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Sentença: “Procuramos o repouso combatendo alguns obstáculos; e, quando são superados, o repouso torna-se insuportável.” – Blaise Pascal in Pensamentos, p.68.

O autor da controversa sentença de hoje é o célebre físico, matemático e filósofo do século XVII, Blaise Pascal. Nascido em Clermont-Ferrand, na França, a 19 de julho de 1623, Pascal mostrou-se desde cedo possuidor de um espírito extraordinário, não somente pelas repostas que dava aos difíceis assuntos, mas pela própria capacidade de levantar questões complexas a respeito da natureza e do sentido da vida humana.

Uma das questões levantadas por Pascal, sendo extensamente refletida no Artigo II: “Miséria do homem sem Deus”, de seu livro Penseés [Pensamentos], é sobre a paradoxal vivência do homem entre as inquietações e o idealizado repouso.   

Segundo o filósofo, o ser humano vive uma dinâmica entre se entristecer e sonhar. A triste inquietação humana reflete uma determinada ausência que sofremos. Isto é, somos inquietos porque somos carentes. Inquietos pela falta, nós sonhamos com a satisfação. Assim, idealizamos algo como a pecinha perfeita que faltava para encaixar no quadradinho escuro e triste da nossa vida e nos realizar. Dentre os ideias mais recorrentes dos seres humanos podemos citar as riquezas, relacionamentos perfeitos, beleza estética, prazer físico, senso de pertencimento, sucesso profissional etc.

Após a idealização, começamos a percorrer um longo e duro caminho até a realização. Nas palavras de Pascal, “Procuramos o repouso combatendo alguns obstáculos...”. Nessa luta contra os obstáculos muitos agem de acordo com aquele velho princípio maquiavélico de que os fins justificam os meios. Para serem ricos, roubam. Para terem relacionamentos perfeitos, mascaram e ocultam verdades. Para ter beleza estética, se mutilam. Para pertencerem a um grupo, se humilham. Para ter sucesso profissional, esquecem da família, dos amigos e do próprio Fornecedor da força para trabalhar.

Depois que os obstáculos “são superados...”, muitos homens ricos tornam-se viciados em cocaína e diamorfina. Os casais se consomem em adultério. As modelos e jovens garotas se cortam e caem em depressão. Os excluídos afogam as mágoas na embriaguez e alguns empreendedores até se suicidam. Como explicar que as pessoas que pensamos serem as mais felizes, sofrem terríveis inquietações internas, por exemplo, os astros de futebol, da música e do cinema? De algum modo, esse “superar obstáculos” não fez bem, e o tão sonhado “repouso” tornou-se, nas palavras de Pascal, “insuportável.”

 O grande objetivo de Pascal aqui (e que faz valer a leitura até o fim deste artigo) é fazer você se perguntar: por que os tais ideias realizados, o repouso sonhado, por fim, tornou-se em algo insuportável e decepcionante?

Permita-me lhe dar uma resposta cristã. É que aquilo que pensávamos ser o ideal, a peça perfeita, na verdade era mais uma ilusão. Colocamos no lugar exclusivo do Criador, as criaturas e criações (Rm 1:25). Segundo outro pensador cristão, as criaturas não nascem com desejos que não possam ser satisfeitos. Um bebezinho sente fome: existe alimento. Os filhotes de cisne gostam de nadar: existe água. Os seres humanos sentem desejo sexual: bem, existe o sexo.

 Mas, se eu encontro em mim àquela progressão: ausência → carência → inquietação → tristeza, sendo que nenhuma experiência deste mundo foi capaz de verdadeiramente quebrá-la, a melhor resposta é que essa dinâmica existencial tem seu remédio em algo de outro mundo.

Se nenhum dos sonhos que realizei nesta vida terrena foram capazes de sossegar minhas inquietações, não é porque a vida é uma mera desilusão cheia de melancolia, mas porque a cura perfeita é de uma outra natureza a qual eu não estou reconhecendo.

Como dito acima, o título do artigo de Pascal onde se encontra a sua sentença é: “Miséria do homem sem Deus”. Por isso, onde mais poderíamos identificar o nosso verdadeiro repouso para o coração se não na natureza imutável e transcendente do Senhor dos corações? Onde mais se não no Criador, que repara e extingue a ausência nas criaturas por meio da superabundância (Rm 5:20) da graça de Jesus Cristo?

Obra: PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo, SP. Editora Nova Cultura Ltda, 1999. (Coleção: Os Pensadores)

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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