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Sétima Arte


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 14/11/2019
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Nessa véspera de feriado resolvi escrever sobre um filme que estreou na semana passada. Esse distanciamento de uma semana foi muito positivo, pois permitiu apresentar nas linhas abaixo o filme para além do frisson de fã da obra original. Hoje a Coluna Sétima Arte se dedica a comentar sobre a continuação do mais icônico filme de suspense/terror de todos os tempos, Doutor Sono, continuação direta do clássico O Iluminado. Uma típica obra de Stephen King, envolta tanto em qualidades, como exageros. 

As pessoas ligadas ao mundo do entretenimento conhecem muito bem a desavença criada após o lançamento cinematográfico de O Iluminado, de 1980, entre o autor da trama, o escritor Stephen King e o talentoso cineasta Stanley Kubrick. A causa do desafeto entre os dois está no fato do segundo ter apresentado em seu filme a história do primeiro de uma forma muito plausível e pé no chão, ou seja, sem dar espaço ou ênfase aos elementos sobrenaturais que ela destacava.

Para o bem ou para o mal, o filme de 1980, construía um clima de tensão apavorante e inseria os elementos sobrenaturais de forma muito particular a ponto de gerar sim a sensação de medo, seguida de pânico e desespero no espectador. Além disso, ele contava com um rigor estético inigualável, o que fez dele um clássico em todos os sentidos.

Anos mais tarde o autor insatisfeito recontou sua história por meio de uma série, dessa vez, do jeito que ele queria e completamente fiel ao livro. Passado mais tempo, ele ainda resolveu dar uma continuidade a obra por meio de uma sequência para o livro. É desse livro que saiu a trama do filme que estreou semana passada, Doutor Sono. 

O filme era uma grande promessa para esse ano, pois os fãs de Kubrick, de King e de O Iluminado estavam animados para ver essa nova trama, mas ao final, uma campanha de marketing pífia fez a bilheteria não ser o que todo mundo esperava e o filme amargou uma estreia muito menos glamourosa do que se desejava. Interessante que esse fato fez Stephen King colocar a boca no trombone e mandar um recado para seus admiradores, pedindo que ao invés de permitir que os números diminuíssem o esforço e o trabalho de muita gente, que eles se inspirassem naquilo de positivo que o filme apresenta e levassem um amigo ao cinema. Se esse recado, ou apelo, dará certo, quem dirá é o tempo, mas até lá, é possível pontuar algumas coisas sobre Doutor Sono.

Começo pela escolha do diretor, que foi muito certeira. A direção ficou a cargo de Mike Flanagan e eu me atrevo a dizer que nenhum outro diretor da atualidade seria capaz de reconstruir o rigor estético de Kubrick além dele. Digo isso, porque ele foi responsável por uma das pérolas da Netflix, a série A Maldição da Residência Hill. Essa série traz uma trama sólida, que mescla drama familiar com elementos sobrenaturais de uma forma muito madura e ainda apresenta cortes, ângulos de câmera e até mesmo um plano sequência primoroso, que me fizeram ver um único episódio mais de três vezes, só para poder apreciar a beleza das cenas e encontrar os segredos e detalhes escondidos.

Diante disso, eu nem preciso dizer que a direção de Doutor Sono foi excelente e que tem tanto respeito, quanto referência mais que necessários à obra original. Quando for ao cinema, caso seja fã de O Iluminado, perceberá que várias cenas são cópias fiéis das cenas do filme, como por exemplo, a entrevista de emprego. Agora, se tecnicamente o filme é excelente, o roteiro já é um problema e não é possível culpar ninguém por isso, a não ser o próprio King. Suas histórias complexas e cheias de elementos, tramas, subtramas e personagens são extremamente difíceis de adaptar e já causaram a ruína de ótimas histórias no cinema.

Vale a pena dizer que o filme apresenta algumas falhas, pontas soltas, mas nada que atrapalhe o andamento da trama ou que desmereça a obra em si. O elenco também é um elemento positivo, que faz com que esses problemas fiquem para trás diante de atuações competentes e inspiradas. Ewan McGregor como protagonista soube impor ao personagem todo sofrimento e dramaticidade que ele, como adulto atormentado e assombrado (literalmente) pelo seu passado, exige. Já Rebecca Ferguson continua sendo aquele tipo de atriz que rouba a cena toda vez que aparece. Ela é o sinônimo do poder e da maldade, uma vilã perfeita para uma história de peso. 

Vamos à trama! Na infância, Danny Torrance conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado por espíritos malignos do Hotel Overlook. Danny cresceu e agora é um adulto traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital local. Mas a paz de Danny está com os dias contados a partir de quando cria um vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles que ele bloqueia dentro de si.

Por que ver esse filme? Porque ele expande a trama e o universo de uma das obras mais marcantes do cinema, permitindo ao expectador revisitar os locais e acontecimentos do primeiro filme e conhecer novos elementos e informações que ajudam a entender melhor sobre o dom de Danny e sobre a possiblidade de existir outros iguais a ele. Um filme interessante, muito bem feito esteticamente e capaz de agradar aos fãs e não fãs tanto de Kubrick, quanto de King. Aproveite o feriado, vá ao cinema e boa sessão!

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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