Faz um tempo que não abro espaço na Coluna para comentar sobre umas das minhas paixões, a animação. Acredito que a última vez que me dediquei a isso foi por ocasião do lançamento do brilhante e premiado O Menino e a Garça. Após isso, muita coisa foi lançada, mas nada que realmente chamasse a minha atenção. Hoje percebo que a massificação ocidental da animação em computação gráfica (CG), fez com que eu desenvolvesse uma predileção muito maior pelos animes, típica animação japonesa, que mantém suas raízes do tradicional formato 2D. Provavelmente isso aconteça porque eu cresci assistindo animações em 2D e, passada a onda de novidade das animações em CG do final da década de 1990 e meados da década de 2000, elas já não me agradam mais tanto quanto antigamente. No entanto, é preciso considerar que algumas obras, sobretudo as produzidas pela Pixar, em CG são verdadeiras obras de arte. Uma dessas obras excepcionais é Divertida Mente, de 2015, que agora tem sua tão aguardada sequência finalmente em exibição nos cinemas. Na Coluna dessa semana comentarei sobre tudo o que é relevante a respeito de Divertida Mente 2.

Diferente do filme anterior, a sequência de Divertida Mente ficou sob a direção de Kelsey Mann, conhecido pelo seu trabalho em O Bom Dinossauro. Em Divertida Mente 2, o público irá mergulhar ainda mais na complexidade emocional de Riley, que agora está com 13 anos, enfrentando as turbulências típicas da adolescência. Este filme é um estudo sensível e detalhado das emoções humanas, introduzindo novos sentimentos que surgem durante essa transição da infância para a adolescência. A trama acompanha Riley lidando com as ansiedades da adolescência enquanto persegue seu sonho de entrar em um time profissional de hóquei. Além disso, ela enfrenta a dor da separação das suas duas melhores amigas, que irão estudar em escolas diferentes. A história se enriquece com a introdução de quatro novas emoções: Ansiedade, Tédio, Inveja e Vergonha, além de uma breve, mas marcante, aparição da Nostalgia.

A direção habilidosa de Kelsey Mann, junto com a roteirista Meg LeFauve, explora magistralmente conceitos abstratos como moralidade e o senso de identidade. A narrativa segue o caminho trilhado pelo primeiro filme, mas com uma abordagem mais madura e introspectiva. Enquanto o primeiro filme focava no equilíbrio emocional, Divertida Mente 2 mergulha nas inevitáveis desordens emocionais da adolescência.

A introdução das novas emoções é um dos pontos altos. Ansiedade, construída em CG de forma brilhante (vale a pena ressaltar que a Ansiedade não tem nariz, porque quando a pessoa está em crise de ansiedade ela não consegue respirar), domina grande parte da narrativa. Sua representação é fiel à realidade de muitos adolescentes que enfrentam esse sentimento diariamente. Ansiedade aprisiona as emoções primárias e assume o controle, tentando proteger Riley de situações incertas e frequentemente criando caos na mente da jovem.

Tatá Werneck, que dá voz à Ansiedade na versão brasileira, faz um trabalho excepcional, capturando perfeitamente o desespero e a hiperatividade da personagem. Outros dubladores também se destacam, incluindo Miá Mello como Alegria, Katiuscia Canoro como Tristeza, Otaviano Costa como Medo, Leo Jaime como Raiva, Dani Calabresa como Nojinho, Eli Ferreira como Tédio, Fernando Mendonça como Vergonha e Gaby Milani como Inveja. A dublagem é um dos pontos fortes do filme, adicionando autenticidade e emoção às performances.

Visualmente, Divertida Mente 2 é um espetáculo. A animação mantém a qualidade impecável do primeiro filme, mas com novas e inovadoras adições. Mann e sua equipe criaram cenários deslumbrantes como o Cofre dos Pensamentos Reprimidos e o Abismo do Sarcasmo, que são tanto visualmente impressionantes quanto intelectualmente estimulantes. Essas novas camadas de mitologia expandem o universo da mente de Riley de maneira fascinante.

A utilização de cores específicas para cada emoção continua a ser uma ferramenta eficaz para representar a complexidade emocional de Riley. Cada cor é cuidadosamente escolhida para transmitir o estado emocional dos personagens, reforçando a narrativa e ajudando o público a se conectar com a história em um nível mais profundo.

Divertida Mente 2 não subestima a inteligência de seu público. A trama é envolvente tanto para jovens quanto para adultos, abordando temas complexos como identidade e a transição da infância para a adolescência. O filme convida o público a refletir sobre suas próprias experiências emocionais e oferece conforto, especialmente para os jovens que estão passando por fases semelhantes. Na mesma medida, faz quem é mais velho recordar com saudosismos as inconstâncias desse período tão peculiar da vida. A narrativa é um lembrete poderoso de que o crescimento emocional é um processo contínuo e que todas as emoções, sejam elas boas ou ruins, são essenciais para o desenvolvimento pessoal. O filme aborda essas questões com sensibilidade e humor, tornando a experiência tanto educativa quanto divertida.

Mesmo diante de suas muitas qualidades, ainda é preciso ponderar que alguns espectadores podem achar que o filme foca demais na Ansiedade, tornando partes da trama repetitivas e sem progressão significativa. A insistência no “completo caos” pode parecer exagerada, especialmente para aqueles que esperam uma evolução mais dinâmica da história. Além disso, a complexidade da linguagem emocional pode ser desafiadora para os espectadores mais jovens, que podem não compreender completamente todas as nuances apresentadas, isso porque o público alvo não são os adultos e sim as crianças! No entanto, é justamente essa profundidade que faz o filme se destacar como uma obra madura e reflexiva.

Por que ver Divertida Mente 2? A ida ao cinema se justifica porque essa é uma sequência espetacular que não só mantém o padrão elevado de seu antecessor, mas também o eleva a novas alturas. Com uma direção inspirada, um roteiro bem elaborado e performances de dublagem excepcionais, o filme é mais um triunfo da Disney/Pixar. Uma obra que oferece uma exploração rica e sensível das emoções humanas, abordando de maneira brilhante a complexidade da adolescência. É um lembrete de que, independentemente da idade, sempre há algo novo a aprender sobre si próprio e sobre as emoções. Não perca a oportunidade de ver Divertida Mente 2 na tela grande e mergulhar mais uma vez na fascinante mente de Riley. Boa sessão!