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Irmãos de Honra


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 08/12/2022
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Fim de ano corrido e parece que finalmente a temporada de lançamentos dessa época teve início no cinema, isso porque já faz algumas semanas que não vimos estrear grandes filmes. Ontem, chegou aos cinemas um filme de guerra que tem despertado bastante interesse e que é um alívio para aqueles que estão ávidos por um filme mais interessante nesse período de marasmo. Essa semana, a Coluna Sétima Arte irá trazer o que vale a pena saber em relação a Irmãos de Honra.

Os filmes de guerra têm andado em alta, recentemente comentei a respeito do excelente Nada de Novo no Front, que tinha uma abordagem pouco ortodoxa da forma de se trabalhar o gênero de guerra no cinema. Agora, em Irmãos de Honra, temos outro filme que traz uma abordagem interessante, dessa vez tendo como foco a Guerra da Coreia.  Antes de mais nada é preciso destacar a conjuntura do momento retratado na obra. Em geral, é muito dificil ver a representação de homens negros nos filmes da Segunda Guerra Mundial, isso se dá devido a um fato histórico: afrodescendentes estavam proibidos de se alistarem no exército americano. Essa situação só mudou após 1950 e esse é o pano de fundo em que se desenrola a história do filme em questão.

Irmãos de Honra é aquele tipo de filme de guerra que agrada em cheio, não apenas pela trama, mas também pelo cuidado com que ele foi construído. O roteiro é extremamente didático e por isso é muito eficaz, mesmo sendo bastante longo. Dividido em partes, ele permite ao expectador, ao longo de mais de duas horas de filme, conhecer bem os personagens e depois compreender o impacto da guerra em suas vidas.

Se a divisão do roteiro é bem feita, o mesmo não se pode dizer da abordagem do tema central. Mas, quero deixar bem claro, isso é uma opinião muito particular minha. Digo isso porque o filme se propõe a abordar a questão do racismo, mas não faz isso pelas vias do empoderamento, que é o que se espera de qualquer obra realizada nos dias atuais, faz isso pelo viés da contemplação. Dessa forma, aquele que deveria ser o protagonista cede seu lugar ao melhor amigo, que é branco. Há quem defenda que o homem branco não é o protagonista, de qualquer forma, mesmo que ele apareça menos em cena, a impressão que se tem é que a trama gira em torno do ponto de vista dele, do que ele vê e do que ele aprende sobre o racismo e não necessariamente nas experiências daquele que deveria ser o protagonista. Diga-se de passagem, aquele que deveria ser o protagonista é um personagem histórico, pois ele foi o primeiro homem afrodescendente a ser piloto de caça nos Estados Unidos da América.

A trama é baseada no best-seller de Adam Makos “Devotion: An Epic Story of Heroism, Brotherhood and Sacrifice” e tem como diretor J. D. Dillard, que faz um bom trabalho na medida do possível. Ele teria tudo para fazer dessa obra um épico, mas não foi dessa vez. E isso não foi apenas por causa dessa visão um tanto quanto anacrônica da luta contra o racismo nos tempos atuais que ele impõe ao filme. Dillard trilha um caminho seguro em sua forma de dirigir, ele direciona a obra para questões que são pertinentes para o contexto de guerra, tais como a amizade, a honra e também o antirracismo, mas acaba faltando um algo mais. Independente disso, a obra é positiva, principalmente para as gerações mais jovens, que podem tirar boas lições dessa trama.

O racismo é um mal que persiste em nossa sociedade e se, ainda nos tempos atuais, vemos inúmeras cenas que são inaceitáveis em relação a isso, imagine setenta anos atrás, antes mesmo dos movimentos populares dos anos 1960 que deram início a luta contra o racismo nos Estados Unidos da América e, posteriormente, no mundo. O que o filme retrata é a forma como a própria instituição lida com a chegada de algo novo, no caso, a chegada de homens negros. Algo que, para o momento, estava fora do padrão, pois o mesmo fora construído em cima de uma cultura que justificava tal coisa.

Por isso, os atores para interpretarem essa trama densa precisaram de muita expertise e jogo de cintura. Os escolhidos para dar cabo da função foram Jonathan Majors e Glen Powell. Majors impõe ao seu personagem uma seriedade e um comprometimento ímpar, é essa forma de viver que irá chamar a atenção do seu companheiro de pilotagem, Powell, que por sua vez reprisa o papel desempenhado recentemente no filme Top Gun Maverick como piloto de caça. Diferente de Top Gun, dessa vez ele apresenta um personagem mais contemplativo e que desenvolve ao longo da trama um bom nível de evolução pessoal enquanto convive e percebe as agruras enfrentadas pelo personagem de Majors. A relação entre os dois passa impressão de ser clichê, mas convence muito bem e tem boa química em cena, algo que faz o filme, mesmo sendo longo, não ser enfadonho.

Vamos à trama! Em Irmãos de Honra, temos a história de Jesse Brown e Tom Hudner, que tem início antes do início da Guerra da Coreia. Ambos entram no treinamento em um esquadrão de elite e juntos irão se arriscar ao limite com o objetivo de se tornarem os melhores pilotos. Ao longo desse período formam uma forte amizade. Entretanto essa amizade passará por testes no campo de batalha.

Por que ver esse filme? O filme convence pelas boas intenções, mas peca muito no quesito ação. As cenas de ação não são muitas, mas as poucas apresentadas são muito boas e já valem a ida ao cinema. O fato de ser mais um drama do que necessariamente um filme de guerra faz deste um filme mais denso do que o esperado. Mesmo assim, as boas interpretações o tornam um filme bastante necessário e que pode gerar bastante reflexão, principalmente naqueles que ainda não compreenderam qual o papel atual da luta contra o racismo estrutural. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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