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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 05/05/2022
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A década de 20 do atual milênio começou com uma profunda crise gerada pela pandemia de COVID-19 em vários âmbitos. No mundo do entretenimento, shows, teatros e cinemas permaneceram por muito tempo fechados. Nos últimos dois anos, muitos críticos e especialistas previram, ou almejaram, o fim da hegemonia dos filmes de heróis na indústria cinematográfica como possível renovo pós pandemia. Se pensarmos bem, até que a ideia fazia sentido. Após um tempo prolongado de reclusão várias artes tendem a reinventar-se, é claro que o mesmo poderia acontecer com o cinema. O tempo passou, a pandemia arrefeceu e o mais interessante é que, para o desespero de muitos, a reinvenção não se deu conforme muitos esperavam. Pelo menos não em relação a sétima arte e os filmes de heróis. Depois de mais de uma década com grandes blockbusters no cinema e com o fim da fase 1 do chamado MCU – Universo Cinematográfico da Marvel, os filmes de heróis não foram relegados à categoria de subgênero. Pelo contrário, continuam levando multidões ao cinema.

Diferentemente do que esperavam os críticos, o que houve não foi uma reinvenção da arte do cinema como um todo, mas, de maneira muito inteligente, Kevin Feige e a Marvel, reinventaram o gênero heróis para a nova fase de seu Universo Cinematográfico. Como nada no mundo se cria, mas tudo se copia, ao longo do tempo de clausura na pandemia a Marvel, associada à Disney, usufruiu do serviço de streaming para entregar ao público séries ousadas e que flertavam com outros gêneros muito diferentes daquele ao qual os filmes de heróis estão associados (em geral filmes de ação/aventura). Foi assim com WandaVision e sua encantadora homenagem à história das sitcons, com Loky e sua trama fantasiosa recheada de drama e também com as altas doses de ficção, zumbis e afins da animação What If...? Fora isso, houve também o flerte mais intenso com o gênero comédia que aconteceu anteriormente por meio de Thor - Ragnarok.

Dessa forma, a Marvel aprendeu que a melhor forma de se reinventar seria investindo em gêneros variados e entregando mais em roteiro, trama e experiências do que seus fãs já estavam acostumados. Para mais, a mudança de tom também foi bem-vinda, se antes, na primeira fase do MCU, a ciência e a tecnologia de Tony Stark davam as cartas, agora, em sua segunda fase, o que ganha espaço é a magia e o sobrenatural. Assim, mesmo quando a tecnologia está envolvida ela ainda passa essa aura mágica de algo que transcende a naturalidade, como foi o caso do filme Eternos. Homem-Aranha – Sem Volta pra Casa também vivenciou isso com intensidade e, agora, a grande estreia da semana retoma essa pegada mágica e descortina o gênero terror, com pitadas de gore (subgênero dos filmes de terror, caracterizado pelas cenas de extrema violência e regadas a muito sangue) para uma grande legião de fãs da Marvel.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura traz uma obra mais sombria e adulta. É importante que o público esteja atento a isso, pois a indicação está voltada para os fãs adultos e não para as crianças. Eu não havia me tocado disso, até recentemente, quando meu sobrinho, muito mais antenado nos super-heróis do que eu, me alertou que ele não poderia ver o filme no cinema devido a classificação. A recomendação oficial é para maiores de 14 anos, mas eu iria além e diria que o ideal seria uma classificação para 16 anos, a exemplo da recente série da Marvel, Cavaleiro da Lua. De qualquer forma, o filme é uma ótima experiência para adultos, podendo ser bem traumático para crianças.

Para inaugurar essa etapa mais “dark” da fase 2 do MCU a Marvel abriu mão do diretor do primeiro filme de Doutor Estranho, Scott Derrickson, e entregou o projeto para um verdadeiro mestre nos dois gêneros o de super-heróis e o terror —, o experiente Sam Raimi. Ele foi responsável pela franquia mais bem-sucedida e saudosa do Homem-Aranha, aquela com Tobey Maguire, nos anos 2000. Além do mais, foi no gênero terror que ele ganhou fama e espaço em Hollywood (ele foi responsável por nada menos do que Evil Dead), bem por isso, ele é uma grande adição ao Universo da Marvel. Veja bem, eu disse que Raimi é um mestre do terror e não do horror, por isso, espere ao longo do filme mortes terríveis, no melhor estilo The Boys (famosa série da Amazon).

Fugindo da já esgotada fórmula tradicional dos filmes da Marvel, o diretor soube utilizar muito bem a criatividade associada ao roteiro enxuto construído por Michael Waldron, o mesmo da série Loky. Diferente da série que, ao abordar a complexidade do conceito de Multiverso e viagem no tempo, se perdeu do foco, no novo Doutor Estranho o diretor impôs ao roteiro uma linha narrativa principal, que foi enriquecida por um clima intenso de suspense, subtramas e  visitas aos demais universos paralelos. Dessa forma, tudo é muito bonito de se ver e fácil de entender, principalmente por causa dos easter eggs (alguém aí falou em fan service? risos).

As fabulosas e muito bem coreografadas cenas de luta, que não deixam nada a desejar aos épicos Vingadores – Guerra Infinita e Vingadores – Ultimato, surgem entre um e outro jumpscare.  Mas, nem só de sustos e ação se faz um bom filme do Universo Marvel, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura tem muito espaço para o drama e faz de sua antagonista a estrela maior de toda a trama. O filme cruza a jornada de Stephen Strange com os caminhos de Wanda Maximoff, fazendo os fãs perceberem, algo que já havia sido esboçado anteriormente de maneira sutil em outras obras, mas que agora ganha forma e densidade no MCU: a complexidade do ser humano para além do maniqueísmo. Traduzindo de forma simples, as motivações dos humanos (e também dos heróis) está para além do bem e do mal, por isso, as escolhas, por mais que sejam benéficas para uns, podem ser encaradas como algo ruim para outros. É assim que se faz um vilão redondo, complexo e surpreendente.

Como Wanda, Elizabeth Olsen ofusca a todos ao seu redor com uma das melhores interpretações de sua carreira. Ela expande de forma concreta sua personagem ao entregar para o público uma mulher amargurada e ressentida, que surge ao perder todas as pessoas que já amou. No caso, seu irmão, a paixão da sua vida (Visão) e seus dois filhos. O primeiro morreu em Vingadores – Era de Ultron, o segundo em Vingadores – Guerra Infinita e os gêmeos, gestados por meio de magia, desapareceram quando ela perdeu o controle do mundo perfeito criado magicamente na cidade de Westview, no estado de New Jersey. Para compreender melhor essas motivações que transformam a heroica Wanda Maximoff na perigosa Feiticeira Escarlate, eu aconselho você, caso não tenha visto, a assistir a série WandaVision, no Disney Plus.

Do restante do elenco temos Benedict Cumberbatch e Benedict Wong, já conhecidos do público, que entregam atuações profundas e tão sérias quanto a temática do filme pode impor. Além deles, temos a grande surpresa desse filme, a excelente atriz Xochitl Gomez, que interpreta a poderosa América Chavez. Ela estreia em grande estilo no MCU, esbanjando carisma suficiente para se tornar quase que instantaneamente uma das novas queridinhas do Universo Marvel. Vamos à trama, sem spoilers!

Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, tudo tem início após os acontecimentos que se desenrolaram ao final de Homem-Aranha – Sem Volta pra Casa. Depois de escancarar as portas do Multiverso no feitiço que deu errado para ajudar Peter Parker, Stephen Strange vê a expansão do Multiverso aos seus limites. O que leva tanto o expectador quanto o próprio Doutor Estranho a uma viagem pelo desconhecido. Nesse trajeto ele contará com a ajuda de aliados místicos, antigos e novos, ao atravessar as realidades alternativas alucinantes e perigosas do Multiverso para enfrentar um novo e misterioso adversário.

Por que ver esse filme? Porque esse é um filme que atende ao gosto de muitos fãs diferentes, sejam eles os saudosistas dos filmes de herói do início dos anos 2000 (antes do MCU), sejam eles os novos fãs pós Universo Cinematográfico da Marvel, ou mesmo aqueles que nem são tão fãs assim de filmes de heróis, mas que gostam de um bom suspense recheado de bons sustos num estilo ação/aventura/terror. Ao associar um ótimo diretor, excelentes atores e um grande orçamento, o filme é muito mais do que estamos acostumados a receber da Marvel e abre espaço para um futuro muito mais complexo em seu Universo Cinematográfico em expansão. Como utilidade pública, quero avisar que existem duas cenas pós créditos ao final do filme. Boa sessão!

 Assista ao trailer:

 

 

 

Odailson Volpe de Abreu


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