundo das drogas. Como consequência ele vira assaltante de bancos para sustentar o vício que o deixa cada vez mais endividado.

Por que ver esse filme? Porque mesmo que o filme seja longo ou tenha alguns problemas narrativos, ele ainda é uma grande obra. Para os mais saudosistas ele vai despertar na memória a lembrança de um tipo de cinema marginal que se perdeu nos anos 1990 (muita gente vai perceber grandes semelhanças com as obras de Oliver Stone desse período, principalmente com Assassinos por Natureza, de 1994). Além disso, ele traz em sua essência uma questão moral muito forte, pois, por mais que o protagonista não tenha escolhido o caminho tortuoso que lhe foi imposto pelas circunstâncias, ele ainda enfrentará as consequências e são elas que lhe trarão a redenção. Um filme denso, doloroso, porém honesto e poderoso. Um ótimo motivo para uma degustação grátis por uma semana do serviço de streaming da Apple. Boa sessão!

 

Odailson Volpe de Abreu

 

Odailson Volpe de Abreu


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