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Anatomia de Uma Queda


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/01/2024
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Na terça-feira, foram anunciados os indicados ao Oscar e, sem grandes surpresas, a única e mais desagradável talvez seja o caráter patriarcal ainda presente entre os membros da Academia responsável pelo evento. Essa observação se baseia na indicação de Ryan Gosling como ator coadjuvante em um filme que aborda o feminismo, enquanto as mulheres que desempenharam papéis principais nessa obra, Greta Gerwig e Margot Robbie, diretora e protagonista, foram ignoradas. Decepções à parte, nesta edição, vamos explorar um pouco mais sobre o filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, intitulado Anatomia de Uma Queda. Este filme francês, atualmente em exibição nos cinemas, chama a atenção por ser o escolhido da vez na prática da Academia de indicar filmes de língua não inglesa nessas duas categorias, esse é o sexto ano consecutivo que isso acontece. Será que temos uma tradição despontando no Oscar? Embora competir com obras do calibre de Oppenheimer não seja tarefa fácil, a visibilidade proporcionada pelas indicações a Anatomia de Uma Queda já justifica sua presença no Oscar.

Anatomia de Uma Queda emerge como uma obra-prima cinematográfica, entrelaçando habilmente elementos de drama e suspense para criar uma narrativa envolvente que cativa e desafia o público desde os primeiros momentos. Sob a direção hábil de Justine Triet, que também coescreveu o roteiro em colaboração com Arthur Harari, o filme mergulha os espectadores em uma trama complexa centrada em uma investigação criminal, explorando nuances emocionais e desdobramentos imprevisíveis.

A ousadia da diretora se destaca, pois ela não hesita em inserir o público nas investigações, proporcionando uma experiência imersiva que replica a incerteza da vida real. Sem provas concretas, a narrativa se desenvolve em torno das perspectivas divergentes, desafiando o espectador a discernir a verdade em meio a um mar de possibilidades. Este enfoque corajoso não apenas adiciona autenticidade à trama, mas também incita reflexões sobre a natureza subjetiva da realidade em situações de investigação criminal.

O elenco brilha com performances excepcionais, elevando o filme a novos patamares. Sandra Hüller e o jovem Milo Machado Graner entregam interpretações cativantes que trazem os personagens à vida de maneira realista. Cada ator contribui com uma camada única de complexidade, enriquecendo a trama e envolvendo ainda mais o público. Notavelmente, as atuações de Hüller e Graner na pele de uma viúva e seu filho, respectivamente, conferem à história um toque emocional, explorando temas de luto e reflexão sobre a lógica dos acontecimentos.

Do ponto de vista técnico, Anatomia de Uma Queda é um deleite visual. A direção excepcional de Triet se manifesta em cada cena meticulosamente montada, escolha de ângulos de câmera perspicazes e no caráter imersivo da obra. A fotografia, com uma paleta de cores que evoca emoções e reflete o clima dramático do filme, é uma contribuição fundamental para a atmosfera única da narrativa.

O filme captura a atenção desde os momentos iniciais, quando acompanhamos a protagonista tentando dar uma entrevista interrompida pelo comportamento irritante do marido. A tragédia se desenrola quando o homem cai do segundo andar, transformando a narrativa em um quebra-cabeça complexo sobre a natureza do incidente – acidente, assassinato ou suicídio. As investigações policiais se entrelaçam ao luto familiar, expondo as feridas da vida privada do casal e alimentando o sensacionalismo midiático.

A viúva, naturalmente, se torna a principal suspeita, mas o filme desafia as expectativas, incitando o público a questionar continuamente se a morte de Samuel foi resultado de um crime, um ato deliberado ou simplesmente uma tragédia acidental. À medida que a narrativa se desenrola, novos indícios são apresentados, como um áudio revelando uma briga do casal no dia anterior ao acidente, intensificando a tensão e a incerteza.

Anatomia de Uma Queda transcende as convenções do gênero drama/suspense, assumindo a forma de um filme de tribunal peculiar. No entanto, ao contrário dos tradicionais filmes de tribunal, o foco permanece nos personagens, gerando empatia e conexão emocional entre o público e a trama. A busca pela verdade, centralizada nos personagens, mantém o espectador envolvido com o mistério, criando uma experiência cinematográfica que vai além do convencional.

Por que ver esse filme: Anatomia de Uma Queda não é apenas uma jornada cinematográfica; é uma provocação intelectual. O filme desafia o espectador a refletir sobre o desejo humano de obter certeza em meio à complexidade de uma investigação criminal. Com atuações marcantes, direção competente e uma narrativa instigante, a obra se destaca como uma contribuição significativa ao mundo do cinema, deixando uma impressão duradoura na memória daqueles que se aventuram em sua intricada trama. Aproveite que ele acabou de estrear no cinema e boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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